Onde a retomada do emprego já começou segundo o CEO do PageGroup
Gil van Delft, executivo holandês que comanda o PageGroup no Brasil, já vê uma reação positiva no mercado e fala também sobre o trabalho temporário
Camila Pati
Publicado em 29 de junho de 2017 às 06h00.
Última atualização em 29 de junho de 2017 às 15h19.
São Paulo – A retomada no mercado de trabalho já começou no setor de infraestrutura, mais especificamente, na área de energia. A avaliação foi feita durante de entrevista exclusiva a EXAME.com concedida por Gil van Delft, executivo holandês que comanda o PageGroup no Brasil.
Ainda na área de infraestrutura, leilões de aeroportos, portos e ferroviais, também trazem novos empregos e, segundo van Delft, em todos os níveis: da operação à liderança.
A leis da terceirização e do trabalho temporário e a possível aprovação das reformas que tramitam no Congresso, sobretudo a trabalhista, também resultarão em mais empregos para os brasileiros.
Aos que profetizam o fim das vagas efetivas com a ampliação irrestrita de oportunidades temporárias por projetos ele rebate com discurso menos definitivo com base no que já acontece em outros países: “a gente tem leis muito flexíveis em países Europa e continuam tendo vagas efetivas e vagas temporárias.”
A seguir, confira trechos da conversa:
EXAME.com: Há carreiras que são sempre promissoras, na crise ou fora dela?
Gil van Delft: No mercado de trabalho tem algumas áreas que estão sempre aquecidas. Nos últimos dois ou três anos, a demanda não mudou tanto na área de tecnologia da informação e na área digital, que é uma área nova. A área jurídica, mesmo na crise ou quando a economia vai bem, sempre tem demanda.
E temos perfis específicos para os quais sempre há dificuldade de encontrar como, por exemplo, o contador com inglês fluente ou uma pessoa da área tributária com inglês fluente. As empresas sempre têm dificuldade de encontrar esses profissionais, na crise ou não porque tem pouca gente preparada no mercado brasileiro. Ainda tem um gap entre o que o mundo acadêmico prepara para o mercado e o que o mercado de trabalho precisa. Esse gap você só fecha com a experiência de carreira.
Há setores em que já se sente a retomada?
Quando se fala de retomada por setor a gente sente muito forte na área de infraestrutura. A infraestrutura é uma área no Brasil, com todos os leilões de aeroporto, de portos, de ferrovias decorrentes da privatização do mercado, que vai puxar muito o emprego.
Que tipo de profissional vai ser mais buscado?
De todos os níveis. Para operar um porto ou aeroporto de forma mais profissional, vão buscar pessoas qualificadas e com mais bagagem para aumentar a produtividade do porto ou do aeroporto. Então, você tem pessoas procuradas desde a parte de operações e de tecnologia, em busca de eficiência e produtividade nos processos, até nível de média e alta gerência para fazer a gestão.
Essa retomada no setor de infraestrutura já começou em que mercado, mais especificamente?
No mercado de energia, principalmente, já faz uns seis meses que a gente sente uma demanda forte. Mas há um dificultador: qualquer mercado regulado no Brasil requer profissionais que tenham experiência nessa área e aí de novo há tem o gap entre o número de pessoas preparadas e a demanda.
Que outros setores já melhoraram?
Além de infraestrutura a gente já sente uma retomada no mercado de varejo. Não somente o varejo digitalizado que a gente chama de e-commerce que cresceu muito nos últimos dois anos no Brasil, mas também para lojas físicas.
A gente vê muita varejista com loja física que busca produtividade e desempenho melhores nas lojas e está tentando dar um upgrade no perfil do seu vendedor ou do seu gerente de loja. Não somente tem emprego novo, mas às vezes tem busca por profissionais melhores nas vagas que já tem.
E saúde é uma necessidade básica das pessoas e tem muito investimento vindo de fora ou de fundos no Brasil que investem no médio e longo prazo para ter retorno nesse mercado, principalmente de hospitais e clínicas. Tem fundos de investimento de fora com projetos para hospitais no Brasil enquanto também tem a consolidação dos mercados de grandes hospitais e redes. Também tem uma forte expansão das clínicas no Brasil. A gente recruta para as áreas técnicas até nível de alta gestão nessas redes.
