Consumo saudável, endividamento zero
Proteja seu bolso de tentações com juros baixos e impostos reduzidos
Da Redação
Publicado em 21 de março de 2013 às 13h16.
São Paulo - Desconto. Basta essa palavra aparecer para que um consumidor normal se transforme num comprador voraz. De promoções a redução de impostos, qualquer faixa vermelha nas vitrines já atrai milhares de brasileiros.
Com o fim da redução do Imposto sobre Produtos Industrializados ( IPI ) sobre os eletrodomésticos, no dia 31 de março, a previsão é de que uma boa parcela dos brasileiros corra às lojas à procura de boas oportunidades de compra.
É justamente aí que mora o perigo. Lojas de braços abertos somadas a consumidores famintos, que não medem sua real necessidade e muito menos a capacidade de endividamento, são um sinal amarelo para o bolso. O fato é que o brasileiro anda devendo e não tem conseguido pagar suas contas.
A inadimplência já incomoda as próprias instituições financeiras, que tiveram o lucro prejudicado graças aos maus pagadores. Segundo dados do Banco Central, o percentual de inadimplentes atingiu 7,3% em dezembro de 2011, número bem superior ao mesmo mês de 2010, quando representavam 5,7% do total.
Para Ricardo Fairbanks, coordenador da consultoria Dinheiro em Foco, o endividamento em si não é o maior problema. "O que preocupa é a forma indiscriminada com que empréstimos e parcelamentos são feitos", diz. Os valores da tevê de LCD, da geladeira e do último modelo de máquina de lavar podem ser divididos a perder de vista.
Para Ricardo, esse é um dos indicativos clássicos de que o indivíduo está a caminho do endividamento nocivo. "Quando a pessoa tem vários cartões de crédito com vencimentos diferentes e começa a programar suas contas a partir dessas datas, há algo errado", afirma.
Crédito
O parcelamento e a disponibilidade de crédito podem ser ferramentas facilitadoras, desde que usadas com parcimônia. A capacidade de endividamento está diretamente atrelada aos compromissos financeiros que têm de ser honrados. Para um indivíduo solteiro, que mora com os pais, Ricardo indica que até 60% da sua receita pode ser comprometida em parcelamentos.
No entanto, se há contas como aluguel e escola dos filhos, a coisa muda de figura. "Para um pai de família que tem o orçamento apertado, o endividamento deve ser zero, pois diante de qualquer imprevisto ele pode virar um inadimplente", diz o consultor.
Nos últimos dez anos, comprar ficou bem mais fácil devido ao custo do crédito, que reduziu significativamente os juros. A taxa Selic, que baliza os juros no mercado, chegou a 26,5% ao ano em março de 2003, mas hoje está em 10,5%. Porém, os juros praticados no mercado agravam ainda mais esse cenário, podendo ultrapassar os 600% ao ano em cartões de crédito com saldos devedores.
Com o crédito facilitado, é fácil se empolgar e passar da conta. A falta de educação financeira encurta bastante o caminho entre o endividamento e a inadimplência. “O consumidor não faz a conta objetivamente, mas percebe que, quando os juros caem, a parcela fica mais baixa e o prazo mais longo”, diz Luiz Rabi, gerente de indicadores de mercado da Serasa Experian.
"Crédito é bom, mas ainda não aprendemos a apreciá-lo com moderação." Essa imaturidade financeira é que tem colocado o brasileiro em rota de colisão com os altos índices de inadimplência — os picos históricos coincidem com os cortes nos juros em 2005, 2009 e no ano passado, segundo a Serasa Experian. Luiz não identifica uma “explosão da inadimplência”, ainda que os bancos já reclamem de um aumento do número de maus devedores e esperem uma piora no primeiro semestre.
Super-herói
Artifícios como cortes na taxa básica de juros e redução de impostos como o IPI, que atingem o bolso do consumidor, têm a função de manter a economia interna aquecida e, consequentemente, isolar o país das tempestades financeiras globais.
A crise mundial já foi tantas vezes mencionada que até deixou de assustar. Mas, sem solução pontual para os problemas financeiros da Europa, o mundo segue em estado de alerta. Diante do arrefecimento na demanda global, firmas exportadoras dão seus sinais de pânico.
Embora o estímulo por meio do consumo tenha mantido o Brasil afastado das crises internacionais, não há convicção de que essa seja a melhor forma de manter a economia interna aquecida, uma vez que é um fator gerador de inadimplência.
Roberto Messenberg, técnico de planejamento e pesquisa do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), acredita que políticas como essa conduzem o país a um "voo de galinha", ou seja, ciclos curtos de aceleração e desaceleração econômica. "Só o corte de juros não é suficiente para que as empresas invistam e o brasileiro ganhe sólido poder de consumo", diz Roberto.
No entanto, o caos financeiro nos Estados Unidos e na zona do euro em 2011 não foi a primeira experiência do Brasil na adoção de medidas corretivas. O governo brasileiro investiu pesado em ampliar a capacidade de consumo do cidadão em 2009.
Na época, enquanto o mundo ainda chorava a perda do Lehman Brothers, o então presidente Lula cunhou o termo “marolinha” para medir os impactos desse mau momento sobre as contas nacionais. Se a crise por aqui não teve efeitos similares ao de um tsunami, foi porque o brasileiro consumiu o suficiente para manter a economia interna aquecida.
