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O segredo do executivo brasileiro que prosperou como CEO e fez história nas Paralimpíadas de Inverno

Após sofrer um grave acidente, André Cintra presidiu a Amend Cosméticos e se tornou o primeiro brasileiro a representar o Brasil no snowboard

André Cintra, atual conselheiro da Amend Cosméticos e ex-atleta paralímpico de snowboard: “Tanto o esporte quanto o corporativo são profissões que exigem autoperformance” (André Cintra / Redes Sociais/Reprodução)

André Cintra, atual conselheiro da Amend Cosméticos e ex-atleta paralímpico de snowboard: “Tanto o esporte quanto o corporativo são profissões que exigem autoperformance” (André Cintra / Redes Sociais/Reprodução)

Publicado em 13 de julho de 2024 às 08h30.

Última atualização em 13 de julho de 2024 às 12h22.

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Esporte aquático sempre foi a paixão de André Cintra, morador de Santos que aos 17 anos perdeu uma perna em um acidente de moto. Na época, como auxiliar administrativo de uma loja, Cintra teve que produzir suas próprias próteses para poder praticar os esportes que tanto amava, como esqui aquático, wakeboard e o kitesurf.

Mas não foi no mundo do esporte que Cintra se destacou inicialmente, o mundo corporativo o chamou muito cedo. Aos 22 anos, ele teve a missão assumir a presidência da Amend Cosméticos, empresa brasileira de produtos de beleza criada em 1994. “A companhia era da família e acabei assumindo como CEO depois que meu pai faleceu em 2002”, afirma o executivo que hoje faz parte do conselho.

Sob gestão de Cintra a companhia que era bem pequena se expandiu e conseguiu atingir novos mercados e categorias de produtos. Atualmente, conta com cerca de 500 funcionários e mais de 30 mil pontos de vendas, entre lojas especializadas, e-commerce e farmácias. “A expectativa deste ano é de crescer 12% em faturamento e pretendemos alcançar novos países, além dos 15 que já atuamos. Queremos fortalecer ainda mais essa parte de exportação”.

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Sem limites para o esporte

Não bastava o desafio de controlar uma empresa, Cintra ainda queria se desafiar no esporte – e no mar. “Quando eu fui fazer as primeiras aulas de kitesurf, as pessoas das escolas mesmo admirando a minha força de vontade, diziam que eu não iria conseguir. E o que eu fiz? Comprei um kitesurf e comecei a andar.”

O kitesurf foi o esporte que mudou a sua história. “Consegui fazer as travessias de longa distância e logo depois, em 2008, me interessei pelo snowboard, esporte que me tornou um atleta paralímpico”.

O caminho para Cintra se tornar um atleta profissional não foi nada convencional: não aprendeu o esporte desde criança e não passou por diferentes campeonatos como o regional, estadual e nacional – o convite chegou direto do Comitê Paralímpico.

Em 2012, o CBDN (Comitê de Neve do Brasil) em parceria com o Comitê Paralímpico, convidou Cintra para uma prova de teste de snowboard. “Eles queriam saber se eu tinha condições para participar de um projeto que tinha como objetivo classificar um atleta brasileiro após duas Olimpíadas, mas acabei conseguindo passar no mundial daquele ano aos 32 anos”.

Além da medalha de bronze no Mundial de Aspen, Cintra disputou as Olimpíadas de 2014 e de 2018, conquistando o 10 º lugar nos dois campeonatos. “Para um brasileiro, foi um grande resultado, afinal eu era um dos poucos atletas que não tinham neve no quintal de casa.”

“Mountain office”: as lições do executivo da montanha

Para realizar os treinos, Cintra ficava meses fora do Brasil, treinando e trabalhando de alguma montanha dos EUA, Canadá, Chile ou Suíça – regime que Cintra chamou de “mountain office”. “Nos períodos que eu precisava praticar o snowboard em diferentes países, eu cuidava da empresa de forma online, mas foi um processo muito solitário.”

Como atleta e empresário, Cintra aprendeu lições que ele leva hoje para todas as áreas da sua vida. Como executivo trabalhando em países frios, ele viu, por exemplo, o quanto o planejamento é importante para alcançar o sucesso. “Nos países que são frios, se as pessoas não se planejassem lá atrás elas morriam de fome. Planejamento é uma questão cultural que falta muito aqui no Brasil.”

Já a vida de atleta traz a resiliência como o principal aprendizado. “Um atleta para chegar no nível olímpico tem que ser muito persistente, tem que realmente cair e levantar milhares de vezes. Passei por muitas situações como atleta que me fizeram mais forte, como quebrar a prótese no meio da montanha várias vezes, passar frio, passar fome, além de passar por extremos emocionais”, diz. “Aprendi com a vida de atleta a ter autocontrole, determinação e foco, que são qualidades que trouxe para o mundo empreendedor, porque tanto o esporte quanto o corporativo são profissões que exigem autoperformance.”

O conselho para atletas paraolímpicos

Cintra ainda tem o snowboard como esporte, mas não pretende competir novamente para as próximas Olimpíadas. “Tem que passar muito tempo fora e sozinho. O processo de solidão na montanha é um processo muito difícil”.

Para as pessoas com deficiência que amam algum esporte e buscam subir no pódio paralímpico um dia, Cintra aconselha apostar na saúde mental, além do físico. “As dificuldades são mais mentais do que físicas. Se eu não tivesse quebrado essa barreira interna em minha mente, eu jamais teria conseguido me tornar nem um snowboarder, nem um kitesurfer. Se realmente você quer fazer um esporte, acredite, é possível.”

O Brasil já conquistou 373 medalhas (109 de ouro, 132 de prata e 132 de bronze) em Jogos Paralímpicos, ou seja, está a 27 do seu 400º pódio no evento, segundo o Comitê Paralímpico Brasileiro. Entre esses pódios, em cinco modalidades o Brasil se destacou ao longo da história da competição: 170 medalhas foram do atletismo, 125 da natação, 25 do judô, 11 da bocha e oito do tênis de mesa.

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