Mãe e executiva: muitos temores rondam a cabeça das mulheres ao virarem mães (Ariel Skelley/Getty Images)
Redação Exame
Publicado em 12 de maio de 2023 às 11h46.
Última atualização em 15 de maio de 2023 às 16h34.
Por Sofia Esteves, fundadora e presidente do conselho Cia de Talentos
Perder o emprego ao voltar da licença-maternidade e de ficar estagnada no trabalho são alguns dos temores que assombram mulheres que vivem a maternidade — ou desejam realizar esse sonho um dia. Precisamos falar sobre isso e mudar essa realidade
Ser mãe é uma experiência indescritível! Olhar nos olhos da sua criança pela primeira vez, acompanhar seus primeiros passos, as primeiras palavras, ver crescer, se desenvolver, celebrar suas conquistas e ajudar a levantar nos tropeços da vida.
Eu sou mãe de dois meninos — rapazes, na verdade — e posso dizer que essa tem sido uma experiência maravilhosa! Mas uma experiência que vem também acompanhada de alguns medos.
Afinal, é com os primeiros passos que vem também a primeira queda, a insegurança sobre como será o primeiro dia de aula, o receio em relação às suas decisões… Será que saberão se virar por conta própria? Serão que estão andando com boas companhias? Será que ensinamos tudo o que era preciso? Será que estão em segurança?
Esses questionamentos são naturais e fazem parte do “pacote”. Porém, a verdade é que muitos dos medos que passam pela cabeça de uma mãe não deveriam existir.
Estou me referindo àqueles relacionados à carreira:
● O medo de retornar da licença-maternidade e, tempo depois, ser demitida.
● O medo de ter dificuldade para conciliar a vida profissional com a responsabilidade pela criança.
● O medo de faltar flexibilidade, apoio e compreensão no ambiente de trabalho.
● O medo de ser preterida para uma promoção porque, supostamente, mães se dedicam menos ao trabalho — nem preciso dizer que isso é uma grande mentira.
● O medo de ser pressionada a retornar para a empresa rapidamente.
A lista continua e, infelizmente, essa imensidão de temores faz com que muitas mulheres que querem ser mães pensem mil vezes antes de engravidar ou adotar uma criança.
Faz também com que elas adiem esse sonho ou, mesmo quando o realizam, não consigam desfrutar tanto da experiência. Porque, por trás de toda aquela sensação gostosa que é amar, educar e criar alguém para esse mundo, existe uma sombra de medo grudada em você.
Aquele “fantasma” pairando no ar e assombrando com a ideia de que, talvez, esse sonho que se realizou cobre um preço caro.
Para todas aquelas que se sentem assim, meu recado é: não deixem esses medos dominarem a sua vida.
Sei que é mais fácil falar do que fazer, mas acredito também que é importante ter uma rede de apoio dando suporte tanto nas questões práticas do dia a dia quanto nos dilemas emocionais. Alguém dizendo que os medos podem roubar uma parte importante da sua experiência como mãe, como profissional, como mulher.
Os medos nos deixam inseguras, nos impedem de dar alguns passos e nos fazem desistir de outros sonhos. Achamos que, para lidar com aquele temor, é melhor mesmo abrir mão da nossa vontade. Deixar para lá!
Só que, de alguma forma, ao desistir dos nossos planos, abrimos espaço para que o mercado continue como está. Para que empresas achem natural deixar de contratar uma mulher que está grávida, não considerem uma mãe para um cargo de liderança, usem parâmetros diferentes para avaliar o desempenho delas.
Ao escrever isso, não quero culpabilizar as mulheres. As organizações devem, sim, ser responsabilizadas, cobradas e conscientizadas sobre a urgência de mudar esse cenário.
Contudo, para isso acontecer, nós mesmas não podemos nos conformar com essa situação e abrir mão dos nossos desejos.
Então, se você se encontra em uma situação de medo, converse com alguém da sua empresa. Veja se esses receios são causados por uma cultura corporativa prejudicial ou se é algo provocado especificamente pela sua liderança direta. Busque a pessoa de RH para conversar, entenda quais são as suas opções.
Se for o caso de tentar outras possibilidades no mercado, acione seu networking, procure empresas que se destacam pelo ambiente de trabalho, que tenham boas práticas voltadas para o bem-estar das pessoas, que respeitem todo mundo.
Fale também com outras mães para entender como foi a experiência delas. Pegue dicas e conselhos, tire dúvidas.
Enfim, siga a sua jornada para bem longe de todos aqueles fantasmas. E, no caminho, lembre-se: não dê o poder do trabalho a impedir de realizar um sonho, seja ele qual for!