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Nunca devia ter abandonado a faculdade, diz CEO da Riachuelo

"Me arrependo dessa decisão todos os dias da minha vida", diz Flávio Rocha, presidente da Riachuelo, que abandonou a faculdade pouco antes da formatura

Flávio Rocha, presidente da Riachuelo: "Me arrependo todos os dias de ter abandonado o curso de administração" (Germano Lüders/EXAME.com)
DR

Da Redação

Publicado em 6 de outubro de 2015 às 19h00.

Filho de um dos fundadores do grupo Guararapes-Riachuelo, Flávio Rocha começou a trabalhar na fábrica de tecidos da família com 14 anos. Hoje, é presidente da rede Riachuelo e responsável por diversas transformações que alavancaram a empresa nos últimos anos.

"Só existe uma coisa da qual eu me arrependo, sem exagero, todos os dias da minha vida. Foi ter abandonado o curso de Administração na Fundação Getúlio Vargas ( FGV ) pouco menos de 1 ano antes da formatura", diz em entrevista ao Na Prática.

"Mesmo que a figura do 'drop out' tenha ganhado certo glamour com Mark Zuckerberg, Bill Gates e Steve Jobs, essa foi uma lacuna na minha vida. Precisei correr atrás do prejuízo depois, fazendo alguns cursos de extensão."

Flávio passou uma temporada estudando em Harvard, onde conta ter aprendido especialmente em uma aula de EDI (Electronic Data Interchange), que pregava a integração eletrônica das cadeias de suprimentos.

"Ela dava uma visão holística dessa cadeia, que ia anos luz à frente em termos de eficiência e produtividade do que era uma empresa meramente verticalizada. Voltei com uma aplicação imediata para o nosso negócio, que é tão complexo e engloba Guararapes Têxtil, Confecções Guararapes, a empresa de logística, a empresa de varejo e o embrião do que viria a ser a empresa financeira."

Segundo ele, sua fixação se tornou transformar o que era uma empresa fatiada - em que cada elo da cadeia tinha sua máquina de distribuição própria, buscando sua sobrevivência com seus clientes próprios -, em uma empresa eficiente, explorando as sinergias entre cada uma dessas fatias.

"Comecei a imaginar uma visão de fluxo, do fio até a última prestação depois da venda. Ficou claro que não adianta ter fiação eficiente, tecelagem eficiente, confecção eficiente, varejo eficiente, se isso não resultar em um todo eficiente. Mais do que das peças do tabuleiro, a eficiência vem da cooperação que essas peças exercem entre si", garante.

As mudanças capitaneadas por Flávio também envolveram uma transformação cultural. "Esse foi o maior desafio, pois já existia uma cultura arraigada a cada um dos elos da cadeia. A cultura industrial é diferente da cultura de varejo, que é diferente da cultura financeira.

Decisões que fazem sentido na tecelagem podem estar ferindo a eficiência global", explica. "A gestão das pessoas na indústria costuma ser muito mais focada em produção de grandes volumes, em economia de escala, em ganho de produtividade.

Já o varejo busca variedade, preza por uma cartela de cores variadas, considera que os detalhes que fazem a diferença. Os funcionários da fábrica dizem: 'Esse pessoal do varejo enlouqueceu de vez. Para que precisamos de 24 cores de camisa polo? Vou mostrar a eles como aumentar a produtividade reduzindo para três cores'. Só que isso pode trazer um ganho de eficiência no início da cadeia, mas prejudica o elo mais precioso, que é o metro quadrado de loja."

A partir das mudanças de Flávio, a Riachuelo vem registrando crescimento, totalizando hoje 260 unidades, 561,4 mil metros quadrados de área de vendas e valor de mercado de 5,1 bilhões de reais.

"Nosso modelo de negócios é o que Harvard batizou de 'fast fashion'. Ele se baseia menos no planejamento e mais na velocidade de resposta. Nós temos uma coisa que ninguém consegue fazer no Brasil: temos 10 dias de 'lead time' entre nossas fábricas e nossas lojas. Isso significa que a gente tem uma variedade recorde, lançamos 100 produtos por dia - 35.000 itens por ano", diz.

Com a inauguração de lojas flagships em áreas nobres ao longo dos últimos dois anos, a Riachuelo colocou também um pé também no segmento premium.

Para o executivo, o varejo é o setor do futuro no Brasil, crescendo anualmente em um ritmo bem superior ao do PIB nacional. "Até pouco tempo, o varejo era visto como o patinho feio da economia, como o coadjuvante - herança da época em que a inovação estava no elo da indústria. Isso vem mudando, e acredito que as oportunidades de carreira no varejo são enormes, pois tudo está por ser feito. O varejo de alta produtividade representa ainda menos de 15% do PIB e está destinado a representar 30% nos próximos anos - o espaço para crescimento é imenso."

Atualmente, Flávio Rocha e sua família são os únicos brasileiros a ocupar a lista dos cinquenta mais ricos da indústria da moda no mundo. Além da carreira de executivo, Flávio chegou a ter uma passagem política como deputado e já correu duas vezes a Maratona de Nova York. Ocupa o conselho de diversos órgãos ligados a fomento do varejo e desenvolvimento industrial no país.

Ao jovem que está iniciando sua carreira, ele destaca a importância de se ter um comprometimento com um propósito maior, que não deve ser meramente material. "As pessoas só serão bem sucedidas se elas fizerem o que as emociona, o que as move. Se você fizer a escolha pelo seu coração, pelo seu propósito, a compensação material virá muito mais forte no futuro."

