Exame Logo

Esta é a diferença entre amar seu trabalho e ser workaholic

Quando se fala em envolvimento com o trabalho, a fronteira entre o saudável e o patológico é sutil. Veja o que distingue obcecados e apaixonados pela profissão

Profissional afogado em papéis: distinção entre obcecados e apaixonados pelo trabalho pode ser sutil (Nomadsoul1/Thinkstock)

Claudia Gasparini

Publicado em 26 de fevereiro de 2016 às 06h00.

São Paulo - Sentir paixão pela profissão é um sonho antigo e universal. Ainda no século VI a.C., o filósofo chinês Confúcio formulou um provérbio que resumiria esse desejo: “Escolha um emprego que você ame, e nunca mais você precisará trabalhar na vida”.

É o modo ideal de viver a carreira - o ofício é tão prazeroso que, por vezes, até perde sua natureza de obrigação e se transforma numa espécie de arte, esporte, brincadeira. Nem parece trabalho.

A sabedoria do ditado chinês é inegável, mas exige uma ressalva. Ainda que amar a sua profissão seja um ingrediente essencial para a felicidade , é preciso cuidar para que o gosto pelo ofício não se converta em obsessão.

Para o coach Alexandre Rangel, sócio da Alliance Coaching, a fronteira entre o saudável e patológico nessa relação é sutil.

Para começar, o excesso não aparece necessariamente no tempo dedicado ao emprego: ao contrário do que pode parecer, nem sempre o workaholic trabalhará mais horas do que um mero apaixonado pelo seu ofício.

Afinal, diz o especialista, amar o trabalho frequentemente produz o famoso "estado de flow”, ou fluxo. Consagrado pelo psicólogo húngaro Mihály Csíkszentmihályi, o conceito descreve um estado mental em que o profissional se sente completamente absorto pelo que está fazendo - como se estivesse num túnel e não enxergasse nada além do seu objetivo.

Quando entra em fluxo, você pode trabalhar ininterruptamente até altas horas da noite, sem perceber. Mas há um detalhe: apesar do ritmo frenético, você produz com grande qualidade e sente um enorme prazer durante o processo. “É como um pintor que trabalha madrugada adentro para criar sua obra-prima”, compara Rangel.

Segundo o coach, o profissional apaixonado pode viver esses episódios de produção desenfreada - em que ele se esquecerá até de beber água ou ir ao banheiro para continuar trabalhando -, mas saberá parar em algum momento. Ele conseguirá, sobretudo, buscar e encontrar prazer em outras esferas da vida.

“Quando encerra o expediente, quem ama a profissão se sente gratificado, mas em seguida vai encontrar os amigos, conviver com a família, investir em hobbies e entretenimento”, diz. "É a forma mais perfeita de viver a carreira".

Comportamentos tóxicos
A rotina do workaholic é bastante diferente. "Para ele, o excesso não é episódico, é um modus operandi, explica André Caldeira, especialista em gestão de carreira e autor do livro “Muito trabalho e pouco stress” (Editora Évora). "Ele não sabe trabalhar de uma forma que não seja compulsiva".

Nesse caso, não acontecem os prazerosos momentos de “flow”: as longas sessões de atividade costumam ser frias, mecânicas e frustrantes.

Para o workaholic, o trabalho é exatamente como uma droga. “Ele não sente mais satisfação, só tenta saciar uma necessidade patológica de vencer sempre e jamais ser visto como incompetente pelos demais”, afirma Rangel.

O resultado desse comportamento costuma ser devastador: isolamento social, degradação das relações afetivas, queda de desempenho e abalo da saúde física e mental.

Mas o que pode transformar um profissional saudável em um workaholic? Para Caldeira, são muitos os motivos que podem levar ao desequilíbrio.

O principal diz respeito à própria personalidade e outros aspectos psicológicos do indivíduo. “Muito depende do grau de autoconhecimento e maturidade de cada um, isto é, na capacidade de entender se a sua forma de trabalhar é construtiva ou destrutiva para ele mesmo”, diz o autor.

Também não se pode negar o impacto de fatores externos. A tecnologia, por exemplo, ajuda a criar, manter e aprofundar o vício. Munido de smartphone, tablet e computador, o workaholic tem a chance de se relacionar continuamente com o trabalho - a qualquer hora e em qualquer lugar.

Outro fator que estimula o excesso é a própria situação econômica do país, diz Caldeira. Em tempos de crise e demissões em massa, o medo de perder o emprego faz com que muitos profissionais se sintam frágeis, inseguros e, no limite, dependentes do trabalho.

Em entrevista exclusiva a EXAME.com, o professor espanhol José Ramón Pin, da IESE Business School, diz que deixar-se contaminar pela melancolia coletiva e pelo pânico da demissão não salvará ninguém da crise no Brasil. Muito pelo contrário.

