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Longe da capital

Em busca de tranquilidade e de ascensão profissional, muitas pessoas estão saindo das capitais para encontrar oportunidades de trabalho no interior. Saiba o que levar em conta na hora de fazer essa transição

Andréia Piacenti Balieiro Alves, que hoje vive em Paulínia, interior de São Paulo: "decidi que queria continuar a vida sempre no interior" (Fabiano Accorsi / VOCÊ S/A)
DR

Da Redação

Publicado em 19 de novembro de 2014 às 09h21.

São Paulo - Sair dos grandes centros para trabalhar no interior não é mais um suicídio profissional. A decisão, que há alguns anos era controversa, pode alavancar a carreira e aumentar a qualidade de vida — dos profissionais e de suas famílias. E muitas pessoas estão levando isso em conta na hora de se movimentar.

É fácil entender por que isso acontece: cada vez mais empresas deixam as capitais para se instalar no interior. Para as companhias, sair da capital tem vantagens como redução de impostos, terrenos mais baratos e proximidade a estradas e portos — importantes para escoamento da produção, por exemplo.

Para os profissionais, também há benefícios na mudança. A principal é a qualidade de vida: não há como negar que cidades menores têm um ritmo menos caótico do que as capitais e, em muitos casos, mais segurança.

De acordo com uma pesquisa do Ibope Inteligência com dados do IBGE, o emprego formal aumentou 70% nas cidades médias, enquanto no resto do país cresceu 39% no intervalo entre 2004 e 2010. Embora os salários do interior ainda não sejam tão altos, a tranquilidade atrai os profissionais que buscam serenidade na vida pessoal sem deixar de lado os desafios da carreira.

“Muitas empresas estão crescendo no interior e há boas oportunidades para todos os níveis”, diz Angelo Mencioni, diretor de transição de carreira da Lee Hecht Harrison, consultoria de São Paulo. A seguir, quatro profissionais contam por que decidiram sair dos grandes centros em busca de oportunidades em cidades menores.

De volta às origens

Andréia Piacenti Balieiro Alves, de 39 anos, nasceu em Pompeia, um município de 20 000 habitantes no oeste de São Paulo. Hoje está em Paulínia, também no interior paulista. Mas morou na cidade de São Paulo sete anos. Ela se mudou para a capital paulista em 1997 em busca de emprego e encontrou uma vaga na Itautec, fabricante de equipamentos de TI.

A empresa expandiu e transferiu a área de hardware, em que Andréia trabalhava, para Jundiaí. No começo, ela não queria voltar para o interior. Ficou em São Paulo pegando o fretado da empresa para ir e voltar todos os dias. Mas a estratégia cansativa só durou dois meses. Ela se rendeu e alugou um apartamento em Jundiaí.

“O primeiro impacto era a falta de trânsito: em São Paulo, eu levava 1 hora para chegar ao escritório; em Jundiaí, só 15 minutos”, diz. E assim ela foi se apaixonando por um estilo de vida em que havia tempo para o trabalho e para o lazer. “Fiquei em Jundiaí três anos e decidi que queria continuar a vida sempre no interior”, afirma.

A carreira acompanhou esse desejo. Em 2010, foi chamada para ser líder de projeto no Instituto Eldorado, que desenvolve softwares e era parceiro da Itautec. O que a atraiu, além da promoção, foi a localização da empresa, em Campinas. “Gosto da mistura de clima de interior com infraestrutura de cidade grande”, diz.

Andréia recentemente se mudou para Paulínia, ao lado de Campinas. “Meu marido e eu decidimos procurar uma casa por aqui quando engravidei”, afirma. “O valor do imóvel era mais vantajoso do que em Campinas e estou em um bairro próximo do meu trabalho.”

Vitrine profissional

Existe o mito de que, se alguém quer ser notado profissionalmente, precisa ficar nos grandes centros. O caso de Thiago Alvarenga, de 32 anos, gerente de engenharia de locomotivas da MRS Logística, vem para desmentir essa afirmação. Há um ano foi de Belo Horizonte para Juiz de Fora exatamente porque gostaria de ser mais notado na empresa. A MRS tem sede no interior e a transferência seria promissora para a carreira dele.