Veja a seguir trechos da conversa de Flávio Rocha com o Na Prática:

Qual foi seu primeiro emprego, aos 14 anos?

Por que escolheu estudar administração?

O que significa sucesso para você?

* Este artigo foi originalmente publicado peloNa Prática, portal de carreira da Fundação Estudar.

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"Só existe uma coisa da qual eu me arrependo, sem exagero, todos os dias da minha vida. Foi ter abandonado o curso de Administração na Fundação Getúlio Vargas ( FGV ) pouco menos de 1 ano antes da formatura", diz em entrevista ao Na Prática.

"Mesmo que a figura do 'drop out' tenha ganhado certo glamour com Mark Zuckerberg, Bill Gates e Steve Jobs, essa foi uma lacuna na minha vida. Precisei correr atrás do prejuízo depois, fazendo alguns cursos de extensão."

Flávio passou uma temporada estudando em Harvard, onde conta ter aprendido especialmente em uma aula de EDI (Electronic Data Interchange), que pregava a integração eletrônica das cadeias de suprimentos.

"Ela dava uma visão holística dessa cadeia, que ia anos luz à frente em termos de eficiência e produtividade do que era uma empresa meramente verticalizada. Voltei com uma aplicação imediata para o nosso negócio, que é tão complexo e engloba Guararapes Têxtil, Confecções Guararapes, a empresa de logística, a empresa de varejo e o embrião do que viria a ser a empresa financeira."

Segundo ele, sua fixação se tornou transformar o que era uma empresa fatiada - em que cada elo da cadeia tinha sua máquina de distribuição própria, buscando sua sobrevivência com seus clientes próprios -, em uma empresa eficiente, explorando as sinergias entre cada uma dessas fatias.

"Comecei a imaginar uma visão de fluxo, do fio até a última prestação depois da venda. Ficou claro que não adianta ter fiação eficiente, tecelagem eficiente, confecção eficiente, varejo eficiente, se isso não resultar em um todo eficiente. Mais do que das peças do tabuleiro, a eficiência vem da cooperação que essas peças exercem entre si", garante.

As mudanças capitaneadas por Flávio também envolveram uma transformação cultural. "Esse foi o maior desafio, pois já existia uma cultura arraigada a cada um dos elos da cadeia. A cultura industrial é diferente da cultura de varejo, que é diferente da cultura financeira.

Decisões que fazem sentido na tecelagem podem estar ferindo a eficiência global", explica. "A gestão das pessoas na indústria costuma ser muito mais focada em produção de grandes volumes, em economia de escala, em ganho de produtividade.

Já o varejo busca variedade, preza por uma cartela de cores variadas, considera que os detalhes que fazem a diferença. Os funcionários da fábrica dizem: 'Esse pessoal do varejo enlouqueceu de vez. Para que precisamos de 24 cores de camisa polo? Vou mostrar a eles como aumentar a produtividade reduzindo para três cores'. Só que isso pode trazer um ganho de eficiência no início da cadeia, mas prejudica o elo mais precioso, que é o metro quadrado de loja."

A partir das mudanças de Flávio, a Riachuelo vem registrando crescimento, totalizando hoje 260 unidades, 561,4 mil metros quadrados de área de vendas e valor de mercado de 5,1 bilhões de reais.

"Nosso modelo de negócios é o que Harvard batizou de 'fast fashion'. Ele se baseia menos no planejamento e mais na velocidade de resposta. Nós temos uma coisa que ninguém consegue fazer no Brasil: temos 10 dias de 'lead time' entre nossas fábricas e nossas lojas. Isso significa que a gente tem uma variedade recorde, lançamos 100 produtos por dia - 35.000 itens por ano", diz.

Com a inauguração de lojas flagships em áreas nobres ao longo dos últimos dois anos, a Riachuelo colocou também um pé também no segmento premium.

Para o executivo, o varejo é o setor do futuro no Brasil, crescendo anualmente em um ritmo bem superior ao do PIB nacional. "Até pouco tempo, o varejo era visto como o patinho feio da economia, como o coadjuvante - herança da época em que a inovação estava no elo da indústria. Isso vem mudando, e acredito que as oportunidades de carreira no varejo são enormes, pois tudo está por ser feito. O varejo de alta produtividade representa ainda menos de 15% do PIB e está destinado a representar 30% nos próximos anos - o espaço para crescimento é imenso."

Atualmente, Flávio Rocha e sua família são os únicos brasileiros a ocupar a lista dos cinquenta mais ricos da indústria da moda no mundo. Além da carreira de executivo, Flávio chegou a ter uma passagem política como deputado e já correu duas vezes a Maratona de Nova York. Ocupa o conselho de diversos órgãos ligados a fomento do varejo e desenvolvimento industrial no país.

Ao jovem que está iniciando sua carreira, ele destaca a importância de se ter um comprometimento com um propósito maior, que não deve ser meramente material. "As pessoas só serão bem sucedidas se elas fizerem o que as emociona, o que as move. Se você fizer a escolha pelo seu coração, pelo seu propósito, a compensação material virá muito mais forte no futuro."

Veja a seguir trechos da conversa de Flávio Rocha com o Na Prática:

Qual foi seu primeiro emprego, aos 14 anos?

Por que escolheu estudar administração?

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