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Como é a vida dos expatriados brasileiros na China

A China continua atraindo profissionais brasileiros que vão para lá em busca de oportunidades e crescimento na carreira

Jeferson Machado, 26 anos, da Volvo, em Pequim: "Antes de se mudar para cá, tente fazer uma visita, até mesmo para perceber o clima. E procure pessoas que possam ajudá-lo com informações práticas para o dia a dia, como conseguir um telefone." (VOCÊ S/A)
DR

Da Redação

Publicado em 19 de março de 2013 às 12h59.

Pequim - A China é o país de adaptação mais difícil para quem é transferido a trabalho. A informação é do relatório global publicado em junho pela Brookfield, multinacional que assessora empresas e governos que têm de montar escritórios e deslocar profissionais para trabalhar no exterior.

A cultura, a língua, as leis e os códigos sociais são ininteligíveis até mesmo para profissionais japoneses e coreanos, vizinhos do gigante asiático. Todos os meses milhares de expatriados, funcionários de empresas do mundo todo, desembarcam em solo chinês — muitos deles, brasileiros. A China é hoje o maior parceiro comercial do Brasil e sozinha responde por 18% das negociações que o nosso país faz no mundo — em 2000, esse volume correspondia a 4%.

"Da China, se gosta ou não se gosta. Não existe um meio-termo", diz Raquel Martins, de 47 anos, brasileira que foi para a China com os pais aos 10 meses de idade. Raquel é formada em cultura e história chinesa pela Universidade de Pequim e é presidente do Brapeq, grupo criado em 2007 para assessorar os imigrantes brasileiros. Segundo Raquel, os seis primeiros meses são o período mais crítico na adaptação em solo chinês. "Quem supera o período fica", diz.

O profissional que se muda para a China acredita que o movimento é uma possibilidade de crescer na carreira, de ganhar experiência no mercado que mais cresce no mundo. O paulistano Thyago Alfonso Haskel, de 28 anos, gerente de produto da rede de lojas Riachuelo , visitou pela primeira vez o país asiático em janeiro de 2011.

Ele viajou numa missão de reconhecimento, já que a rede varejista de roupas pretendia abrir um escritório em Xangai . De volta ao Brasil, reportou o que viu, os fornecedores que visitou e as possibilidades de negócios que se abririam com o novo escritório. Em novembro passado, seu chefe fez a proposta: quer ir para a China tocar a nova operação?

"Minha mulher ainda morava em Blumenau. Eu trabalhava em São Paulo. Tivemos da meia-noite até a manhã do dia seguinte para decidir." A resposta foi sim. Há seis meses Thyago comanda a operação da Riachuelo no centro econômico chinês, e diz que está se acostumando à mudança.


Thyago chegou a Xangai, cidade de 19 milhões de habitantes, sem a mulher. Foi fazer o reconhecimento de campo antes de o casal se mudar. Estratégia que, segundo ele, foi fundamental para a adaptação da mulher, que saiu do Brasil em março. "No início, eu não poderia dar suporte a ela, pois precisava me dedicar à abertura do escritório, comprar o mobiliário, contratar pessoal", diz.

Antes da chegada da mulher, Thyago negociou o pacote de benefícios com a empresa. Conseguiu viagens de retorno ao Brasil a cada seis meses, auxílio-moradia, verba para contratar uma empregada doméstica, seguro-saúde e dinheiro para pagar um curso de mandarim para ele e a mulher.

Regra geral, o pacote de benefícios do expatriado na China é melhor do que o de quem vai trabalhar em países da Europa,  nos Estados Unidos ou no Canadá. Isso porque as companhias têm mais dificuldade de convencer o empregado da transferência. O RH, porém, na hora de negociar a mudança, também joga com o fascínio que a China exerce sobre as pessoas.

