Carreira

Como escolher uma pós em 2011

No currículo, um MBA no exterior vale mais que um curso feito no Brasil. Mas abandonar o emprego nesse momento não parece muito bom para a carreira. O que fazer?

Leonardo Lobo, de 33 anos, coordenador de projetos da BR Malls, está se candidatando a fazer MBA numa escola americana. (Raul Junior / VOCÊ S/A)

Leonardo Lobo, de 33 anos, coordenador de projetos da BR Malls, está se candidatando a fazer MBA numa escola americana. (Raul Junior / VOCÊ S/A)

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Da Redação

Publicado em 4 de abril de 2013 às 11h36.

São Paulo - Um dos principais dilemas de quem planeja investir em uma pós-graduação ou em um MBA é escolher fazer um curso no Brasil ou no exterior. Com a expansão da economia e do emprego, essa opção ficou ainda mais complicada. De um lado, o dólar a cerca de 1,70 real favorece quem pensa em pagar um curso fora, mas, de outro, o mercado de trabalho está abrindo boas oportunidades de carreira, que serão desperdiçadas por quem optar passar dois anos no exterior. 

Programas de escolas renomadas dos Estados Unidos e da Europa têm peso maior no currículo, mas são mais caros e exigem dedicação integral dos participantes por dois anos. Além da taxa de câmbio propícia, neste momento bom da economia há mais gente com dinheiro no bolso para pagar uma pós ou um MBA fora.

Mas as pessoas estão reticentes em sair. A pergunta que muita gente se faz é: “Faz sentido deixar um mercado cheio de oportunidades de carreira e se isolar por dois anos num curso fora do país?”. Ainda mais quando os recrutadores lá fora estão com vagas reduzidas.

Para obter a resposta, é preciso entender a razão de fazer o curso. “Se o profissional quer ser o presidente de uma grande empresa, talvez o mais certo seja sair mesmo”, diz Marcelo Cuellar, headhunter da Michael Page no Rio de Janeiro. “Mas ele precisa parar para refletir se é isso que deseja da vida, pesando os sacrifícios que um presidente tem de fazer.”

Se não for seu caso, talvez seja melhor esperar mais um pouco para sair do país. Ou fazer uma pós-graduação nacional, de escopo mais modesto, mas que proporcione atualização para lidar com algumas situações do trabalho.  

Outro motivo para sair do país é fazer um mestrado numa área em que há pouca pesquisa nacional. Esse dilema é frequente em carreiras mais técnicas e tem afetado, por exemplo, profissionais do setor de petróleo e gás. “Nesses casos, a pessoa pode sair tranquilamente porque vai retornar com um conhecimento que não existe no mercado brasileiro”, diz Marcelo. 

Um alerta que os recrutadores fazem é escolher bem o curso no exterior. Sair para fazer uma faculdade desconhecida terá efeito pior que uma conhecida brasileira. Custará caro e o profissional carregará o ônus de ter ficado fora do mercado por um longo período.


“O que chama a atenção no currículo é a escola de renome internacional”, diz Monica Longo, diretora de recursos humanos da Nivea, fabricante de cosméticos. “Uma escola estrangeira desconhecida terá o mesmo peso de uma nacional.” 

E no Brasil?

As pós-graduações em administração e os MBAs oferecidos no Brasil têm um formato diferente, que permite ao profissional fazer o curso sem ter de abandonar o emprego. Desse ponto de vista, são adequados para quem quer melhorar os conhecimentos como gestor, mas acha que as oportunidades de carreira que estão aparecendo são muito boas para sair do jogo agora.

“Não é um bom momento de os brasileiros deixarem o país para estudar”, diz Anne Nemer, diretora do MBA Executivo da Universidade de Pittsburgh, que oferece programas em São Paulo. Mas esse argumento também pode ser ponderado.

