Universidade Columbia, em Nova York: 25 lideranças públicas do Brasil vão passar a semana na sala de aula para discutir segurança pública em abordagens teóricas e práticas (Leandro Fonseca/Exame)
Editor de Negócios e Carreira
Publicado em 10 de novembro de 2024 às 10h49.
Última atualização em 11 de novembro de 2024 às 11h46.
Mesmo num país acostumado à violência, a tarde da última sexta-feira, 8, mostrou a audácia do crime organizado no Brasil. Um tiroteiro na área de desembarque do aeroporto de Guarulhos, o mais movimentado do país, matou um delator de lideranças do Primeiro Comando da Capital (PCC) e, junto, um motorista de aplicativo que apenas transitava no local. Uma outra pessoa também sem ligação com o crime, mas infelizmente atingida pelas balas, segue internada.
Ao que tudo indica, a ação foi encomendada pelo PCC, coroando um ano de 2024 no qual o crime organizado atingiu um novo patamar no Brasil. Vide os tentáculos do PCC na política. No estado de São Paulo, 12 candidatos ligados ao crime organizado foram eleitos — dez vereadores e dois prefeitos, de acordo com dados de órgãos de inteligência reportados ao Tribunal Regional Eleitoral de São Paulo.
No total, 70 pessoas com relação ao grupo criminoso concorreram nas eleições, segundo reportagem do jornal O Estado de São Paulo. Não à toa, o envolvimento do crime organizado na máquina pública virou um dos temas principais na campanha eleitoral na capital paulista, com candidatos acusando uns aos outros de laços com o bando.
No Rio de Janeiro, São Paulo e nas principais cidades do Nordeste, as operações de facções criminosas afetam diretamente o dia a dia de pessoas em áreas periféricas. A presença do crime organizado inibiu o acesso à justiça e ao voto em algumas localidades. A melhoria da segurança pública, portanto, virou uma pauta crucial para o país em 2024.
O avanço do crime organizado traz insegurança para os cidadãos, atrapalha os negócios e compromete a imagem do Brasil perante investidores. O que sociedade civil, iniciativa privada e autoridades comprometidas com uma agenda de segurança pública podem fazer para combater este mal?
A busca por soluções em segurança pública está por trás de uma comitiva de lideranças brasileiras à Universidade Columbia, em Nova York, para um curso executivo sobre o tema. A formação começará nesta segunda-feira, 11, e irá até o dia 15 de novembro.
Capitaneado pela Comunitas, organização sem fins lucrativos voltada à melhoria da gestão pública e do investimento social por meio de parcerias entre os setores público e privado, o curso intensivo é resultado de uma parceria entre a organização e a Picker Center Foundation, instituição da School of International and Public Affairs (SIPA) de Columbia.
O objetivo é ter acesso a cases de sucesso internacionais e contato com conceitos das melhores universidades do mundo.
"Escolhemos segurança como mote principal para essa edição, pois, após alguns levantamentos que fizemos com a nossa rede, percebemos uma grande convergência, em todos os territórios, apontando para o crime organizado como um dos grandes causadores da violência no país", diz Regina Esteves, diretora-presidente da Comunitas.
Ao todo, foram selecionadas 25 lideranças dos setores público e privado, de todas as regiões do Brasil. Nomes de peso de várias esferas do Executivo como Eduardo Leite, governador do Rio Grande do Sul, João Campos, prefeito reeleito de Recife, Rodrigo Neves, prefeito eleito de Niterói, além dos vice-prefeitos eleitos de São Paulo, Ricardo Nascimento Mello Araújo, e do Rio de Janeiro, Eduardo Cavaliere, estão entre os participantes.
A comitiva também será composta por lideranças do Congresso Nacional, como os deputados Tabata Amaral (São Paulo), Pedro Teixeira e Renan Ferreirinha (Rio de Janeiro). A reportagem da EXAME
Trata-se da quarta edição de uma formação internacional feita pela Comunitas. Em 2023, a organização levou líderes brasileiros à Universidade Stanford, na Califórnia, para um programa sobre economia verde e sustentabilidade, com o objetivo de ampliar a agenda ambiental em políticas públicas.
Em 2018, a organização levou prefeitos também para Columbia, em Nova York. Na ocasião, a turma trocou experiências com gestores públicos dos Estados Unidos em temas caros ao dia a dia das metrópoles brasileiras, com zeladoria urbana e segurança pública.
"É muito gratificante poder reunir importantes líderes, dos mais diferentes setores, para debater assuntos tão relevantes", diz Esteves. "Isso é fundamental para que consigamos desenvolver uma agenda conjunta e estratégica com todos os níveis, de esferas distintas, conversando sobre um mesmo tema."
O programa de formação em Nova York terá uma abordagem teórica e prática, oferecendo aos participantes a oportunidade de aprender com especialistas renomados em segurança pública e prevenção à violência.
A programação inclui aulas com o doutor em políticas públicas William Eimicke, que abordará temas como avaliação de riscos e resiliência em situações de crise. Joe Pfeifer, mestre em administração pública e ex-diretor do Departamento de Bombeiros de Nova York, discutirá liderança em situações de emergência e gestão de crises.
O curso também incluirá análises de experiências internacionais, como o caso colombiano no combate às drogas, que será apresentado por Andrés González Díaz, ex-governador do departamento de Cundinamarca, onde fica a capital Bogotá e um dos epicentros do crime organizado na Colômbia nas últimas décadas.
Outro destaque será a presença de Annemarie McAvoy, especialista em crimes financeiros, que abordará estratégias de prevenção ao crime organizado transnacional.
Além das aulas, o programa prevê visitas de campo ao Departamento de Polícia de Nova York (NYPD) e ao Departamento de Correções de Nova York, onde os participantes conhecerão práticas de análise de dados e operações conjuntas, que contribuem para o combate ao crime em uma das maiores cidades do mundo.
"A formação visa garantir uma troca rica de perspectivas e experiências entre os participantes, fortalecendo a rede e a capacidade de colaboração entre diferentes entes federativos, iniciativa privada, especialistas e demais setores da sociedade", diz Esteves.