“Quando me chamaram para assumir um cargo em Juiz de Fora, eu sabia que seria bastante vantajoso”, diz. Mesmo assim ele ponderou. Casado e pai de gêmeos que sofrem de autismo, Thiago precisava ter certeza de que haveria escolas às quais seus filhos de 5 anos se adaptassem. Por isso, morou quatro meses sozinho em Juiz de Fora e estudou bem a cidade.

“Encontrei escolas e uma casa maior e mais barata do que nosso apartamento de Belo Horizonte”, diz. Esses meses foram importantes também para que a esposa de Thiago, que é funcionária pública, conseguisse uma licença de dois anos do trabalho — tempo que será dedicado à mudança e aos filhos. Depois de um período de adaptação, a família (e a carreira) de Thiago está indo muito bem.

“Em Juiz de Fora eu me relaciono com clientes e lideranças mais estratégicas para a empresa, o que faz com que eu me desenvolva muito mais”, diz. “E meus filhos se adaptaram melhor do que nós esperávamos.”

Mais perto de casa

O pernambucano Daniel Moraes, de 40 anos, passou quase dois anos longe de casa, trabalhando como coordenador de TI da Unimed São Luís, na capital maranhense. Embora gostasse do trabalho e dos colegas, ele sentia muita saudade de Pernambuco. “Minha esposa, que é de Recife, queria voltar para ficar perto da família”, diz.

Para satisfazer essa vontade, Daniel pediu demissão da Unimed São Luís e retornou à capital pernambucana em busca de um novo emprego. Mas enxergou em Caruaru a possibilidade de uma nova carreira. “As Unimeds são independentes, mas eu prestava serviços para a Unimed Caruaru quando estava em São Luís e resolvi sondar um antigo colega sobre vagas por lá”, afirma.

A escolha pela cidade do interior de Pernambuco não foi aleatória: Daniel conhecia o local. “Eu sabia que havia estrutura de serviços, cultura, escolas e hospitais ali”, diz. “Mas o que me atraía mesmo era a ideia de que numa cidade menor eu teria uma vida mais serena, mais próxima dos vizinhos e mais barata do que em Recife”, explica.

A sondagem com o antigo colega rendeu, e ele foi convidado para se tornar coordenador de atendimento na Unimed Caruaru. “Queria continuar na Unimed, mas em um lugar onde pudesse criar minha filha com mais liberdade e segurança”, diz.

Há três anos em Caruaru, Daniel não pretende voltar para as capitais por enquanto. “Minha esposa abriu um café, que está indo bem. Fizemos amigos e não queremos deixá-los para trás.”

À procura de paz

Cleber Genero, de 40 anos, adora desafios. O profissional, que atuou 15 anos na área de tecnologia mudou, em março, para um setor completamente diferente: indústria. Atualmente, Cleber é diretor de logística da Tigre, fabricante de tubos e conexões. A transição de área veio acompanhada de outra mudança, a de cidade.

Embora seja gaúcho, o profissional morava em Curitiba desde a adolescência e, se aceitasse a proposta da Tigre, teria de ir para Joinville, em Santa Catarina. A mudança não foi um problema, mas uma solução.

“Tinha acabado de voltar de uma expatriação na China, onde morei em Taiwan e Taipei com minha esposa e meus dois filhos por três anos”, diz. “Sentia saudade da vida mais pacata que levava por lá, meus filhos podiam brincar na rua e isso não é possível em Curitiba.”

A primeira conversa sobre o assunto foi entre Cleber e sua esposa. “Nem tínhamos desencaixotado todas as coisas da expatriação e lá estava eu querendo mudar de novo.” A mulher de Cleber achou a proposta atrativa. Consultora de SAP, ela teria mercado para atuar e mais qualidade de vida. “A facilidade de viajar nos fins de semana para Curitiba e Florianópolis nos deixou animados”, diz.