O agronegócio que vai puxar o PIB e vai puxar a retomada, com o crescimento da Índia, o agronegócio vai ter que alimentar esse enriquecimento dos indianos. A bola da vez é a Índia, eles estão crescendo muito forte e vamos ter que alimentá-los.
A Sofia Esteves, do Grupo DMRH, fala que em breve não haverá mais vagas nas empresas e sim propostas interessantes para projetos. No Page Group, há uma divisão que recruta para projetos temporários. Você concorda com ela?
A Page Interim é a nossa divisão que toca projetos temporários, ou de prazo determinado. Na minha visão vamos continuar tendo vagas no mercado. A gente tem leis muito flexíveis na Europa e você continua tendo vagas efetivas e vagas temporárias.
As empresa vão ter que fazer um mapa das suas atividades. E ver como que elas podem se beneficiar dessas novas leis. Onde podem economizar custo, equilibrar melhor força de empregados versus necessidades e aumentar a produtividade . Com esse mapeamento, as empresas vão se mexer e vai criar vaga temporária, para projetos temporários e vai continuar tendo vagas efetivas em algumas áreas, sim, precisa ter pessoas efetivas.
Em que medida esse trabalho por projeto já é uma realidade?
Já tem empresas no mercado que trabalham assim, principalmente empresas americanas, e europeias trabalhando assim dentro das leis que permitem e agora poderão se tornar ainda mais flexíveis. Acho que na Europa e nos Estados Unidos, você tem carreiristas profissionais, e carreiristas temporários que não querem trabalhar efetivo.
Hoje pelas novas gerações que querem menos comprometimento e querem trabalhar por projeto com curta duração e retorno rápido para si ou para companhia, eu acho que a lei favorece essa geração. Acho que o mercado vai se tornar mais flexível com corridas curtas, mas com produtividade alta, e alta cobrança aos profissionais também. O mercado de trabalho por projeto temporário não somente é um trabalho temporários, tem início, meio e fim dentro de projeto de 6 a 9 meses onde a pessoa tem que produzir muito no curto prazo e é mensurado pelo resultado também.
Qual a diferença entre carreiristas efetivos e temporários?
Sou holandês e a gente brinca na Holanda –um país com mercado de trabalho muito flexível - que para um profissional temporário que tenha experiência na área em que o projeto está inserido você só precisa explicar onde é o banheiro e onde tem a cafeteira. O resto ele se vira a partir do primeiro momento em que chega na empresa. O profissional pisa na empresa e tem que ser produtivo até o dia em que ele vai embora.
Normalmente quando você contrata uma pessoa efetiva, ela tem um período de adaptação de um ou dois meses. No mercado temporário isso não pode, tem que ser produtiva já na segunda-feira às 8 horas da manhã.
O que muda na hora de recrutar esses profissionais temporários?
O que muda nesse mercado de candidatos é que você acaba contratando a pessoa para projetos temporários que são um pouco mais experientes do que você contrataria se fosse uma vaga efetiva, porque ao efetivo você dá esse tempo de adaptação e do temporário é esperado retorno no primeiro dia.
A reforma trabalhista, caso aprovada, e a lei do trabalho temporário e da terceirização vão demandar ajustes de planejamento de carreira?
Essas mudanças criam muitas oportunidades paras pessoas se recolocarem no mercado porque as empresas terão mais facilidade de contratar pessoas como temporário, por exemplo, para cobrir uma demanda extra, uma demanda sazonal. Não acho que necessita uma mudança radical de planejamento agora, porque as empresas também têm que se adaptar a isso.
E em relação aos recrutadores, o que deve acontecer nos próximos anos em consequências dessas mudanças?
O que pode acontecer e eu espero que isso aconteça é o mercado seja profissional e as empresas vão olhar com um olhar mais positivo para a possibilidade de trabalhar temporariamente na sua carreira, como é fora do Brasil. É muito bem visto lá fora porque a pessoa tem mais experiências em empresas com sistemas e culturas e situações diferentes do que teria se ficasse 10 anos na mesma companhia. Em vez de trabalhar 10 anos na mesma empresa você vai ter trabalhado em 10 empresas em 10 anos. Acho que enriquece muito a experiência só que o mercado vai ter que saber lidar com essa experiência e isso é uma adaptação que vai acontecer nos próximos anos.