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"Estamos recriando o mundo"

A frase sintetiza o atual momento em que vivemos na opinião do embaixador Marcos de Azambuja. Aqui, ele fala sobre a nova safra de líderes, meio ambiente e China

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Da Redação

Publicado em 10 de outubro de 2010 às 03h42.

O carioca Marcos de Azambuja, de 74 anos, fez carreira diplomática no Itamaraty, atuando como embaixador do Brasil na Argentina (1992 a 1997) e na França (1997 a 2003). Experiente negociador para temas espinhosos, como desarmamento, integração regional e desenvolvimento sustentável, o embaixador também é um conhecedor das boas práticas de governança corporativa. Atualmente, é membro do conselho consultivo da PSA (Peugeot-Citroën), vice-presidente do Centro Brasileiro de Relações Internacionais (Cebri) e palestrante profissional. VOCÊ S/A foi ouvir Marcos de Azambuja para saber sua opinião sobre a crise, a nova safra de líderes que está chegando ao poder e a China. Confira trechos editados da entrevista.

Qual a melhor maneira de encarar a crise?
As pessoas têm de focar no pós-crise. Pensar, primeiro, no que fazer quando ela começar a perder força e, depois, estar preparadas para quando o mundo se reorganizar. Esta é uma crise grave, mas virá um novo mundo.

Que mundo novo é esse?
Por ser emergente, o Brasil tem condições de aproveitar a crise para mudar seu patamar de inserção internacional e sair mais alto do que entrou nessa pirâmide - o que era impensável décadas atrás.

A Geração Y (nascidos após 1980) tem uma visão equilibrada do que está acontecendo?
É da natureza do jovem o sentido de urgência, a vitalidade, a pressa, a ambição. Não se pode pedir ao moço que ele seja outra coisa se não moço. Isso seria negar sua própria condição. O que a nova geração deve levar em conta é que há períodos em que pouca coisa acontece e o tempo parece andar mais devagar, e há períodos em que as coisas andam muito depressa. E a crise é mais um acelerador do que um retardador.

Existe um glamour em torno da carreira global. Afinal, o brasileiro gosta de sair do Brasil?
Primeiro, nós temos um país tão grande que boa parte dos brasileiros não quer sair daqui. Tendemos a olhar para o nosso próprio umbigo. Segundo, nós falamos uma língua que não é universal. Terceiro, somos criados com uma ideia de que o Brasil se basta, e esse ufanismo é muito nosso. Então temos uma permanente tensão entre o brasileiro internacional e aquele que vive exclusivamente a realidade nacional.

Quais são as virtudes dos executivos brasileiros?
Ser flexível e aberto, porque tudo o que não somos é um país rígido. Aqui é permitido um dinamismo social indispensável para que pudéssemos entrar num ciclo virtuoso de uns anos pra cá: primeiro acertamos a mão no processo político, com o restabelecimento da democracia no final dos anos 80, depois no processo macroeconômico, com o Real e a racionalização da economia. E agora com a política inteligente de inclusão social, que incorporou numa base de prosperidade e de riqueza real um segmento da sociedade que estava totalmente esquecido.

Muitos presidentes de empresa estão entusiasmados com a economia da China mesmo na crise. Ela vai substituir os Estados Unidos?
Há uma China que transmite grande otimismo. Incorporar 600 milhões de pessoas numa sociedade de consumo é um ganho extraordinário. O outro lado da moeda: mais de 800 milhões de chineses vivem no campo, em pequenas aldeias. Essa parcela da população está fora da civilização urbana. Há uma China das luzes e outra das trevas - e ambas coexistem. O mesmo se dá na Índia. Mas o fato central é que nos últimos anos o país é o exemplo mais brilhante de dinamismo econômico. O Brasil precisa explorar mais as parcerias comerciais com a China.

Há semelhanças com o Brasil?
Considerando as economias emergentes, o Brasil fez melhor o dever de casa do que os outros países. Já incorporamos as populações rurais às cidades, e até por isso temos o problema do caos urbano. Mas a ciência e a tecnologia na China e na Índia estão mais adiantadas do que aqui. No entanto, a nossa sociedade é mais harmoniosa do que as dos outros países emergentes.

As consequências do crescimento global acelerado são os danos ao meio ambiente. O senhor vê soluções?
Hoje as pessoas querem qualidade de vida com sustentabilidade. Não sou pessimista. Acho a capacidade de criação humana mais veloz do que a de destruição dos recursos físicos. Nós vamos encontrar, pouco a pouco, maneiras de fazer mais e melhor causando menos danos ao planeta.

Mas há pavor em relação a esta questão.
Estamos às vésperas de novas revoluções industriais, científicas e tecnológicas grandes - informática; genética humana, vegetal e animal; telecomunicações. Estamos recriando o mundo. Ser jovem hoje é melhor do que quando eu era moço, porque as fronteiras estão mais amplas.

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