Profissionalmente, haveria uma promoção de cargo e a possibilidade de trabalhar em uma empresa que está em mudança de diretoria e presidência desde o ano passado. Mas a maior vantagem da mudança é algo bem simples: poder almoçar com a família durante a semana. “Não há trânsito na cidade e passamos muito mais tempo juntos agora”, afirma.

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É fácil entender por que isso acontece: cada vez mais empresas deixam as capitais para se instalar no interior. Para as companhias, sair da capital tem vantagens como redução de impostos, terrenos mais baratos e proximidade a estradas e portos — importantes para escoamento da produção, por exemplo.

Para os profissionais, também há benefícios na mudança. A principal é a qualidade de vida: não há como negar que cidades menores têm um ritmo menos caótico do que as capitais e, em muitos casos, mais segurança.

De acordo com uma pesquisa do Ibope Inteligência com dados do IBGE, o emprego formal aumentou 70% nas cidades médias, enquanto no resto do país cresceu 39% no intervalo entre 2004 e 2010. Embora os salários do interior ainda não sejam tão altos, a tranquilidade atrai os profissionais que buscam serenidade na vida pessoal sem deixar de lado os desafios da carreira.

“Muitas empresas estão crescendo no interior e há boas oportunidades para todos os níveis”, diz Angelo Mencioni, diretor de transição de carreira da Lee Hecht Harrison, consultoria de São Paulo. A seguir, quatro profissionais contam por que decidiram sair dos grandes centros em busca de oportunidades em cidades menores.

De volta às origens

Andréia Piacenti Balieiro Alves, de 39 anos, nasceu em Pompeia, um município de 20 000 habitantes no oeste de São Paulo. Hoje está em Paulínia, também no interior paulista. Mas morou na cidade de São Paulo sete anos. Ela se mudou para a capital paulista em 1997 em busca de emprego e encontrou uma vaga na Itautec, fabricante de equipamentos de TI.

A empresa expandiu e transferiu a área de hardware, em que Andréia trabalhava, para Jundiaí. No começo, ela não queria voltar para o interior. Ficou em São Paulo pegando o fretado da empresa para ir e voltar todos os dias. Mas a estratégia cansativa só durou dois meses. Ela se rendeu e alugou um apartamento em Jundiaí.

“O primeiro impacto era a falta de trânsito: em São Paulo, eu levava 1 hora para chegar ao escritório; em Jundiaí, só 15 minutos”, diz. E assim ela foi se apaixonando por um estilo de vida em que havia tempo para o trabalho e para o lazer. “Fiquei em Jundiaí três anos e decidi que queria continuar a vida sempre no interior”, afirma.

A carreira acompanhou esse desejo. Em 2010, foi chamada para ser líder de projeto no Instituto Eldorado, que desenvolve softwares e era parceiro da Itautec. O que a atraiu, além da promoção, foi a localização da empresa, em Campinas. “Gosto da mistura de clima de interior com infraestrutura de cidade grande”, diz.

Andréia recentemente se mudou para Paulínia, ao lado de Campinas. “Meu marido e eu decidimos procurar uma casa por aqui quando engravidei”, afirma. “O valor do imóvel era mais vantajoso do que em Campinas e estou em um bairro próximo do meu trabalho.”

Vitrine profissional

Existe o mito de que, se alguém quer ser notado profissionalmente, precisa ficar nos grandes centros. O caso de Thiago Alvarenga, de 32 anos, gerente de engenharia de locomotivas da MRS Logística, vem para desmentir essa afirmação. Há um ano foi de Belo Horizonte para Juiz de Fora exatamente porque gostaria de ser mais notado na empresa. A MRS tem sede no interior e a transferência seria promissora para a carreira dele.

“Quando me chamaram para assumir um cargo em Juiz de Fora, eu sabia que seria bastante vantajoso”, diz. Mesmo assim ele ponderou. Casado e pai de gêmeos que sofrem de autismo, Thiago precisava ter certeza de que haveria escolas às quais seus filhos de 5 anos se adaptassem. Por isso, morou quatro meses sozinho em Juiz de Fora e estudou bem a cidade.