O curitibano Jeferson Machado, de 26 anos, trabalhava em Curitiba, na fabricante de caminhões Volvo havia nove anos, quando decidiu que era o momento de tentar impulsionar sua carreira. Foi conversar com o RH sobre a possibilidade de uma transferência para uma subsidiária do grupo.

Como resposta, recebeu três opções: Estados Unidos, Suécia e China. Escolheu a China, pois o prêmio para a mudança seria a promoção para um cargo executivo, algo que ele não teria nas outras duas opções.

"Fui a Pequim em 2011. À primeira vista, deu medo. É outra escala, muito maior do que estamos acostumados a ver no Brasil. O aeroporto, os prédios, a cidade. É tudo gigante", diz. Há nove meses Jeferson vive em Pequim com a mulher.

A adaptação

Jeferson esperava ver a China, uma economia emergente, parecida com o Brasil em infraestrutura e desenvolvimento. Foi surpreendido ao chegar ao aeroporto da capital: "É tudo gigantesco. Fui ao centro da cidade e vi um país que não imaginava — cosmopolita, vivo, em que o ambiente tecnológico e a história se misturam", diz Jeferson.

As dificuldades de instalação da família podem tornar os primeiros três meses da experiência um pesadelo. Em Pequim, capital chinesa com 20 milhões de habitantes, o inglês é ainda pouco usado pela população. Conseguir informações sobre apartamentos, bancos, auxílio doméstico é complicado.


Em Xangai, a situação para quem não fala mandarim é um pouco melhor, mas longe de ser ideal. "Não tive apoio da empresa quando fui procurar apartamento, abrir uma conta de banco ou até mesmo comprar um número de telefone", diz Jeferson, que, para ir para à China, concordou em ser demitido da Volvo Brasil para ser recontratado pela Volvo na China. Daí seus benefícios não serem iguais ao de um expatriado. O casal conseguiu um bom apartamento no centro da capital.

Atualmente, a parte mais dura do dia de Jeferson é o translado até o trabalho. "O metrô é lotado, é difícil pegar táxi", diz. Para Thyago, que já conhecia melhor o país ao ter ido em missões pela companhia, a instalação foi mais tranquila. Encontrar um apartamento que estivesse dentro do orçamento da empresa, porém, foi mais difícil. "Ficamos um mês e meio procurando, até encontrar algo que fosse do nosso agrado e conveniente."

Nem Thaygo nem Jeferson têm filhos, mas nenhum deles descarta a possibilidade de ter uma criança morando na China. "Acho que, com filhos pequenos, é muito fácil. Há ótimas escolas", diz Jeferson.

Na China há dezenas de escolas internacionais que mantêm um programa curricular bilíngue. Nos colégios mais bem preparados, as disciplinas são ministradas em inglês, francês e alemão. Há aulas obrigatórias de mandarim e opcionais para um terceiro idioma. Os preços é que podem ser um pouco salgados para quem não se mudar com um pacote de benefícios incluindo educação: a anuidade pode chegar a 50.000 reais.

Enfim, adaptados

Raquel, do grupo Brapeq, afirma que a melhor forma de ultrapassar os seis primeiros meses na China é ir se informando com quem já vive no país — algo que pode ser feito antes mesmo da viagem. "Temos experiência e dicas valiosas para o imigrante sobre hospitais, escolas, empregadas domésticas." Procurar o apoio da comunidade brasileira foi fundamental para Jeferson. Sua esposa agora é voluntária do Brapeq, ao lado de Raquel. A associação mantém reuniões mensais com os brasileiros que vivem lá.

Do lado profissional, é importante se abrir para todas as oportunidades de aprendizado. "Estou melhorando meu inglês, aprendendo mandarim, além de testar um novo cargo", diz Thyago. Para Jeferson, os desafios diários somados ao contato com o ambiente de negócios valem um MBA.

