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Luísa Granato
Publicado em 16 de junho de 2021 às 08h00.
Última atualização em 1 de julho de 2021 às 14h06.
As metas de diversidade e mudanças nos programa de estágio de empresas estão mostrando seus efeitos: segundo dados da Companhia de Estágios, a contratação de estudantes pretos e pardos aumentou 148% desde 2018.
Segundo o CEO e fundador da consultoria de recrutamento e seleção, Tiago Mavichian, os números mostram uma aceleração forte da mudança de perfil do estagiário. Para ele, os números são o efeito de uma mudança dentro das empresas.
“As empresas saíram de discursos para a prática atacando os principais itens que tiravam as pessoas negras das seleções”, explica ele.
Embora os requisitos para vagas de estágio tenham começado a mudar a partir de 2018, com algumas empresas experimentando retirar as exigências de inglês avançado, faculdades consideradas de “primeira linha” ou experiência prévia na área, o executivo aponta que o processo para realmente deixar de avaliá-las demorou mais.
No último ano, a Cia de Talentos também viu um aumento em seus programas de trainee e estágio com foco em diversidade: as contratações de jovens negros cresceram 118% em relação a 2019.
“O desemprego é maior entre jovens negros. Acredito que a alta gestão começou a receber esse dado e se conscientizar. E compraram a causa de verdade. Dois grandes pilares para conseguir uma real mudança é a conscientização interna e adotar uma nova mentalidade sobre as habilidades que busca”, diz ele.
A troca de mentalidade é não mais esperar um talento pronto, mas dar as ferramentas para que a pessoa com mais afinidade com a cultura da empresa cresça ali dentro.
A pesquisa da Cia de Estágios mostra que apenas 6% dos negros contratados em 2018 não tinha experiência prévia. Esse número cresceu e chegou a 18,8% em 2020.
Segundo dados do Manpowergroup, apenas 5% da força de trabalho brasileira tem proficiência no inglês. Assim, ao exigir um nível avançado ou fluente da língua, já é feito um recorte de quem teve recursos para avançar tão rápido no aprendizado.
A alternativa nos programas de estágio - e de trainee - é oferecer cursos de inglês para os contratados. É um dos benefícios oferecidos pela Bayer e pelo Magazine Luiza em seus programas de trainee para pessoas negras.
“Uma provocação que faço sempre é que você não pode trazer perfis distinto para os candidatos finais. Você não cumpre seu papel se traz para o gestor um candidato branco com inglês avançado e intercâmbio e um negro sem nada disso. Isso só vai reforçar o estereótipo. Você precisa trazer um equilíbrio”, fala o CEO.
Um programa somente com estudantes negros ajuda a derrubar qualquer perfil pré-fabricado e olhar para o potencial dos candidatos. Com as vagas abertas para o público geral, é preciso ter atenção para que a avaliação seja justa e igual.
Pela primeira vez na história, a Universidade de São Paulo teve neste ano a maioria dos ingressantes vindos da educação pública. Essa é uma das metas das políticas de cotas para a inclusão racial e socioeconômica no ensino superior público. Políticas como o Fies (Fundo de Financiamento Estudantil) e ProUni também tiveram efeito nas universidades privadas.
Segundo dados do IBGE de 2019, o número de alunos pretos e pardos matriculados em universidades públicas superou a taxa de estudantes brancos pela primeira vez, chegando a 50,3%.
“E a gente percebeu dentro da base de dados da empresa que quanto mais oportunidades de aprendizado, mais os candidatos negros se tornaram competitivos. Tecnicamente falando, todos competem de igual para igual”, fala o CEO.
Na última década, o perfil dos calouros mudou: em 2010, negros e indígenas eram 5%; hoje, são 25,2% dos entrantes. Hoje, a Unip (Universidade Paulista) é a que mais tem alunos negros. Em segundo lugar, a Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) tem a melhor representatividade entre as instituições públicas.
Ao longo desta quarta-feira, 16, a Exame vai realizar o evento Melhores do ESG - Especial Diversidade. A partir das 10h, teremos uma programação de debates com presença de empresas como Havaianas, Accenture, Magazine Luiza, SAP e EmpregueAfro.
No final da tarde, às 17h, serão premiadas as empresas com as melhores práticas de diversidade e inclusão nos mais diversos setores no Brasil. A inscrição e participação no evento é gratuita.