Globalize-se já! É o que o futuro exige
O francês Dominique Turpin dirige, desde o ano passado, uma das mais renomadas escolas de negócios do mundo, o IMD. Segundo ele, o profissional brasileiro é lento, bairrista e pouco curioso
Da Redação
Publicado em 13 de junho de 2013 às 19h30.
São Paulo - Dominique Turpin assumiu a direção do International Institute for Management Development, mais conhecido como IMD, escola de negócios suíça, em julho de 2010. Natural da França, ele tem nacionalidade suíça e sotaque de indiano. Reflexo da vida globalizada que leva. Ao longo dos anos, Dominique já deu palestras e prestou consultoria na Ásia, na Europa e nas Américas.
Passou anos no Japão como responsável pelas operações de uma empresa francesa e como professor de uma faculdade local. Desde os anos 1980, ele vem ao Brasil a trabalho. Nessas ocasiões, costuma visitar empresas, fazer palestras e conversar com líderes de diferentes companhias nacionais.
Segundo ele, os brasileiros não estão prontos para a competição global. Isso porque têm baixa mobilidade e olham apenas para o próprio umbigo. Confira trechos editados da entrevista de Dominique à repórter Tatiana Sendin, da VOCÊ RH.
VOCÊ RH - O que é ter uma mente globalizada?
Dominique Turpin - Os pesquisadores quando falam em mente globalizada citam três dimensões: autoconfiança, para lidar com a situação inusitada; flexibilidade, para pensar como os locais para lidar com determinada circunstância; e curiosidade. Se você é um executivo no Brasil baseado em São Paulo e se recusa a se mudar para Recife, você não tem uma mente brasileira, e muito menos uma global.
Você precisa pensar na África, na China ou na América do Norte e ser capaz de lidar com gente de culturas diferentes. Por exemplo, eu vou muito ao Japão. Lá, as pessoas não cancelam as reuniões. No Brasil, contudo, é comum isso acontecer. Você precisa aceitar esse tipo de coisa sem se chatear.
VOCÊ RH - Por que essas competências são tão importantes no mundo atual?
Dominique Turpin - As oportunidades nos mercados tradicionais, como Estados Unidos, Europa e Japão, acabaram. As empresas brasileiras vão enfrentar mais competição das estrangeiras porque americanos, japoneses e europeus precisam encontrar o crescimento em algum lugar.
Se vocês brasileiros acreditarem que a competição é apenas nacional, vão cometer um grande erro. As corporações precisam se tornar um campeão local, depois, um player regional e então atacar o resto do mundo. Por isso, é importante para o Brasil ter companhias fortes. E elas se tornam fortes ao lutar todos os dias contra os estrangeiros. Porque, se vocês não forem fortes, nós assumiremos.
VOCÊ RH - E o senhor acha que as empresas brasileiras estão preparadas para isso?
Dominique Turpin - Quando eu visito as companhias brasileiras, pergunto quantos estrangeiros há no conselho, na diretoria ou nas altas gerências. Geralmente são pouquíssimos. O perigo dessa prática é as organizações estarem focando muito no mercado doméstico. Hoje, isso pode funcionar porque as oportunidades são muitas, mas as empresas têm pensado apenas em Brasil, Brasil, Brasil. Aqui, há muitas fontes de recursos naturais e as organizações que estão se tornando globais são focadas em commodities.
Os chineses compram seus recursos, levam para a China, transformam, adicionam valor e os vendem no Brasil como produto. Eles ganham dinheiro em cima dos brasileiros. Isso é perigoso. As companhias brasileiras precisam adicionar valor aos recursos, transformá-los, senão vão perder. Os brasileiros são um pouco... não quero dizer lentos, mas não estão prontos para a competição global. O único jeito de o Brasil se tornar economicamente independente é ter empresas fortes e dominantes no mundo.
VOCÊ RH - Qual o impacto disso na economia?
Dominique Turpin - O preço das commodities, do ferro, do algodão, da laranja, dobrou nos últimos seis meses porque há sérios problemas de produção na China, na Rússia, na Austrália, em todo lugar, por causa das mudanças climáticas. Todas essas coisas que estão acontecendo na Líbia, no Egito e na Tunísia têm a ver com isso, não é apenas por fator político ou jeito de viver das pessoas.
Há seis meses, na Tunísia e no Egito, a grande reclamação era o preço da comida. Essa é a grande questão para os próximos dez anos — a escassez de produtos naturais. Um executivo com mente global é capaz de conectar esses pontos: economia, política, mudança climática. Um líder global ajuda a pensar de forma abrangente, ter uma visão holística dos negócios, da indústria e das oportunidades.
VOCÊ RH - E como um profissional pode desenvolver uma mente global?
Dominique Turpin - Se você fica no Brasil, tudo é previsível, tudo é confortável. Mas se você vai para a Finlândia, onde faz menos 37 graus, ou para a China, onde você anda nas ruas e não consegue ler nada naquelas placas, você é confrontado e precisa de autoconfiança e flexibilidade para lidar com situações inusitadas.
