Carreira

A Catho de novo em processo de roubo de currículos

Em julho, a Catho Online perdeu, em primeira instância, mais um processo por roubo de currículos. O presidente, Adriano Arruda, refuta a acusação e vai levar a briga adiante. É mais um episódio na história de altos e baixos do site

Adriano Arruda, presidente da Catho Online desde 2006 (Fabiano Accorsi/EXAME.com)

Adriano Arruda, presidente da Catho Online desde 2006 (Fabiano Accorsi/EXAME.com)

JE

José Eduardo Costa

Publicado em 28 de março de 2013 às 19h03.

São Paulo - Fundada em 1977 pelo americano Thomas Case como uma consultoria de recursos humanos, a Catho Online é hoje o maior site de classificados do país, com faturamento de 200 milhões de reais. Thomas já não dá mais expediente na empresa.

O ex-consultor vendeu o site em 2006 por 50 milhões de dólares para um fundo de investimentos americano, que também adquiriu no Brasil a Manager, que opera no mesmo segmento.

Atualmente o negócio é comandado pelo engenheiro Adriano Arruda, de 39 anos, pupilo do ex-chefe. Natural de Rio Claro, no interior paulista, Adriano foi recrutado por Thomas como programador em 1996, logo depois de ter se formado em engenharia da computação pela Universidade Estadual de Campinas. O engenheiro é o mentor do site que hoje tem 300 000 assinantes e 11 000 empresas clientes.  

 A Catho Online apostou que o trabalhador estaria disposto a pagar para arranjar uma ocupação. Ao cobrar do profissional (o valor da assinatura varia de 7,90 reais a 79,90 reais) e não da empresa, o site subverteu o modelo de negócio perpetuado pelos jornais.

A medida que o serviço foi se tornando mais popular, começaram a surgir as primeiras queixas de clientes, que reclamavam que pagavam pelo serviço, mas não eram chamados para uma entrevista sequer. E, pior, que as vagas eram falsas.

O problema chegou ao Ministério Público, que exigiu um Termo de Ajustamento de Conduta, cobrando que os contratos de serviço da companhia de classificados online fossem mais transparentes. 

A disputa judicial mais séria teve início em 2002. A concorrente Curriculum abriu um processo contra a Catho Online, acusando-a de furtar currículos de seu banco de dados. Em julho, a Justiça de São Paulo condenou, em primeira instância, o site, obrigando-o a indenizar a Curriculum em 21 milhões de reais.

É o segundo grande revés da Catho Online em três anos. Em 2008, a empresa foi condenada a pagar 13 milhões de reais por furtar currículos da base de dados de outra concorrente, a Gelre. “Estamos recorrendo e vamos ganhar”, diz Adriano, da Catho Online. O executivo falou a VOCÊ S/A de seu escritório no bairro da Bela Vista, em São Paulo. 

VOCÊ S/A - Por que há tantas queixas sobre os serviços da Catho Online?

Adriano Arruda - Proporcionalmente, o número de queixas não é tão elevado. Dos reclamantes, a grande maioria são profissionais que têm o currículo no site, porém, são passivos. Eles pagam para ter o currículo conosco, mas não mandam para os recrutadores, o documento está malfeito e eles não acessam nosso serviço regularmente. É mais fácil colocar a culpa na Catho. 

VOCÊ S/A - Vocês checam se os empregos que estão online existem de fato?

Adriano Arruda - As vagas que são colocadas no site são inspecionadas uma a uma. Verificamos o CNPJ da empresa para saber se ela existe, o telefone de contato, checamos se o nível corresponde ao salário da posição. Há todo um processo de auditoria antes de a vaga ir para o site. Quando temos alguma reclamação de um cliente, mapeamos quem visualizou o currículo da pessoa, quem acessou o telefone e, se houver alguma irregularidade, tiramos a organização do sistema.


VOCÊ S/A - Quais são as regras para publicação das vagas no site?

Adriano Arruda - Uma vaga postada pelo recrutador só pode ser renovada uma vez. O período de exposição é de 60 dias. A empresa tem que colocar o nome no anúncio de emprego — apenas 10% das posições não têm o nome da companhia associada à vaga. Empresas de recrutamento só podem anunciar, no máximo, cinco vagas, para evitar que nossos currículos sejam roubados. 