São Paulo - Desconto. Basta essa palavra aparecer para que um consumidor normal se transforme num comprador voraz. De promoções a redução de impostos, qualquer faixa vermelha nas vitrines já atrai milhares de brasileiros.
Com o fim da redução do Imposto sobre Produtos Industrializados ( IPI ) sobre os eletrodomésticos, no dia 31 de março, a previsão é de que uma boa parcela dos brasileiros corra às lojas à procura de boas oportunidades de compra.
É justamente aí que mora o perigo. Lojas de braços abertos somadas a consumidores famintos, que não medem sua real necessidade e muito menos a capacidade de endividamento, são um sinal amarelo para o bolso. O fato é que o brasileiro anda devendo e não tem conseguido pagar suas contas.
A inadimplência já incomoda as próprias instituições financeiras, que tiveram o lucro prejudicado graças aos maus pagadores. Segundo dados do Banco Central, o percentual de inadimplentes atingiu 7,3% em dezembro de 2011, número bem superior ao mesmo mês de 2010, quando representavam 5,7% do total.
Para Ricardo Fairbanks, coordenador da consultoria Dinheiro em Foco, o endividamento em si não é o maior problema. "O que preocupa é a forma indiscriminada com que empréstimos e parcelamentos são feitos", diz. Os valores da tevê de LCD, da geladeira e do último modelo de máquina de lavar podem ser divididos a perder de vista.
Para Ricardo, esse é um dos indicativos clássicos de que o indivíduo está a caminho do endividamento nocivo. "Quando a pessoa tem vários cartões de crédito com vencimentos diferentes e começa a programar suas contas a partir dessas datas, há algo errado", afirma.
Crédito
O parcelamento e a disponibilidade de crédito podem ser ferramentas facilitadoras, desde que usadas com parcimônia. A capacidade de endividamento está diretamente atrelada aos compromissos financeiros que têm de ser honrados. Para um indivíduo solteiro, que mora com os pais, Ricardo indica que até 60% da sua receita pode ser comprometida em parcelamentos.
No entanto, se há contas como aluguel e escola dos filhos, a coisa muda de figura. "Para um pai de família que tem o orçamento apertado, o endividamento deve ser zero, pois diante de qualquer imprevisto ele pode virar um inadimplente", diz o consultor.
Nos últimos dez anos, comprar ficou bem mais fácil devido ao custo do crédito, que reduziu significativamente os juros. A taxa Selic, que baliza os juros no mercado, chegou a 26,5% ao ano em março de 2003, mas hoje está em 10,5%. Porém, os juros praticados no mercado agravam ainda mais esse cenário, podendo ultrapassar os 600% ao ano em cartões de crédito com saldos devedores.
Com o crédito facilitado, é fácil se empolgar e passar da conta. A falta de educação financeira encurta bastante o caminho entre o endividamento e a inadimplência. “O consumidor não faz a conta objetivamente, mas percebe que, quando os juros caem, a parcela fica mais baixa e o prazo mais longo”, diz Luiz Rabi, gerente de indicadores de mercado da Serasa Experian.
"Crédito é bom, mas ainda não aprendemos a apreciá-lo com moderação." Essa imaturidade financeira é que tem colocado o brasileiro em rota de colisão com os altos índices de inadimplência — os picos históricos coincidem com os cortes nos juros em 2005, 2009 e no ano passado, segundo a Serasa Experian. Luiz não identifica uma “explosão da inadimplência”, ainda que os bancos já reclamem de um aumento do número de maus devedores e esperem uma piora no primeiro semestre.
Super-herói
Artifícios como cortes na taxa básica de juros e redução de impostos como o IPI, que atingem o bolso do consumidor, têm a função de manter a economia interna aquecida e, consequentemente, isolar o país das tempestades financeiras globais.
A crise mundial já foi tantas vezes mencionada que até deixou de assustar. Mas, sem solução pontual para os problemas financeiros da Europa, o mundo segue em estado de alerta. Diante do arrefecimento na demanda global, firmas exportadoras dão seus sinais de pânico.
Embora o estímulo por meio do consumo tenha mantido o Brasil afastado das crises internacionais, não há convicção de que essa seja a melhor forma de manter a economia interna aquecida, uma vez que é um fator gerador de inadimplência.
Roberto Messenberg, técnico de planejamento e pesquisa do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), acredita que políticas como essa conduzem o país a um "voo de galinha", ou seja, ciclos curtos de aceleração e desaceleração econômica. "Só o corte de juros não é suficiente para que as empresas invistam e o brasileiro ganhe sólido poder de consumo", diz Roberto.
No entanto, o caos financeiro nos Estados Unidos e na zona do euro em 2011 não foi a primeira experiência do Brasil na adoção de medidas corretivas. O governo brasileiro investiu pesado em ampliar a capacidade de consumo do cidadão em 2009.
Na época, enquanto o mundo ainda chorava a perda do Lehman Brothers, o então presidente Lula cunhou o termo “marolinha” para medir os impactos desse mau momento sobre as contas nacionais. Se a crise por aqui não teve efeitos similares ao de um tsunami, foi porque o brasileiro consumiu o suficiente para manter a economia interna aquecida.