Para 37% dos conselheiros, o CEO é o grande líder durante a pandemia
Pesquisa exclusiva da Fundação Dom Cabral mostra as prioridades no alto comando das empresas diante da ameaça do coronavírus
Luísa Granato
Publicado em 30 de abril de 2020 às 15h00.
Última atualização em 30 de abril de 2020 às 15h00.
Com o impacto do coronavírus dentro das empresas, quem está tomando as grandes decisões para vencer a crise? Para 37% dos membros do conselho de administração das empresas, o CEO é o grande líder da gestão durante a pandemia.
Este é um dos resultados da pesquisa feita pela Fundação Dom Cabral, escola de negócios, sobre a dinâmica dos conselhos de empresas diante da ameaça do covid-19. A pesquisa for conduzida entre 30 de março e 2 de abril e recebeu 115 respostas.
Para o professor Dalton Sardenberg, que atua na área de Estratégia e Governança Corporativa da Fundação, a decisão sobre o comando durante a crise é vital.
“Só 5% disseram que o conselho assumiu a responsabilidade da gestão da crise. Ou 4% disseram que o presidente do conselho tomou para si. Então, apenas 9% tiveram uma atitude negativa que desqualifica a liderança. Se nessa hora o CEO não tem legitimidade para conduzir a organização, vemos como algo negativo”, comenta ele.
Em 30% dos casos, houve uma resposta compartilhada entre os poderes do presidente e do conselho. E 22% criaram uma nova instância com membros mistos do comitê e da diretoria, como um comitê de crise.
O professor também vê que a prioridades de temas debatidos nas reuniões é muito positiva, mostrando uma preocupação grande com a saúde e segurança dos colaboradores.
“Naturalmente, em primeiro lugar apareceu a proteção do caixa da empresa e liquidez. Afinal, a empresa precisa sobreviver e se manter minimamente saudável”, diz ele.
Na pesquisa, a saúde e segurança dos funcionários foi apontada por 56,2% como uma das grandes prioridades nas discussões. E mais de 50% disseram que a manutenção de empregos é prioridade.
As mudanças recentes na legislação trabalhista tomaram o tempo dos conselheiros: 72% afirmaram que elas são discutidas de maneira frequente.
“Os conselhos tendem a ter uma preocupação até exagerada com o lado financeiro, considerando o tempo que investem nessa avaliação em suas reuniões. Agora, vemos que estão verdadeiramente preocupados com seu ativo humano”, explica ele.
De acordo com os conselheiros, o modo de sobrevivência não foi a maior resposta para a crise. Enquanto 36% disseram que só discutem a agenda de ações imediatas, sem se importar com o pós-crise, 54% contaram que não perderam de vista os planejamentos de médio e longo prazo.
“É importante não abandonar o planejamento, mesmo sendo natural se concentrar no que acontece agora. A empresa precisa ter um sentido para o pós-crise, pensar em cenários possíveis e como vai reagir a cada um deles”, fala o professor.
Sobre a experiência de trabalho remoto, apenas 19% tinham experiência com reuniões online. Para a grande maioria o modo de trabalho digital é completamente novo.
Para 39%, o momento atual trará alterações no futuro das corporações após a pandemia. Porém, os conselheiros ainda preferem as reuniões presenciais a interações virtuais: 56% não se sentem confortáveis com a nova dinâmica.
“Na hora de decidir, eles preferem estar juntos e manter o olho a olho para negociar e convencer os outros”, comenta o professor.