Para Vivianne Wright, sócia da MBA House, empresa que prepara profissionais para as provas de admissão em escolas de negócio estrangeiras, a tendência é que, com a realização da Copa do Mundo e dos Jogos Olímpicos e com grandes projetos de infraestrutura na agenda de investimentos públicos, a economia permaneça em expansão por um tempo maior do que dois anos.

Isso daria ao profissional a possibilidade de sair agora, estudar fora, voltar com o diploma e ainda pegar o mercado em boa situação. “Ele chegaria valorizado num momento excelente”, diz Vivianne. 

Uma vantagem que os MBAs internacionais proporcionam é a convivência com diferentes culturas. Nas melhores escolas, existe a figura dos estágios em empresas durante as férias de meio de curso, o que permite que o aluno inclusive trabalhe no exterior.

As escolas brasileiras já perceberam que experiência internacional é uma demanda dos profissionais brasileiros e procuram oferecer algum tipo de compensação. Os cursos brasileiros de MBA mais tradicionais, oferecidos por escolas como Insper, FIA, Fundação Dom Cabral e Business School São Paulo, já dispõem, por exemplo, de aulas em inglês e módulos no exterior durante ou após o término do programa. A FGV-Eaesp possui um curso, o OneMBA, que é ministrado simultaneamente em quatro países diferentes.


Escolas estrangeiras que atuam no Brasil também oferecem esse diferencial. É o caso da Universidade de Pittsburgh, americana, e da Iese Business School, espanhola. É uma compensação, mas não se equipara à experiência de morar fora do país. “Esses cursos permitem que o aluno viaje e tenha uma experiência internacional limitada”, diz Vivianne. 

Falta de prestígio

No fundo, o grande problema dos MBAs brasileiros é a falta de prestígio no mercado. As opiniões sobre esses cursos entre executivos e recrutadores variam entre negativas e neutras. Raros são os elogios. Isso se deve à falta de uma padronização dos cursos, que oferecem conteúdos com diferentes profundidade e carga horária, que variam de 300 a 600 horas.

E mesmo as melhores escolas ficam atrás de escolas estrangeiras. Como o programa feito no Brasil é a opção da maioria, a formação acadêmica nunca é um fator determinante na contratação de um executivo no mercado local. “Aqui, o que se analisa é a experiência do profissional”, diz Fernando Mantovani, diretor da Robert Half, empresa de recrutamento, de São Paulo.

“Algumas multinacionais exigem profissionais formados numa das escolas mais renomadas ou optam pela escola mais charmosa na comparação entre dois currículos”, admite Fernando. 

Mesmo nesses casos, o trabalho dos recrutadores tem sido alertar seus clientes de que o contexto nacional é diferente. “No Brasil, nem todo mundo tem acesso a escolas de primeiro nível, e isso é uma diferença importante em relação ao mercado americano”, diz o headhunter Marcelo Cuellar.

“Lá, é possível pressupor que todo mundo teve educação de qualidade a vida toda e chegou em condições mais ou menos iguais de entrar em Harvard ou em Princeton, o que transforma o MBA em um filtro dos melhores. Esse raciocínio não pode ser aplicado aqui.” Segundo Monica Longo, diretora de RH da Nivea, espera-se que o candidato a executivo se apresente para concorrer a uma vaga portando um certificado de MBA ou um mestrado.

Porém, o programa não será um fator decisivo para a contratação. “Se ele não tiver um MBA, talvez fique no fim da lista de candidatos, mas se tiver só vai contar pontos”, diz Monica. “Nunca reprovei alguém por causa da formação.” Outro conselho dos headhunters: melhor do que ter um MBA é falar bem inglês. Falta de fluência barra muito mais gente que a pós-graduação.  Ainda hoje.

MBA no exterior

Leonardo Lobo, de 33 anos, coordenador de projetos da BR Malls, administradora de shopping centers, está se candidatando a fazer MBA numa escola americana. “Já fiz um curso no Brasil e me decepcionei, agora quero experiência internacional”, diz. Se entrar, terá apoio da empresa para pagar os estudos e não teme ficar fora do mercado. “O setor em que atuo ainda estará aquecido.” 

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