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E se país proibisse ligações e e-mails do trabalho após 18h?

Segundo Andrea Vaz, psicoterapeuta da Rhava Psicologia, uma lei como essa jamais funcionaria no Brasil


	Mulher usa computador: consequência de lei como a da França ou da Alemanha em mercado como o brasileiro, provavelmente, acarretaria maior número de horas extras
 (Getty Images)

Mulher usa computador: consequência de lei como a da França ou da Alemanha em mercado como o brasileiro, provavelmente, acarretaria maior número de horas extras (Getty Images)

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Da Redação

Publicado em 14 de abril de 2014 às 21h06.

Tem circulado pela internet a notícia de que a França proibiu funcionários de responderem e-mails ou atenderem ligações corporativas depois do expediente. Não é verdade. Mas e se fosse, e ainda por cima no Brasil?

A França é o único país do mundo a ter jornada de trabalho semanal de 35 horas (são 44 horas semanais no Brasil).

Mas a regra de desligar ferramentas de comunicação à distância vale apenas para os autônomos da área de engenharia, que não cumprem a jornada semanal.

Esses profissionais trabalham sob o regime de pacote de dias e a ideia do novo acordo é evitar jornadas cansativas.

O Ministério do Trabalho alemão também tem uma regra de "intervenção mínima" com seus funcionários.

Os profissionais do local não podem ser penalizados por desligar seus celulares ou por não responder mensagens fora do horário de trabalho. O gestor só pode entrar em contato com o funcionário em casos de emergência, quando o trabalho não pode ser adiado.

Mas não espere que apliquem essa regra por aqui. Segundo Andrea Vaz, psicoterapeuta da Rhava Psicologia, uma lei como essa jamais funcionaria no país. “As pessoas sempre burlam as leis no Brasil”, diz.

Também não funcionaria porque há uma diferença gritante entre a cultura dos países. Para Priscila Bellizzi, líder coach especialista em ambiente organizacional, os direitos trabalhistas são levados muito a sério na França.

Já o Brasil faz parte de um mercado emergente, completamente motivado por produção. “É difícil para os gestores levar adiante uma regra como essa, pois eles precisam entregar resultados acima de tudo. Iria prejudicar a eficiência da empresa”, diz.

Isso também explica o fato de as empresas valorizarem funcionários multidisciplinares. “Por causa do sistema econômico, o funcionário é responsável por várias atividades. É uma forma usada pelas empresas para otimizar o custo dos funcionários. A empresa busca reduzir sua equipe e fazer com que ela fique mais bem preparada, com funcionários generalistas, e não especialistas”, afirma Priscila.

A consequência de uma lei como a da França ou da Alemanha em um mercado como o brasileiro, provavelmente, acarretaria um maior número de horas extras.

“Se o funcionário for proibido de usar meios de comunicação após as 18h, ele terá muito mais trabalho acumulado e fará ainda mais hora extra”, afirma Priscila.


Segundo Andrea, reduzir a jornada de trabalho do brasileiro para 35 horas por semana também não iria funcionar. Afinal, já existe uma valorização em muitas empresas de que um bom funcionário precisa fazer mais do que 8 horas por dia, mesmo sem pagar hora extra.

“Moramos em um país subdesenvolvido onde, infelizmente, acontece uma exploração do trabalho individual que afeta todas as classes sociais”, afirma.

Qualquer lei de que altere o que já é seguido atualmente pelas empresas corre o risco de ser banalizado. “Por mais que proíbam, a lei vai acabar em desuso rapidamente. Faz parte da cultura brasileira”, afirma Andrea.

Dicas – Os brasileiros não podem se animar muito com regras como a da França ou da Alemanha. Mas, se você está incomodado com e-mails e tarefas a cumprir fora do horário do expediente, nem tudo está perdido.

Para Priscila, tudo é uma questão de posicionamento.

“O e-mail corporativo é um meio de comunicação formal da empresa. Use essa ferramenta para dizer ao seu gestor quais são suas condições de trabalho, registre que o horário do expediente já acabou e que você lidará com as novas demandas no dia seguinte. Mostre que você está atento às políticas do mercado”, afirma.

Segundo Priscila, é muito comum encontrar profissionais com baixa autoestima e baixa produtividade por causa de tarefas fora do horário de trabalho. “Se o funcionário tivesse se posicionado num primeiro momento, como forma de se resguardar como profissional qualificado, sempre valorizando a atividade da empresa, o problema teria sido resolvido”.

E não se preocupe com punições. “O funcionário estará sendo coeso diante de políticas que já existem e estará sendo profissional. Ele não pode ser punido por isso”, diz.

Dar ao gestor o seu e-mail pessoal não é o ideal, pois ele pode usar como um meio de se comunicar com o funcionário após o horário do expediente.

“Se o ambiente é profissional, o gestor não precisa ter acesso ao e-mail pessoal. Isso configura hora extra e invasão de privacidade. E se isso for levado à justiça, o funcionário ganha. O profissional precisa ter qualidade de vida depois do trabalho”, afirma Priscila.

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