"A vinda para cá não tem preço. Aprender a lidar com a complexidade e a diversidade faz de você um gestor melhor." Thyago e Jeferson estão sob contrato de dois anos, e ambos pensam em pedir renovação do acordo. "Enquanto eu tiver oportunidades e minha mulher seguir com os projetos dela, vamos ficando", diz Thyago. Jeferson concorda: “Isso aqui é uma experiência de vida".

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Pequim - A China é o país de adaptação mais difícil para quem é transferido a trabalho. A informação é do relatório global publicado em junho pela Brookfield, multinacional que assessora empresas e governos que têm de montar escritórios e deslocar profissionais para trabalhar no exterior.

A cultura, a língua, as leis e os códigos sociais são ininteligíveis até mesmo para profissionais japoneses e coreanos, vizinhos do gigante asiático. Todos os meses milhares de expatriados, funcionários de empresas do mundo todo, desembarcam em solo chinês — muitos deles, brasileiros. A China é hoje o maior parceiro comercial do Brasil e sozinha responde por 18% das negociações que o nosso país faz no mundo — em 2000, esse volume correspondia a 4%.

"Da China, se gosta ou não se gosta. Não existe um meio-termo", diz Raquel Martins, de 47 anos, brasileira que foi para a China com os pais aos 10 meses de idade. Raquel é formada em cultura e história chinesa pela Universidade de Pequim e é presidente do Brapeq, grupo criado em 2007 para assessorar os imigrantes brasileiros. Segundo Raquel, os seis primeiros meses são o período mais crítico na adaptação em solo chinês. "Quem supera o período fica", diz.

O profissional que se muda para a China acredita que o movimento é uma possibilidade de crescer na carreira, de ganhar experiência no mercado que mais cresce no mundo. O paulistano Thyago Alfonso Haskel, de 28 anos, gerente de produto da rede de lojas Riachuelo , visitou pela primeira vez o país asiático em janeiro de 2011.

Ele viajou numa missão de reconhecimento, já que a rede varejista de roupas pretendia abrir um escritório em Xangai . De volta ao Brasil, reportou o que viu, os fornecedores que visitou e as possibilidades de negócios que se abririam com o novo escritório. Em novembro passado, seu chefe fez a proposta: quer ir para a China tocar a nova operação?

"Minha mulher ainda morava em Blumenau. Eu trabalhava em São Paulo. Tivemos da meia-noite até a manhã do dia seguinte para decidir." A resposta foi sim. Há seis meses Thyago comanda a operação da Riachuelo no centro econômico chinês, e diz que está se acostumando à mudança.


Thyago chegou a Xangai, cidade de 19 milhões de habitantes, sem a mulher. Foi fazer o reconhecimento de campo antes de o casal se mudar. Estratégia que, segundo ele, foi fundamental para a adaptação da mulher, que saiu do Brasil em março. "No início, eu não poderia dar suporte a ela, pois precisava me dedicar à abertura do escritório, comprar o mobiliário, contratar pessoal", diz.

Antes da chegada da mulher, Thyago negociou o pacote de benefícios com a empresa. Conseguiu viagens de retorno ao Brasil a cada seis meses, auxílio-moradia, verba para contratar uma empregada doméstica, seguro-saúde e dinheiro para pagar um curso de mandarim para ele e a mulher.

Regra geral, o pacote de benefícios do expatriado na China é melhor do que o de quem vai trabalhar em países da Europa,  nos Estados Unidos ou no Canadá. Isso porque as companhias têm mais dificuldade de convencer o empregado da transferência. O RH, porém, na hora de negociar a mudança, também joga com o fascínio que a China exerce sobre as pessoas.

O curitibano Jeferson Machado, de 26 anos, trabalhava em Curitiba, na fabricante de caminhões Volvo havia nove anos, quando decidiu que era o momento de tentar impulsionar sua carreira. Foi conversar com o RH sobre a possibilidade de uma transferência para uma subsidiária do grupo.

