Carreira

Hora de pensar fora da caixa para ter sucesso no trabalho

O filósofo Clóvis de Barros Filho defende a desconstrução de conceitos e crenças corporativas para ser bem-sucedido e feliz no trabalho

Clóvis de Barros Filho: "Pense sempre em alternativas para o que as empresas dizem ser o correto para ter sucesso. Isso o ajuda a trabalhar
da forma como você acredita ser a melhor" (Montagem: Carlos Pedretti / Foto: Raul Júnior)

Clóvis de Barros Filho: "Pense sempre em alternativas para o que as empresas dizem ser o correto para ter sucesso. Isso o ajuda a trabalhar da forma como você acredita ser a melhor" (Montagem: Carlos Pedretti / Foto: Raul Júnior)

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Da Redação

Publicado em 19 de novembro de 2013 às 12h18.

São Paulo - Qual a melhor maneira  de encontrar valor e sucesso na carreira? Os métodos tradicionais defendem a estipulação de metas e soluções simplistas, como as famosas listas das dez lições para chegar ao sucesso e ser bem-sucedido. Mas nem sempre essa é a melhor saída.

Segundo o filósofo Clóvis de Barros Filho, professor de ética da Escola de Comunicação e Arte da Universidade de São Paulo, a maioria dos profissionais coloca o trabalho a serviço de metas, quando deveria trabalhar por um significado. "Muitas pessoas estão em um lugar quando gostariam de estar em outro e assim deslegitimam a própria trajetória", diz Clóvis.

Segundo ele, é necessário pensar além dos objetivos organizacionais, como foco no resultado, trabalho por metas e competição. Em seu novo livro (ainda sem título definido e escrito em parceria com o psicanalista Arthur Meucci),  que será lançado em novembro durante
a HSM ExpoManagement, evento de gestão que acontece em São Paulo, Clóvis vai abordar a importância de desconstruir ídolos e preconceitos para reconstruir uma visão de mundo mais rica e consciente e, realmente, ter sucesso na carreira.

É a famosa expressão 'pensar fora da caixa'. E a caixa pode representar os limites do pensamento criativo, uma barreira que impede a originalidade ou, até, uma imagem distorcida do que é felicidade no trabalho. "Não falo em substituir uma verdade pela outra e, sim, em conseguir refletir sobre essas questões", diz Clóvis. 

VOCÊ S/A - Como seria essa desconstrução?

Clóvis de Barros Filho - Segue a mesma linha da Filosofia do Martelo, uma expressão criada pelo filósofo alemão Friedrich Wilhelm Nietzsche (1844-1900), que significa a destruição de todos os arquétipos de pensamentos e dogmas que impedem e dificultam a possibilidade da formação de outras ideias e valores. 

É um trabalho de desconstrução para que uma nova e mais sólida reflexão surja. A ideia é abalar as crenças e as opiniões sobre trabalho e possibilitar uma mudança na forma como as pessoas enxergam e atuam no mundo dos negócios.


O senhor acredita que os profissionais hoje em dia são presos a conceitos e verdades corporativas?

Barros Filho - Sim. Muitos são levados a repetir o que leem no código de ética da empresa ou o que escutam de seu gestor, como se aquilo fosse uma verdade indiscutível, sem parar para refletir se aquele valor significa algo para eles. Esses profissionais trabalham seguindo regras e fórmulas preestabelecidas de sucesso.

Parecem que estão sempre a serviço daquilo que ainda não alcançaram. Pensemos na questão das metas que, quando alcançadas, imediatamente são substituídas por outras. Dessa forma, a frustração é sempre reestabelecida. O que eu defendo é que aquilo que todos aplaudem e consideram indiscutível pode, sim, ser problematizado e mudado.

Mas por que se basear nessas certezas é perigoso para a carreira?

Barros Filho - Pois se perde a oportunidade de ser autêntico e independente. Essa discussão está baseada em valores, no que realmente é importante no ambiente de trabalho.

A ideia é mostrar que por trás dessas certezas há inúmeras incertezas e possibilidades de pensamento. O profissional deve debater sobre os valores que quer (ou não) em seu trabalho, pois essa é a condição da liberdade. Se ele se submeter a verdades impostas, abre mão de poderdizer o que pensam.

Quais os benefícios de desmontar a caixa?

Barros Filho - O profissional ganha lucidez sobre a própria vida e suas condições de trabalho não se deixando explorar, ou continuar em um lugar que não está alinhado com aquilo que acredita. Se você tem princípios que não são compartilhados na empresa que trabalha, por exemplo, é melhor ter essa lucidez o quanto antes e montar um plano para sair. Num primeiro momento isso pode ser ruim, mas a busca por um trabalho onde haja coerência é uma busca que no longo prazo compensa.  Você ganha dignidade e tem mais chances de encontrar o propósito no trabalho, algo tão falado hoje em dia.

Se existe alguma chance de a vida ser boa de ser vivida é quando ela resulta de suas livres escolhas — para o bem ou para o mal. Há inúmeras possibilidades. O propósito do trabalho tem de ter a ver com aquilo que temos de melhor, que são nossascompetências naturais e aquilo que nos encanta fazer. E disso não podemos abrir mão.

Qual a hora certa de fazer isso? É possível listar cinco passos para essa desconstrução como pretendem alguns autores? 

Barros Filho - Deve ser uma iniciativa própria, no momento em que o profissional perceber que aquela forma de trabalhar já não faz mais sentido e que ele precisa começar a tomar as próprias decisões. A autoajuda, por exemplo, é uma forma contemporânea que desobriga as pessoas de fazer escolhas.

O autor já diz a elas o que fazer. E diz isso com a graça de que seguindo essa receita o sucesso chega. De um lado isso diminui a angústia, já que o profissional não precisa pensar, apenas seguir um manual. Por outro, faz com que ele perca a oportunidade de encontrar o significado de seu trabalho: vai seguir dez lições que servem para qualquer um e que não dão certo, pois não existe receita pronta para nada.

Assim, também não há uma lista para a desconstrução. Quem sai da caixa seguindo cinco passos já vai direto para dentro de outra caixa.

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