“Encontrei escolas e uma casa maior e mais barata do que nosso apartamento de Belo Horizonte”, diz. Esses meses foram importantes também para que a esposa de Thiago, que é funcionária pública, conseguisse uma licença de dois anos do trabalho — tempo que será dedicado à mudança e aos filhos. Depois de um período de adaptação, a família (e a carreira) de Thiago está indo muito bem.

“Em Juiz de Fora eu me relaciono com clientes e lideranças mais estratégicas para a empresa, o que faz com que eu me desenvolva muito mais”, diz. “E meus filhos se adaptaram melhor do que nós esperávamos.”

Mais perto de casa

O pernambucano Daniel Moraes, de 40 anos, passou quase dois anos longe de casa, trabalhando como coordenador de TI da Unimed São Luís, na capital maranhense. Embora gostasse do trabalho e dos colegas, ele sentia muita saudade de Pernambuco. “Minha esposa, que é de Recife, queria voltar para ficar perto da família”, diz.

Para satisfazer essa vontade, Daniel pediu demissão da Unimed São Luís e retornou à capital pernambucana em busca de um novo emprego. Mas enxergou em Caruaru a possibilidade de uma nova carreira. “As Unimeds são independentes, mas eu prestava serviços para a Unimed Caruaru quando estava em São Luís e resolvi sondar um antigo colega sobre vagas por lá”, afirma.

A escolha pela cidade do interior de Pernambuco não foi aleatória: Daniel conhecia o local. “Eu sabia que havia estrutura de serviços, cultura, escolas e hospitais ali”, diz. “Mas o que me atraía mesmo era a ideia de que numa cidade menor eu teria uma vida mais serena, mais próxima dos vizinhos e mais barata do que em Recife”, explica.

A sondagem com o antigo colega rendeu, e ele foi convidado para se tornar coordenador de atendimento na Unimed Caruaru. “Queria continuar na Unimed, mas em um lugar onde pudesse criar minha filha com mais liberdade e segurança”, diz.

Há três anos em Caruaru, Daniel não pretende voltar para as capitais por enquanto. “Minha esposa abriu um café, que está indo bem. Fizemos amigos e não queremos deixá-los para trás.”

À procura de paz

Cleber Genero, de 40 anos, adora desafios. O profissional, que atuou 15 anos na área de tecnologia mudou, em março, para um setor completamente diferente: indústria. Atualmente, Cleber é diretor de logística da Tigre, fabricante de tubos e conexões. A transição de área veio acompanhada de outra mudança, a de cidade.

Embora seja gaúcho, o profissional morava em Curitiba desde a adolescência e, se aceitasse a proposta da Tigre, teria de ir para Joinville, em Santa Catarina. A mudança não foi um problema, mas uma solução.

“Tinha acabado de voltar de uma expatriação na China, onde morei em Taiwan e Taipei com minha esposa e meus dois filhos por três anos”, diz. “Sentia saudade da vida mais pacata que levava por lá, meus filhos podiam brincar na rua e isso não é possível em Curitiba.”

A primeira conversa sobre o assunto foi entre Cleber e sua esposa. “Nem tínhamos desencaixotado todas as coisas da expatriação e lá estava eu querendo mudar de novo.” A mulher de Cleber achou a proposta atrativa. Consultora de SAP, ela teria mercado para atuar e mais qualidade de vida. “A facilidade de viajar nos fins de semana para Curitiba e Florianópolis nos deixou animados”, diz.

Profissionalmente, haveria uma promoção de cargo e a possibilidade de trabalhar em uma empresa que está em mudança de diretoria e presidência desde o ano passado. Mas a maior vantagem da mudança é algo bem simples: poder almoçar com a família durante a semana. “Não há trânsito na cidade e passamos muito mais tempo juntos agora”, afirma.

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