Como resposta, recebeu três opções: Estados Unidos, Suécia e China. Escolheu a China, pois o prêmio para a mudança seria a promoção para um cargo executivo, algo que ele não teria nas outras duas opções.

"Fui a Pequim em 2011. À primeira vista, deu medo. É outra escala, muito maior do que estamos acostumados a ver no Brasil. O aeroporto, os prédios, a cidade. É tudo gigante", diz. Há nove meses Jeferson vive em Pequim com a mulher.

A adaptação

Jeferson esperava ver a China, uma economia emergente, parecida com o Brasil em infraestrutura e desenvolvimento. Foi surpreendido ao chegar ao aeroporto da capital: "É tudo gigantesco. Fui ao centro da cidade e vi um país que não imaginava — cosmopolita, vivo, em que o ambiente tecnológico e a história se misturam", diz Jeferson.

As dificuldades de instalação da família podem tornar os primeiros três meses da experiência um pesadelo. Em Pequim, capital chinesa com 20 milhões de habitantes, o inglês é ainda pouco usado pela população. Conseguir informações sobre apartamentos, bancos, auxílio doméstico é complicado.


Em Xangai, a situação para quem não fala mandarim é um pouco melhor, mas longe de ser ideal. "Não tive apoio da empresa quando fui procurar apartamento, abrir uma conta de banco ou até mesmo comprar um número de telefone", diz Jeferson, que, para ir para à China, concordou em ser demitido da Volvo Brasil para ser recontratado pela Volvo na China. Daí seus benefícios não serem iguais ao de um expatriado. O casal conseguiu um bom apartamento no centro da capital.

Atualmente, a parte mais dura do dia de Jeferson é o translado até o trabalho. "O metrô é lotado, é difícil pegar táxi", diz. Para Thyago, que já conhecia melhor o país ao ter ido em missões pela companhia, a instalação foi mais tranquila. Encontrar um apartamento que estivesse dentro do orçamento da empresa, porém, foi mais difícil. "Ficamos um mês e meio procurando, até encontrar algo que fosse do nosso agrado e conveniente."

Nem Thaygo nem Jeferson têm filhos, mas nenhum deles descarta a possibilidade de ter uma criança morando na China. "Acho que, com filhos pequenos, é muito fácil. Há ótimas escolas", diz Jeferson.

Na China há dezenas de escolas internacionais que mantêm um programa curricular bilíngue. Nos colégios mais bem preparados, as disciplinas são ministradas em inglês, francês e alemão. Há aulas obrigatórias de mandarim e opcionais para um terceiro idioma. Os preços é que podem ser um pouco salgados para quem não se mudar com um pacote de benefícios incluindo educação: a anuidade pode chegar a 50.000 reais.

Enfim, adaptados

Raquel, do grupo Brapeq, afirma que a melhor forma de ultrapassar os seis primeiros meses na China é ir se informando com quem já vive no país — algo que pode ser feito antes mesmo da viagem. "Temos experiência e dicas valiosas para o imigrante sobre hospitais, escolas, empregadas domésticas." Procurar o apoio da comunidade brasileira foi fundamental para Jeferson. Sua esposa agora é voluntária do Brapeq, ao lado de Raquel. A associação mantém reuniões mensais com os brasileiros que vivem lá.

Do lado profissional, é importante se abrir para todas as oportunidades de aprendizado. "Estou melhorando meu inglês, aprendendo mandarim, além de testar um novo cargo", diz Thyago. Para Jeferson, os desafios diários somados ao contato com o ambiente de negócios valem um MBA.

"A vinda para cá não tem preço. Aprender a lidar com a complexidade e a diversidade faz de você um gestor melhor." Thyago e Jeferson estão sob contrato de dois anos, e ambos pensam em pedir renovação do acordo. "Enquanto eu tiver oportunidades e minha mulher seguir com os projetos dela, vamos ficando", diz Thyago. Jeferson concorda: “Isso aqui é uma experiência de vida".

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