Starbucks reforça política de trabalho presencial para equipes corporativas em sua sede. (Leonardo Barci/Creative Commons)
Redator na Exame
Publicado em 30 de outubro de 2024 às 10h08.
Starbucks decidiu intensificar a exigência de que seus funcionários corporativos estejam presentes no escritório três dias por semana, seguindo uma tendência observada em diversas empresas que, após a pandemia, buscam restaurar a cultura organizacional presencial. Em um comunicado interno, o CEO da Starbucks, Brian Niccol, anunciou que será implementado, a partir de janeiro, um “processo de responsabilização” para monitorar o cumprimento da política de trabalho híbrido. A medida traz uma possível penalidade: funcionários que não cumprirem a política poderão enfrentar demissões. Essa estratégia visa, segundo a empresa, retomar o envolvimento das equipes na cultura corporativa e assegurar um ambiente colaborativo. A reportagem é do The Wall Street Journal.
Niccol, que assumiu a Starbucks recentemente e tem uma carreira marcada por passagens em grandes empresas como Chipotle Mexican Grill, destacou que a nova fase da companhia requer maior engajamento interno, com práticas que assegurem a integração dos times e permitam um fluxo de trabalho mais colaborativo. O CEO, que possui uma rotina híbrida e realiza viagens frequentes entre sua casa na Califórnia e o escritório em Seattle, afirmou que seu compromisso com o trabalho presencial está alinhado com o que é esperado de todos os funcionários da Starbucks. A empresa, por sua vez, esclareceu que não houve mudanças no número de dias exigidos para o trabalho presencial, mas a exigência será rigorosamente aplicada. Essa decisão segue uma série de ações que visam a reestruturação da Starbucks para garantir sua competitividade no mercado.
Desde o início da pandemia, a dinâmica de trabalho em empresas de diferentes setores sofreu uma transformação significativa. Inicialmente, o modelo remoto tornou-se uma prática generalizada, como forma de proteger a saúde dos trabalhadores e seguir as regulamentações sanitárias. Porém, com a gradual normalização, muitas empresas começaram a revisar suas políticas, incentivando o retorno parcial ou integral ao escritório. A Starbucks não é a única a reforçar essas diretrizes. Grandes empresas como Amazon, JPMorgan Chase, Boeing, Dell Technologies e UPS já anunciaram recentemente mudanças semelhantes, com parte de seus funcionários voltando para o trabalho presencial.
Estudos do mercado de trabalho apontam que, no terceiro trimestre, houve um aumento na porcentagem de empresas que exigem que os trabalhadores estejam no escritório cinco dias por semana. Além disso, índices de vacância em escritórios nos Estados Unidos estabilizaram, sugerindo que a procura por espaços físicos está em ascensão. Executivos de diversas companhias justificam essa medida como um meio de restaurar o espírito de equipe e a cultura corporativa que a rotina de trabalho remoto havia diluído.
A nova diretriz vem após um período de desafios para a Starbucks. A empresa relatou, recentemente, uma queda nas vendas de lojas nos Estados Unidos, com uma redução de 6% nas transações no quarto trimestre. Os resultados decepcionaram o mercado, levando a empresa a suspender suas projeções financeiras para o ano fiscal de 2025, diante da incerteza econômica e da necessidade de reavaliar suas estratégias.
Em comunicado, Niccol reconheceu que a Starbucks precisa repensar seu modelo de negócios, a fim de assegurar uma recuperação nas vendas e satisfazer as expectativas dos investidores. “Precisamos mudar nossa estratégia para voltar a crescer”, disse o CEO, acrescentando que a Starbucks analisará seus preços, redesenhará seu marketing e investirá em melhorias nos ambientes dos cafés, tornando-os espaços mais atrativos para os consumidores. Ele também enfatizou a importância de uma estratégia que valorize o conceito de experiência no ponto de venda, ponto central da marca Starbucks.
A decisão de impor uma política de retorno ao escritório não foi recebida sem polêmicas. Niccol, como novo CEO, enfrenta resistência de parte da equipe, especialmente por manter sua própria rotina híbrida, com viagens para Seattle realizadas em jato corporativo. Alguns trabalhadores questionaram o exemplo que o CEO estaria dando ao permitir que sua presença física no escritório não siga um padrão regular. Essa insatisfação revela um desafio maior: o equilíbrio entre a política de trabalho híbrido e as expectativas dos funcionários quanto à flexibilização, especialmente após mais de dois anos de adaptação ao home office.