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Com Trump, o que muda para brasileiro que quer trabalhar nos EUA?

Novo presidente dos Estados Unidos colecionou discursos polêmicos sobre imigração. O que muda para os brasileiros a trabalho em solo norte-americano?

Trump: há grandes chances de haver um endurecimento nas concessões de trabalho para estrangeiros (John Moore/Getty Images)

Trump: há grandes chances de haver um endurecimento nas concessões de trabalho para estrangeiros (John Moore/Getty Images)

Claudia Gasparini

Claudia Gasparini

Publicado em 9 de novembro de 2016 às 12h30.

Última atualização em 9 de novembro de 2016 às 12h51.

São Paulo — A surpreendente vitória de Donald Trump nas eleições presidenciais dos Estados Unidos abriu espaço para dúvidas, temores e especulações no mundo todo. A notícia também causou tensão entre brasileiros que pensam em construir uma carreira internacional em território norte-americano.

Em seus discursos de campanha, o novo líder da nação mais poderosa do mundo tocou diversas vezes no tema da imigração — e não foram poucas as declarações polêmicas.

Trump falou na construção de um muro para separar o México dos Estados Unidos, e causou mal-estar ao chamar de “narcotraficantes” e “estupradores” os imigrantes ilegais que chegam do país vizinho. O republicano também prometeu deportar 11 milhões de pessoas que entram de forma irregular no país para trabalhar.

Acusado de xenofobia e racismo por sua rival Hillary Clinton, o empresário prometeu banir o ingresso de muçulmanos nos Estados Unidos e propos um “teste ideológico” para regular a entrada de imigrantes como ferramenta para combater o terrorismo.

As opiniões do empresário renderam críticas de amplos setores da comunidade internacional e fizeram Trump moderar o discurso anti-imigração na reta final da campanha, no esforço de conquistar o eleitorado latino.

Mas, na era que se inicia com a administração Trump, quais são as consequências a curto e médio prazo para o brasileiro que alimenta o sonho de trabalhar no país?

Na opinião de João Marques Fonseca, presidente da consultoria em mobilidade global EMDOC, há grandes chances de haver um endurecimento nas concessões de trabalho para todas as categorias de imigrantes nos Estados Unidos.

“Num primeiro momento, a consequência mais imediata é o aumento da burocracia e um rigor ainda maior que o atual na análise de petições”, explica.

As regras que determinam o processo de imigração já estão estabelecidas há muitos anos, mas podem ser revistas a qualquer momento pela nova administração.

Os estrangeiros menos afetados serão os chamados “cérebros” — que interessam (e muito) à economia dos Estados Unidos. O termo se refere a profissionais altamente capacitados em áreas como tecnologia e pesquisa laboratorial, que continuarão sendo absorvidos com avidez pelo mercado norte-americano.

"Sob o comando de Trump, essas pessoas continuarão sendo aceitas normalmente por terem um perfil estratégico para os negócios do país", diz o presidente da EMDOC.

Ainda que não tenham entrado de forma ilegal, imigrantes latinos podem sentir um novo “clima” no país no que se refere à presença de estrangeiros no mercado de trabalho. “O fato de um candidato como Trump ter sido eleito sugere que muitas pessoas ali não estão abertas para receber pessoas de fora”, afirma Fonseca.

Na visão de Leonardo Freitas, sócio da consultoria Hayman-Woodward, os mais afetados serão os imigrantes ilegais, e o sentimento de xenofobia continuará sendo percebido de forma distinta em cada estado. “Na Califórnia ou em Nova York, por exemplo, há uma comunidade latina gigantesca, e o clima não deve piorar”, explica. “O mesmo talvez não aconteça em estados do Centro Oeste, por exemplo”.

Susto
O medo de sofrer preconceito nos Estados Unidos pode fazer com que países como Canadá e Austrália sejam percebidos como alternativas mais favoráveis à imigração. “Justin Trudeau [primeiro-ministro canadense] é uma figura bastante diferente de Trump”, diz Fonseca. “Mais do que nunca, o país vizinho dos Estados Unidos ganha espaço entre quem busca trabalho no exterior”.

O próprio site de imigração do Canadá saiu do ar pelo volume de acessos enquanto a apuração de votos das eleições presidenciais eram computadas. A corrida ao site canadense traduz a reação emocional de muitos norte-americanos à notícia — que chegaram a prometer que deixariam o país caso o republicano vencesse o pleito.

Na visão de Freitas, é natural que haja um sentimento de comoção nos primeiros meses após o resultado da eleição, mas também dá para esperar que o quadro se estabilize.

Passado o susto inicial, é possível que nem todas as promessas duras de Trump se concretizem, completa Fonseca. “Ele sabia o que a massa queria ouvir e fez discursos muito agressivos para ganhar”, explica. “Governar é muito diferente”.

Na visão do presidente da EMDOC, o Partido Republicano, que obteve maioria no Congresso e no Senado, terá muito cuidado ao analisar as propostas do magnata. “Os republicanos poderão pagar um preço muito alto com a radicalização, e tentarão evitá-la se quiserem se perpetuar no poder”, explica.

Um relatório divulgado hoje pelo Citi afirma que muitas ideias de Trump — uma figura controvertida dentro do próprio partido que representa — enfrentarão resistência dos congressistas. Segundo o documento, a deportação em massa e o muro com o México são exemplos de medidas impossíveis de executar, pelo menos no curto prazo.

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