VOCÊ S/A - Qual o perfil das posições anunciadas online?

Adriano Arruda - Temos vagas para profissionais das classes B e C, de estagiários a posições mais qualificadas, com salários acima de 1 000 reais. 

VOCÊ S/A - Por que a empresa tem  tantos problemas com os concorrentes? 

Adriano Arruda - O Thomas era muito agressivo na prospecção de clientes. E naquela época a gente enviava muito e-mail marketing para atrair novos usuários. Nós entrávamos no site dos concorrentes, pagávamos para virar assinante e pegávamos os e-mails dos profissionais que estavam com eles. Depois, enviávamos nosso e-mail marketing para esse pessoal.

O objetivo era tornar a Catho mais conhecida. Naquele momento, essa era uma prática de mercado. Hoje, as empresas que operam nesse segmento não deixam o e-mail do usuário aberto no site. De 2006 para cá, com a entrada do fundo de investimento americano Tiger, tivemos de mudar uma série de procedimentos. Somos auditados pela KPMG e temos de responder aos nossos acionistas. 

VOCÊ S/A - Como a empresa cresceu tanto?

Adriano Arruda - Nós fomos os primeiros. Hoje temos 300 000 assinantes e recebemos 5 000 currículos por dia. Desses, 2 000 abandonam nosso serviço após os sete dias grátis. Nós então ligamos para essas pessoas e ainda conseguimos trazer de volta 40% delas. Nós investimos 35 milhões de reais em propaganda e temos um time de 50 bons consultores, que visitam as 1 000 maiores companhias do Brasil. Essas visitas servem para fazer relacionamento e trazer as melhores vagas para o site. É uma operação que nenhum outro concorrente faz.

VOCÊ S/A - Em que situação o assinante tem o dinheiro de volta?

Adriano Arruda - O usuário tem sete dias de serviço grátis, e 15% dos usuários conseguem emprego nesse período. Durante os sete dias, ele pode disponibilizar seu currículo no site e procurar vagas. Após esse período ele tem de pagar. Nosso plano é trimestral, mas o assinante cancela quando quiser. Nesse caso, damos a ele duas opções: cancelamento com devolução de dinheiro e desconto pelos dias de serviço, ou cancelamento sem a devolução da grana mas com direito a dois anos de crédito, caso o cliente deseje postar novamente o currículo. 


VOCÊ S/A - Vocês foram condenados em primeira instância em dois processos por roubo de currículo. A Catho Online discorda da decisão?

Adriano Arruda - Lógico que sim. Estamos recorrendo e vamos ganhar. Antes, o Thomas era quem acompanhava esses processos. Hoje quem cuida são os advogados do Pinheiro Neto. É outra mentalidade. A Gelre quis tentar fazer um acordo conosco. Nesse caso, a Catho não vai fazer acordo.

VOCÊ S/A - Você acompanha o site?

Adriano Arruda - Eu sou muito criterioso com relação à informação que está no nosso site e com relação aos números que estão nos nossos anúncios. 

VOCÊ S/A - A Catho é uma empresa idônea?

Adriano Arruda - Somos uma empresa idônea. Eu vou para Nova York apresentar os números da Catho [na reunião anual com os investidores] e expor nosso modelo de negócio, e sou aplaudido pelos acionistas e por outros executivos que tocam negócios similares. No Brasil, sempre fomos referência.

Saíram daqui profissionais que hoje dirigem outras grandes empresas, como Leandro Idesis (diretor executivo da Manager Online), Luiz Pagnez (diretor de negócios do UOL) e Rodolfo Ohl (contratado pela Monster e atualmente gerente-geral da Survey Monkey). Não somos picaretas. 

Acompanhe tudo sobre:CathoEdição 159EmpregosEmpresasEmpresas de internetEntrevistas

Mais de Carreira

Ele é júnior com salário de sênior: veja quem é o profissional que as empresas brigam para ter

Estas são as três profissões mais valiosas até o final da década; veja se a sua está na lista

Como usar a gamificação para transformar o engajamento da sua equipe

5 tipos de vampiros emocionais e como eliminá-los da sua vida