O clima de incerteza e pessimismo nas empresas propicia diversos comportamentos tóxicos - da obsessão pelo trabalho à apatia completa. O momento exige atenção máxima. "É preciso tomar cuidado para que a fase difícil vivida pelo país não destrua a sua relação com o trabalho”, afirma Caldeira.

São Paulo - Num mundo fixado em trabalho, investir em lazer e distração é essencial para levar uma vida saudável . Mas alguns hobbies oferecem muito mais do que prazer: eles têm impacto direto sobre as suas funções cerebrais e podem ser um grande combustível para a produtividade . Caminhar, jogar videogame e tocar um instrumento musical , por exemplo, são atividades que estimulam a criatividade, a memória e o pensamento estratégico. Navegue pelos slides para ver 9 hobbies que podem ajudá-lo a se tornar um profissional melhor, de acordo com pesquisas científicas recentes.
  • 2. Caminhar

    2 /10(Thinkstock/BrianAJackson)

  • Veja também

    Além de fazer bem para a saúde, andar pode melhorar o seu humor e até tornar você mais criativo. Um experimento conduzido por pesquisadores da Stanford University revelou uma associação direta entre a atividade e a capacidade de ter ideias originais. Os participantes da experiência mostraram um aumento de 60% em sua criatividade enquanto caminhavam.
  • 3. Tocar um instrumento musical

    3 /10(Thinkstock/Ingram Publishing)

  • O filósofo Friedrich Nietzsche dizia que, sem música, a vida seria um erro. O benefício trazido pela arte é ainda maior se você é quem está tocando. Uma pesquisa publicada em 2012 no Journal of Neuroscience revelou que treinamento musical - sobretudo na juventude - ajuda a aumentar o corpo caloso do cérebro, isto é, a parte que liga os dois hemisférios. Essa “ajudinha” impulsiona a memória e a capacidade de resolver problemas.
  • 4. Ler

    4 /10(Getty Images)

    Segundo pesquisadores da Universidade de Sussex, na Inglaterra, meia hora de leitura profunda causa reduz mais o estresse do que qualquer outra técnica tradicional de relaxamento. Outro estudo mostra que a leitura também melhora a capacidade de foco e a concentração, por simular uma espécie de transe parecido com o provocado pela hipnose.
  • 5. Jogar videogame

    5 /10(João Paulo / Stock Xchng)

    Nerds e geeks podem comemorar: jogar certos tipos de videogames melhora o raciocínio estratégico. De acordo com cientistas ingleses, jogos de estratégia em tempo real aceleram a capacidade de raciocinar sob pressão e aprender com erros passados. Já games de ação podem aumentar a capacidade de tomar decisões rapidamente.
  • 6. Jogar golfe

    6 /10(Thinkstock/Ingram Publishing)

    Partidas de golfe podem durar horas. Além de ser um grande exercício de calma e paciência, a prática do esporte incrementa a capacidade de resiliência e o desempenho em atividades diversas, segundo pesquisadores da Princeton University.
  • 7. Aprender uma nova língua

    7 /10(Thinkstock/Creatas)

    Um estudo conduzido por pesquisadores da Northwestern University revelou que pessoas bilíngues têm mais facilidade para resolver problemas do que aquelas que falam apenas um idioma. Além disso, cientistas suecos descobriram que a fluência numa segunda língua pode aumentar o córtex cerebral, que controla quase toda a capacidade mental de uma pessoa, da memória à capacidade de planejamento.
  • 8. Fazer exercícios físicos regulares

    8 /10(Thinkstock/Purestock)

    Um estudo da Dartmouth University tornou evidente a contribuição dos exercícios físicos regulares para o desempenho do cérebro. Em cerca de 60% da população, esse tipo de atividade aumenta o nível de BDNF, uma proteína ligada à inteligência, à concentração e à capacidade de aprendizado.
  • 9. Ouvir música

    9 /10(Stefano Tinti)

    Não sabe tocar nenhum instrumento? Ainda assim é possível aproveitar as vantagens da música para o seu cérebro. De acordo com cientistas da University of Birmingham, no Reino Unido, escutar música impulsiona o rendimento em atividades diversas. Gostou da ideia? Veja a lista de músicas para aumentar a concentração de EXAME.com no Spotify.
  • 10. Veja agora 15 frases budistas para deixar o seu trabalho mais inspirado

    10 /10(Thinkstock/Julien Grondin)

  • Acompanhe tudo sobre:Bem-estarcarreira-e-salariosComportamentoFelicidadePsicologiaWorkaholic

    Mais lidas

    exame no whatsapp

    Receba as noticias da Exame no seu WhatsApp

    Inscreva-se

    Mais de Carreira

    Mais na Exame