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Os supersalários do pré-sal chegam a 400 mil reais por ano

A falta de mão de obra na indústria de óleo e gás eleva os salários dos níveis técnico e superior. Remuneração anual varia de 120 000 reais, para funções básicas, a 400 000 reais, para engenheiros

Craig White, engenheiro escocês: ele foi atraído pelas oportunidades e pelo bom salário nas empresas que exploram o pré-sal no Brasil (EXAME.com)
DR

Da Redação

Publicado em 20 de fevereiro de 2013 às 09h05.

São Paulo - O engenheiro elétrico carioca Gabriel Durante, de 34 anos, foi contratado por telefone, sem conhecer o futuro chefe, e a área de RH nem sequer tomou conhecimento de seu currículo. “Houve uma entrevista rápida e eles me chamaram de imediato. A empresa tinha urgência e não conseguia preencher a vaga”, diz. Gabriel é um profissional bem formado, estudou na Universidade Federal do Rio de Janeiro e tem um bom currículo, com passagem por empresas reconhecidas como a consultoria Accenture.

Na época sabia pouco sobre a indústria de óleo e gás. Essa situação se deu há sete anos. Gabriel continua na FMC Technologies, fabricante de equipamentos para exploração submarina de petróleo — que o contratou sem exigir experiência prévia. Desde que foi efetivado, ele viu seu salário se multiplicar por 12.

O caso dele não é exceção. Diante da falta de mão de obra qualificada, as companhias de óleo e gás estão tendo de segurar seus melhores profissionais pelo bolso.

Na OSX, empresa de Eike Batista especializada no suporte a operações em plataforma marítima, o salário de um soldador pode chegar a 12 000 reais. Já na Triunfo Logística, do ramo portuário, um operador de guindaste pode ganhar até 11 000 reais por mês. E, se no nível técnico os contracheques dão inveja, os de cargos de nível superior, que exigem inglês fluente e mais tempo de experiência no mercado, são ainda mais gordos.

Um engenheiro nas áreas de perfuração (drilling), poços (well) e comissioning (que envolve o acompanhamento da produção de equipamentos para empresas do setor) pode ganhar até 400 000 reais por ano. Se o trabalho for na costa, a possibilidade de ganho é ainda maior, graças aos adicionais por insalubridade, trabalho noturno e periculosidade.

Em média, os profissionais do setor ganham 30% a mais do que receberiam exercendo as mesmas funções em qualquer outra indústria. Isso acontece por causa da falta de mão de obra qualificada que assola o setor.

Segundo um levantamento do Programa de Mobilização da Indústria Nacional de Petróleo e Gás Natural, será necessário capacitar mais de 200 000 trabalhadores até 2016 para suprir a demanda das empresas de óleo e gás. “O gargalo está principalmente nas vagas que exigem de dez a 20 anos de experiência.


Falta bagagem aos candidatos ou falta o domínio de inglês, que é fundamental porque muitos chefes são estrangeiros”, diz Giovana Dantes, gerente de operação da NES Brasil, empresa especializada em recrutamento para a indústria de óleo e gás.

Aposentados e expatriados

Atualmente as companhias levam pelo menos três meses para preencher uma vaga aberta. “Acabamos por fazer manobras junto ao cliente para diminuir as exigências e fechar a contratação”, diz Giovana, da NES. Na falta de brasileiros com currículo para ocupar as posições abertas, as empresas têm recorrido aos estrangeiros. Além de mais experientes, eles podem passar o dobro do tempo offshore.

Pela legislação, os brasileiros podem ficar até 14 dias consecutivos na plataforma, ante o período de 28 dias permitido aos estrangeiros. O escocês Craig White, de 51 anos, veio ao Brasil atraído pelas oportunidades e pelo bom salário pago pela indústria. Com 30 anos de experiência no setor e passagem por diversos países, o engenheiro de subsea, como são chamados os profissionais que atuam nas estruturas submersas, trabalha em projetos da Shell, no Rio de Janeiro. Craig acredita que a demanda por gente para atuar no suporte à exploração submarina vai continuar alta. “São campos mais difíceis de explorar, por isso é necessário ter pessoas muito experientes”, afirma.

Importar profissionais está longe de ser uma solução para esse problema. Em primeiro lugar, porque as exigências legais para a mão de obra nacional limitam o número de estrangeiros que podem ser empregados em cada projeto. Em segundo lugar, porque a emissão de vistos de trabalho no Brasil é burocrática e os expatriados que ficam mais de seis meses no país passam a ter de pagar impostos sobre todos os seus ganhos, inclusive os que são pagos em seu país de origem, elevando os custos para a contratante.

De acordo com um estudo da consultoria Hays, 20% das empresas brasileiras trazem profissionais que já se aposentaram para reforçar seus quadros e driblar a escassez de mão de obra. “Algumas posições são mais difíceis de preencher, como petrofísicos, geofísicos ou engenheiros de reservatório, porque não é possível trazer esses profissionais de outros mercados. O conhecimento é muito específico”, diz Lívia Ceccon, consultora de óleo e gás da Hays.

