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O que cobrar de um MBA

Escolas de negócios deveriam reformular o currículo e incluir experiências práticas e reflexão pessoal entre suas disciplinas, diz Srikant M. Datar, professor de Harvard

Universidade de Harvard (Kris Snibe/Harvard)
DR

Da Redação

Publicado em 13 de outubro de 2014 às 12h14.

São Paulo - Em 2008, Srikant M. Datar, professor da escola de negócios de Harvard , começou a investigar ao lado de dois pesquisadores o desempenho de MBAs americanos. Chegaram à conclusão de que o ensino ia bem do ponto de vista acadêmico, mas deixava a desejar quando o assunto era a prática da gestão, que deveria ser o objetivo mais importante de quem procura um MBA .

“Os alunos entram no curso para pegar o diploma e fazer networking”, diz Srikant, cujo estudo resultou no livro Rethinking the MBA — Business Education at a Crossroads (“Repensando o MBA — ensino de negócios em uma encruzilhada”, inédito no Brasil). Na entrevista a seguir, ele explica o que seria necessário fazer para que os MBAs voltassem a ter valor e o que os alunos deveriam cobrar ao contratar um curso.

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VOCÊ S/A - Por que o senhor afirma que os programas de MBA se encontram em uma encruzilhada?

M. Datar - Ao investigar as escolas de negócios, percebemos que elas precisam se reinventar. O rigor acadêmico, ao longo do tempo, fez com que os cursos ficassem distantes da prática. Qual seria o benefício de estudar por até dois anos coisas pouco importantes no dia a dia? As escolas estão perdendo relevância, e essa é a encruzilhada.

VOCÊ S/A - O senhor também questiona o interesse dos estudantes de MBA de hoje em aprender.

M. Datar - Um dos principais problemas que identificamos é a falta de engajamento dos alunos. O livro documenta o que aprendemos sobre o porquê de os alunos não estarem envolvidos. Muitos dos entrevistados pensavam que o benefício do MBA era o networking ou o certificado, em vez de construção de competências.

Na outra ponta, as empresas, ao perceber que as melhores escolas atraem profissionais excelentes, não esperam a conclusão do curso para fazer ofertas de emprego. Antigamente, a empresa aguardava o fim do curso para ver o que o sujeito havia aprendido, e só aí oferecia um cargo. Quando o aluno sabe que tem emprego garantido apenas por estar no programa, o interesse em aprender cai.

VOCÊ S/A - Os profissionais estão mais preocupados em obter o certificado do curso do que com a qualidade do conteúdo ao qual terão acesso?

M. Datar - Os alunos que entram em um programa de primeira linha têm no próprio sistema de aprovação um excelente indicador de competência e de qualidade pessoal. Independentemente de o programa entregar um bom conteúdo, já se sabe de partida que o aluno é bom.

Mas, no fim das contas, não acredito que certificado e networking, sozinhos, dão conta do recado. Podem funcionar quando faltam talentos, mas isso não vai durar se o preço dos MBAs seguir aumentando e o valor do curso para o aluno não aumentar também.

VOCÊ S/A - O que os profissionais deveriam cobrar das escolas?

M. Datar - As escolas de negócios deveriam transformar os componentes “saber”, “fazer” e “ser” de seus currículos. O componente “saber” significa que a gestão é uma profissão, então há um conjunto de saberes que todo profissional deve dominar. Estão incluídos aí marketing, custo do capital, contabilidade, gestão de recursos humanos ou de operações, entre outras áreas de uma empresa.

Mas, apesar da importância desse componente “saber”, há uma distância entre a teo­ria e o conhecimento empregado no momento de tomar decisões diárias. As escolhas práticas são contingenciais, complexas e dependentes de contexto. Os MBAs devem investir muito mais em fazer com que seus alunos fiquem à vontade dentro desse intervalo entre saber e praticar. Algumas escolas, como Stanford, nos Estados Unidos, e a canadense Rotman, têm iniciativas nesse sentido.

VOCÊ S/A - Como incluir o “fazer” no ensino?

M. Datar - As técnicas e as capacidades que estão no centro do “fazer” não estão sendo ensinadas. Por exemplo, aprende-se marketing, mas a maioria dos alunos nunca vendeu nada. Por que não fazer com que eles vendam algo para que realmente entendam os detalhes de uma negociação? Também se fala que os alunos devem chefiar pequenas equipes para amadurecer como líderes. Mas eles não são treinados para dar feedback no curso.

VOCÊ S/A - O que os profissionais precisam aprender no conjunto de habilidades que o senhor chama de “ser”?

M. Datar - Ele está relacionado com o fato de que, ao contrário de formações como medicina, arquitetura ou direito, a administração não é uma atividade individual. O trabalho não se resume à relação entre o médico e o paciente ou entre o arquiteto e o cliente. Gestão é uma atividade de equipe.

Como líder, você precisa investir em todos à sua volta, ser capaz de inspirá-los, motivá-los e viver de acordo com um conjunto de valores. Se os cursos de MBA querem formar pessoas que possam impactar a sociedade, precisam melhorar no que diz respeito às habilidades de “ser”.

VOCÊ S/A - Como o senhor vê os MBAs na América Latina?

M. Datar - Estou terminando de escrever um livro sobre a reformulação do ensino de negócios na América Latina. Há questões específicas do contexto regional, como as que envolvem empresas de pequeno e médio porte e a necessidade de construir habilidades de empreendedorismo e de execução. Mas as conclusões são as mesmas, com algumas nuances.

VOCÊ S/A - Qual é o papel das novas tecnologias nesse processo de reformulação?

M. Datar - Há boas iniciativas; por exemplo, os cursos abertos online, como Coursera e EDX. Mas os recursos digitais não responderão sozinhos pelo ensino. Na América Latina, onde há escassez de professores, talvez a tecnologia seja uma solução para levar os melhores docentes a muitos alunos.

Os cursos abertos ainda não cumprem esse papel. Muitas pessoas­ se matriculam, mas poucas terminam. Mesmo se o engajamento melhorasse, como incluir habilidades adquiridas com a prática?

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