O que você nunca deve falar numa conversa difícil no trabalho
Se há necessidade de preparação emocional para enfrentar uma conversa, tenha a certeza de que você está no território das conversas difíceis
Camila Pati
Publicado em 11 de dezembro de 2016 às 06h00.
Última atualização em 11 de dezembro de 2016 às 06h00.
São Paulo – Toda conversa em que há divergência entre pontos de vista, percepção de que há algo em jogo e que seja terreno fértil para que emoções aflorem é, por definição, uma conversa difícil.
A demarcação dos aspectos que complicam o diálogo parte dos autores do livro Crucial Conversations (Editora McGraw-Hill Education) e, segundo a coach executiva Eva Hirsch Pontes, pode ser resumida em: percepção de ameaça.
“Reações emocionais, normalmente, surgem como resposta a sensações de recompensa ou de ameaça. É assim que nosso cérebro funciona. Nesse caso, a pessoa se sente potencialmente ameaçada”, diz a especialista.
A dificuldade do diálogo resulta de comportamentos que as pessoas geralmente têm em situações de ameaça: fuga, luta ou congelamento. “ São atitudes nocivas para fazer o tema da conversa avançar e, consequentemente, são prejudiciais para o relacionamento”, diz Eva.
São vários os tipos de situações que estão acontecendo nesse momento e em que a comunicação é um grande desafio. Feedback negativo na avaliação anual de desempenho, a escolha de um profissional para promoção em detrimento de outros, anúncio de mudanças estratégicas ou operacionais, a definição de bônus de fim de ano diferentes para as pessoas da equipe.
“O feedback com o objetivo de corrigir um comportamento é o exemplo mais típico e acontece o ano todo”, diz Eva. A complexidade aumenta ainda mais quando o funcionário é pego de surpresa: acha que está indo bem mas na verdade vai descobrir que não está.
Se há necessidade de preparação emocional para enfrentar uma conversa, tenha a certeza de que você está no território das conversas difíceis, afirma Fernanda Macedo, especialista do Grupo Bridge.
Em sua opinião, o que há de pior a se fazer em uma conversa difícil é sair despejando as coisas e não medir o impacto das palavras. “Sou contra o tal do ‘pronto falei’. Não acho que isso seja transformador”, diz Fernanda.
A última coisa que se deve fazer, segundo Eva, é colocar o outro no lugar do errado. “Essa conversa de ‘eu estou certo e você errado’ não vai a lugar nenhum, só provoca ainda mais desgaste e funcionamento em modo de proteção. A saída é construir uma terceira via”, diz. Acima de tudo, não fique em posição de crítica, recomenda a coach executiva.
O melhor jeito de encarar uma conversa difícil
O primeiro passo é entender que apesar de tanto avanço tecnológico, nosso cérebro continua funcionando de modo bastante parecido com o que ocorria em eras primitivas: percepção ameaça versus percepção de recompensa e entrada em modo de sobrevivência quando ameaçado.
“Costumo dizer que em termos de ‘hardware’, o nosso cérebro não mudou muito da época em que tínhamos que fugir de leões. O que mudou foi o estímulo ameaçador, ou seja, o leão”, diz a especialista.
Conversas difíceis são os “leões” que temos que enfrentar hoje. Sob essa lógica fica mais fácil entender que todos estamos sujeitos a nos sentir ameaçados e, no momento em que isso acontece, entramos em modo de proteção.
É justamente a entrada em modo de proteção - a maneira defensiva que resulta em fuga, luta ou congelamento – que se deve evitar, segundo as especialistas consultadas.
“Pense antes no que você espera dessa conversa”, recomenda Fernanda. Para ela, antes de começar uma conversa difícil é preciso ter bem clara a transformação pretendida.
Eva indica a adaptação da técnica do contraste, indicada para mal-entendidos e que é apresentada no livro Crucial Conversations. Por meio dela, a pessoa imagina, de antemão, quais são as conclusões erradas que o interlocutor pode ter para, imediatamente, estar apto a explicar que aquilo não é a sua intenção e, em seguida, revelar um ponto de vista contrastante, explicando que é o que ele quer dizer.
“Sugiro expandir o uso dessa técnica para se preparar para uma conversa difícil, pensando no que você quer e no que não quer que aconteça”, diz. No momento em que perceber que
a conversa está indo em direção ao que você não quer que aconteça, diga que não é essa a intenção e explique, francamente, seu objetivo.
Por fim, esteja aberto a surpresas, afinal não se trata de monólogo. “Tenha consciência de que vai lidar com o inesperado porque é impossível se preparar totalmente para um diálogo”, diz Fernanda.
A preparação, lembra Eva, é uma trilha para a conversa e, não, um trilho. Não se esqueça de escutar com atenção o que o outro diz, ao invés de ficar só esperando a sua vez de falar.