Outro caminho que vem sendo adotado, segundo Fabio Porto d’Ave, gerente da divisão de engenharia óleo e gás da Robert Half, é a formação de grupos de trabalho que mesclam profissionais de nível sênior com outros mais jovens. “As empresas estão fazendo um trabalho de formação na base, mas ainda vai levar um tempo até que os resultados possam ser sentidos. Por enquanto, os profissionais mais experientes continuarão sendo demandados e sobrecarregados de trabalho”, afirma Fabio.

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São Paulo - O engenheiro elétrico carioca Gabriel Durante, de 34 anos, foi contratado por telefone, sem conhecer o futuro chefe, e a área de RH nem sequer tomou conhecimento de seu currículo. “Houve uma entrevista rápida e eles me chamaram de imediato. A empresa tinha urgência e não conseguia preencher a vaga”, diz. Gabriel é um profissional bem formado, estudou na Universidade Federal do Rio de Janeiro e tem um bom currículo, com passagem por empresas reconhecidas como a consultoria Accenture.

Na época sabia pouco sobre a indústria de óleo e gás. Essa situação se deu há sete anos. Gabriel continua na FMC Technologies, fabricante de equipamentos para exploração submarina de petróleo — que o contratou sem exigir experiência prévia. Desde que foi efetivado, ele viu seu salário se multiplicar por 12.

O caso dele não é exceção. Diante da falta de mão de obra qualificada, as companhias de óleo e gás estão tendo de segurar seus melhores profissionais pelo bolso.

Na OSX, empresa de Eike Batista especializada no suporte a operações em plataforma marítima, o salário de um soldador pode chegar a 12 000 reais. Já na Triunfo Logística, do ramo portuário, um operador de guindaste pode ganhar até 11 000 reais por mês. E, se no nível técnico os contracheques dão inveja, os de cargos de nível superior, que exigem inglês fluente e mais tempo de experiência no mercado, são ainda mais gordos.

Um engenheiro nas áreas de perfuração (drilling), poços (well) e comissioning (que envolve o acompanhamento da produção de equipamentos para empresas do setor) pode ganhar até 400 000 reais por ano. Se o trabalho for na costa, a possibilidade de ganho é ainda maior, graças aos adicionais por insalubridade, trabalho noturno e periculosidade.

Em média, os profissionais do setor ganham 30% a mais do que receberiam exercendo as mesmas funções em qualquer outra indústria. Isso acontece por causa da falta de mão de obra qualificada que assola o setor.

Segundo um levantamento do Programa de Mobilização da Indústria Nacional de Petróleo e Gás Natural, será necessário capacitar mais de 200 000 trabalhadores até 2016 para suprir a demanda das empresas de óleo e gás. “O gargalo está principalmente nas vagas que exigem de dez a 20 anos de experiência.


Falta bagagem aos candidatos ou falta o domínio de inglês, que é fundamental porque muitos chefes são estrangeiros”, diz Giovana Dantes, gerente de operação da NES Brasil, empresa especializada em recrutamento para a indústria de óleo e gás.

Aposentados e expatriados

Atualmente as companhias levam pelo menos três meses para preencher uma vaga aberta. “Acabamos por fazer manobras junto ao cliente para diminuir as exigências e fechar a contratação”, diz Giovana, da NES. Na falta de brasileiros com currículo para ocupar as posições abertas, as empresas têm recorrido aos estrangeiros. Além de mais experientes, eles podem passar o dobro do tempo offshore.

Pela legislação, os brasileiros podem ficar até 14 dias consecutivos na plataforma, ante o período de 28 dias permitido aos estrangeiros. O escocês Craig White, de 51 anos, veio ao Brasil atraído pelas oportunidades e pelo bom salário pago pela indústria. Com 30 anos de experiência no setor e passagem por diversos países, o engenheiro de subsea, como são chamados os profissionais que atuam nas estruturas submersas, trabalha em projetos da Shell, no Rio de Janeiro. Craig acredita que a demanda por gente para atuar no suporte à exploração submarina vai continuar alta. “São campos mais difíceis de explorar, por isso é necessário ter pessoas muito experientes”, afirma.

Importar profissionais está longe de ser uma solução para esse problema. Em primeiro lugar, porque as exigências legais para a mão de obra nacional limitam o número de estrangeiros que podem ser empregados em cada projeto. Em segundo lugar, porque a emissão de vistos de trabalho no Brasil é burocrática e os expatriados que ficam mais de seis meses no país passam a ter de pagar impostos sobre todos os seus ganhos, inclusive os que são pagos em seu país de origem, elevando os custos para a contratante.

De acordo com um estudo da consultoria Hays, 20% das empresas brasileiras trazem profissionais que já se aposentaram para reforçar seus quadros e driblar a escassez de mão de obra. “Algumas posições são mais difíceis de preencher, como petrofísicos, geofísicos ou engenheiros de reservatório, porque não é possível trazer esses profissionais de outros mercados. O conhecimento é muito específico”, diz Lívia Ceccon, consultora de óleo e gás da Hays.

Outro caminho que vem sendo adotado, segundo Fabio Porto d’Ave, gerente da divisão de engenharia óleo e gás da Robert Half, é a formação de grupos de trabalho que mesclam profissionais de nível sênior com outros mais jovens. “As empresas estão fazendo um trabalho de formação na base, mas ainda vai levar um tempo até que os resultados possam ser sentidos. Por enquanto, os profissionais mais experientes continuarão sendo demandados e sobrecarregados de trabalho”, afirma Fabio.

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