Um ex-presidente da Nestlé costumava dizer: não me importa quantos idiomas meus funcionários sabem falar, mas quantos eles estão entusiasmados a aprender. Na Nestlé, exemplo de corporação globalizada, no alto escalão existem executivos de 13 diferentes países.
São Paulo - Dominique Turpin assumiu a direção do International Institute for Management Development, mais conhecido como IMD, escola de negócios suíça, em julho de 2010. Natural da França, ele tem nacionalidade suíça e sotaque de indiano. Reflexo da vida globalizada que leva. Ao longo dos anos, Dominique já deu palestras e prestou consultoria na Ásia, na Europa e nas Américas.
Passou anos no Japão como responsável pelas operações de uma empresa francesa e como professor de uma faculdade local. Desde os anos 1980, ele vem ao Brasil a trabalho. Nessas ocasiões, costuma visitar empresas, fazer palestras e conversar com líderes de diferentes companhias nacionais.
Segundo ele, os brasileiros não estão prontos para a competição global. Isso porque têm baixa mobilidade e olham apenas para o próprio umbigo. Confira trechos editados da entrevista de Dominique à repórter Tatiana Sendin, da VOCÊ RH.
VOCÊ RH - O que é ter uma mente globalizada?
Dominique Turpin - Os pesquisadores quando falam em mente globalizada citam três dimensões: autoconfiança, para lidar com a situação inusitada; flexibilidade, para pensar como os locais para lidar com determinada circunstância; e curiosidade. Se você é um executivo no Brasil baseado em São Paulo e se recusa a se mudar para Recife, você não tem uma mente brasileira, e muito menos uma global.
Você precisa pensar na África, na China ou na América do Norte e ser capaz de lidar com gente de culturas diferentes. Por exemplo, eu vou muito ao Japão. Lá, as pessoas não cancelam as reuniões. No Brasil, contudo, é comum isso acontecer. Você precisa aceitar esse tipo de coisa sem se chatear.
VOCÊ RH - Por que essas competências são tão importantes no mundo atual?
Dominique Turpin - As oportunidades nos mercados tradicionais, como Estados Unidos, Europa e Japão, acabaram. As empresas brasileiras vão enfrentar mais competição das estrangeiras porque americanos, japoneses e europeus precisam encontrar o crescimento em algum lugar.
Se vocês brasileiros acreditarem que a competição é apenas nacional, vão cometer um grande erro. As corporações precisam se tornar um campeão local, depois, um player regional e então atacar o resto do mundo. Por isso, é importante para o Brasil ter companhias fortes. E elas se tornam fortes ao lutar todos os dias contra os estrangeiros. Porque, se vocês não forem fortes, nós assumiremos.
VOCÊ RH - E o senhor acha que as empresas brasileiras estão preparadas para isso?
Dominique Turpin - Quando eu visito as companhias brasileiras, pergunto quantos estrangeiros há no conselho, na diretoria ou nas altas gerências. Geralmente são pouquíssimos. O perigo dessa prática é as organizações estarem focando muito no mercado doméstico. Hoje, isso pode funcionar porque as oportunidades são muitas, mas as empresas têm pensado apenas em Brasil, Brasil, Brasil. Aqui, há muitas fontes de recursos naturais e as organizações que estão se tornando globais são focadas em commodities.
Os chineses compram seus recursos, levam para a China, transformam, adicionam valor e os vendem no Brasil como produto. Eles ganham dinheiro em cima dos brasileiros. Isso é perigoso. As companhias brasileiras precisam adicionar valor aos recursos, transformá-los, senão vão perder. Os brasileiros são um pouco... não quero dizer lentos, mas não estão prontos para a competição global. O único jeito de o Brasil se tornar economicamente independente é ter empresas fortes e dominantes no mundo.
VOCÊ RH - Qual o impacto disso na economia?
Dominique Turpin - O preço das commodities, do ferro, do algodão, da laranja, dobrou nos últimos seis meses porque há sérios problemas de produção na China, na Rússia, na Austrália, em todo lugar, por causa das mudanças climáticas. Todas essas coisas que estão acontecendo na Líbia, no Egito e na Tunísia têm a ver com isso, não é apenas por fator político ou jeito de viver das pessoas.
Há seis meses, na Tunísia e no Egito, a grande reclamação era o preço da comida. Essa é a grande questão para os próximos dez anos — a escassez de produtos naturais. Um executivo com mente global é capaz de conectar esses pontos: economia, política, mudança climática. Um líder global ajuda a pensar de forma abrangente, ter uma visão holística dos negócios, da indústria e das oportunidades.
VOCÊ RH - E como um profissional pode desenvolver uma mente global?
Dominique Turpin - Se você fica no Brasil, tudo é previsível, tudo é confortável. Mas se você vai para a Finlândia, onde faz menos 37 graus, ou para a China, onde você anda nas ruas e não consegue ler nada naquelas placas, você é confrontado e precisa de autoconfiança e flexibilidade para lidar com situações inusitadas.
Um ex-presidente da Nestlé costumava dizer: não me importa quantos idiomas meus funcionários sabem falar, mas quantos eles estão entusiasmados a aprender. Na Nestlé, exemplo de corporação globalizada, no alto escalão existem executivos de 13 diferentes países.