Carreira

Oportunidades abertas aos 45 anos

Nessa etapa da vida, o peso da responsabilidade é bem maior. Porém, com a chegada dos 40 vem o desejo de grandes rupturas. A boa notícia: o mercado de trabalho está mais receptivo aos quarentões

Pablo Aversa: “Depois de oito anos num ambiente de extrema pressão, percebi que estava na hora de fazer uma reflexão antes de decidir.”  (Marcelo Spatafora / VOCÊ S/A)

Pablo Aversa: “Depois de oito anos num ambiente de extrema pressão, percebi que estava na hora de fazer uma reflexão antes de decidir.” (Marcelo Spatafora / VOCÊ S/A)

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Da Redação

Publicado em 3 de abril de 2013 às 22h00.

São Paulo - Jogar tudo para o alto e recomeçar em outra área pode significar um grande risco para quem já soprou as 40 velinhas. A essa altura da vida, as responsabilidades são maiores. Os filhos ainda estão na escola ou na faculdade e as despesas consomem uma boa fatia do salário.

No entanto, é exatamente com a chegada da chamada crise dos 40 que vem o desejo de promover grandes rupturas e dar uma virada na carreira. Uma pesquisa recente da DBM, empresa de recolocação de executivos de São Paulo, aponta que profissionais entre 40 e 50 anos são os que mais desejam mudar.

O fenômeno, mostra o estudo, ganhou força nos últimos dois anos com o bom momento econômico do Brasil. As oportunidades de trabalho aumentaram e o mercado está mais receptivo aos quarentões. “Quem está estagnado ou infeliz naquilo que faz começa a enxergar um horizonte de opções pela frente diante do cenário aquecido”, diz Claudio Garcia, presidente da DBM. 

Porém, antes de trocar de área, é fundamental fazer a lição de casa,  que consiste em planejar bem a mudança. Quando? “Quanto mais cedo, melhor”, diz o consultor Julio Sérgio Cardozo, de São Paulo.

Pelo menos um ano antes de fazer o movimento. “Quando a pessoa descobre que está na hora de mudar, precisa saber analisar a próxima escolha muito bem”, diz. Conversar com um coach ou mentor ajuda a refletir na busca de algo que realmente goste e esteja alinhado ao seu propósito de vida.

O grande erro é pensar única e exclusivamente no retorno financeiro. Também é prudente evitar mudanças radicais e não investir em uma atividade absolutamente diferente de tudo que você já tenha feito. “Nesse caso, o profissional terá de dar vários passos para trás, ganhar menos, esperar um certo tempo até conseguir ser reconhecido no novo mercado”, diz Julio. 


Sem mencionar a competição daqueles que já ocupam um lugar a que você aspira.

Embora o cenário atual contribua para encorajar os quarentões a experimentar outra área ou carreira, ainda é significativo o número de pessoas que só mergulham de cabeça num novo projeto de trabalho quando são demitidas. Deixar para arriscar no momento de uma demissão é o mesmo que deixar para definir a final do campeonato aos 45 minutos do segundo tempo.

É importante enxergar os sinais de que os ciclos de carreira têm prazo de validade. “Mudanças serão uma constante”, diz Anderson Sant’Anna, professor da Fundação Dom Cabral, de Minas Gerais. Para ele, as pessoas não terão mais uma carreira apenas, mas várias ao mesmo tempo, inclusive na mesma empresa. Estar preparado para essa realidade de constantes transformações ajudará aqueles que pensam em se aventurar por diferentes caminhos.

“Como não dá para alçar voos às cegas, vale a pena ir traçando um plano B”, diz o professor. Uma pesquisa realizada pela Dom Cabral aponta que muitos executivos entre 40 e 45 anos decidiram fazer mestrado em gestão visando a uma transição para a área acadêmica. Uma mudança que, quando bem realizada, traz benefícios para o profissional e para a academia, que ganha um funcionário experiente e com visão de mercado. 

Grande parte dos profissionais acima dos 40 sonha em abrir o próprio negócio — uma transição radical de funcionário para patrão. De acordo com a coach Vicky Bloch, entrar numa seara desconhecida sem fazer uma pesquisa prévia e mais profunda sobre o mercado é um tiro no escuro.

“Liberdade não tem preço”

Ao sair do Walmart em janeiro de 2008, Pablo Aversa, de 44 anos, que até então ocupava a cadeira de vice-presidente, tinha dúvidas se queria continuar no mundo corporativo. “Depois de oito anos num ambiente de extrema pressão, percebi que estava na hora de fazer uma reflexão antes de decidir.” 


Pablo vinha se sentindo insatisfeito, sem saber ao certo o porquê. “Tem horas em que você se olha no espelho e não gosta da pessoa na qual você está se transformando.” Pegou a mulher, fez as malas e partiu para a Ásia, numa viagem de seis meses. “A experiência foi um ponto de ruptura em relação às coisas que eu considerava absolutas e imutáveis.”

De volta ao Brasil, Pablo se submeteu a sessões de coaching. Nelas, redescobriu o interesse pela psicologia e se interessou pelo trabalho de coach. Fez as certificações necessárias e lá foi Pablo ser dono do próprio nariz. Hoje se considera feliz com a escolha, principalmente por ter uma agenda flexível. “Autonomia e liberdade não têm preço.” 

As oportunidades existem e estão aí, mas, para evitar dor de cabeça, recomenda-se avaliar também as competências individuais e como você lidou com situações adversas. Assim é possível decidir se tem aptidão para ser seu próprio patrão. Fazer um bom pé-de-meia para segurar as pontas durante a fase de transição é um aspecto que deve ser levado em consideração. 

Quem quer dar adeus ao emprego que não lhe agrada e apostar as fichas no sonho precisa ter uma poupança generosa. De nada adianta achar que vai pegar aquele dinheirinho contado e resolver a questão. “Muita gente não formou patrimônio suficiente para fazer a mudança e decide pôr em risco a carreira. Errar nessa fase da vida não dá”, diz Vicky. 

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