Os perfis limitantes muitas vezes têm raízes na infância, na adolescência ou em contextos específicos de insegurança no ambiente corporativo (Nuthawut Somsuk/Getty Images)
Repórter
Publicado em 9 de novembro de 2024 às 08h01.
O perfil comportamental de um profissional pode ser determinante para o seu crescimento na carreira. Segundo a mentora de liderança Isabelle Guarnieri, que se especializou em ajudar profissionais a alcançarem cargos de destaque, algumas características frequentemente associadas a padrões comportamentais podem limitar o potencial de ascensão profissional.
Formada em Relações Internacionais pela ESPM, Isabelle Guarnieri construiu sua trajetória profissional inicialmente no mundo corporativo, antes de se tornar mentora de liderança e empreendedora. Seu percurso é marcado por diferentes experiências, desde o mercado financeiro até cargos de alta gestão em grandes empresas, como a Smart Fit e a Totalpass - empresa onde ocupou o cargo de diretora de operações e logo depois de sócia, aos 27 anos.
“Chegar à diretoria foi um grande marco na minha carreira, mas também revelou a solidão de ser uma mulher em um cargo de liderança. No IPO da empresa, lembro de olhar ao redor e ver um 'mar de homens'. Eu era uma das poucas mulheres, e, de longe, a mais jovem,”, afirma.
A experiência como líder despertou em Guarnieri uma necessidade de mais representatividade feminina em posições de destaque, e foi então que decidiu ir para a área de mentoria.
“Vivi muitos dos desafios que hoje compartilho com minhas mentoradas,” afirma. "Já passei por esses três perfis limitantes e por isso hoje trabalho para lembrar, tanto mulheres quanto homens, de que a forma como um profissional se expressa, se posiciona e interage com colegas e líderes pode ser determinante para o seu sucesso profissional".
Com base em sua experiência profissional e de mentoria, Guarnieri identificou três personas que podem travar o crescimento profissional - e sugere caminhos para superá-los.
Comum no início da carreira, esse perfil é caracterizado por uma busca constante por validação e aprovação. “Eu era assim no mercado financeiro. Tinha medo de errar, pedia desculpas por tudo e buscava agradar demais. Isso me tornou passiva, e recebi feedbacks de que precisava ser mais assertiva,” conta Guarnieri.
A “boazinha” costuma evitar riscos, priorizando a perfeição e evitando decisões ousadas. Isso pode limitar a percepção de liderança por parte de gestores. Para superar esse comportamento, Guarnieri afirma que é essencial fortalecer a autoconfiança. “Se você não acredita em você, como a liderança vai acreditar?”.
Esse perfil se manifesta em profissionais que assumem mais responsabilidades do que podem gerir, acreditando que esforço excessivo é o caminho para a promoção. “A bombeira vive apagando incêndios e diz sim para tudo, mas acaba sendo vista como operacional e não estratégica,” afirma Guarnieri.
Para sair desse padrão, o primeiro passo é aprender a dizer não e priorizar tarefas. Segundo a mentora, é importante entender que, além do esforço, habilidades comportamentais como visão estratégica e capacidade de delegar também são fundamentais para o crescimento.
“Precisamos saber priorizar, dizer não e desenvolver habilidades que vão além do esforço bruto”, afirma.
Esse perfil aparece em profissionais que, ao não se sentir reconhecidos, entram em um ciclo de rebeldia e distanciamento. “A CLTreta pensa: ‘Não estou aqui para fazer amigos, só quero minha hora extra.’ Essa postura pouco colaborativa impede conexões essenciais no ambiente corporativo,” afirma Guarnieri.
Ela destaca que a chave para transformar esse comportamento é enxergar o trabalho como uma parceria com a empresa, não como uma competição.
“Eu gosto de trazer uma abordagem colaborativa, onde empresa e funcionário trabalham juntos para alcançar resultados, mas é fundamental que você esteja ativamente cuidando da sua trajetória. Não é nós contra eles, é um trabalho conjunto”, afirma.
O oposto desses perfis limitantes é o que Guarnieri chama de “vai sozinha”: uma pessoa autogerida, colaborativa e resolutiva. Esse profissional combina comportamento maduro com alta capacidade técnica.
“A empresa busca alguém que entrega resultados, resolve problemas e mantém bons relacionamentos. É isso que promove confiança e visibilidade,” afirma a mentora.
Os perfis limitantes (boazinha, bombeiro e CLTreta) muitas vezes têm raízes na infância, na adolescência ou em contextos específicos de insegurança no ambiente corporativo, afirma Guarnieri.
“Esses comportamentos podem surgir como formas de autoproteção, mas acabam prejudicando o crescimento profissional.”
O autoconhecimento é o primeiro passo para evoluir, afirma Guarnieri. “Descubra seus pontos fracos. Pode ser comunicação, priorização ou autoconfiança. Identifique o que precisa desenvolver e trabalhe nisso,”.
O processo de autoconhecimento nem sempre é possível fazer sozinho. Para quem precisa de um apoio externo, Guarnieri indica processos como mentoria, terapia e treinamentos específicos podem ajudar o profissional nessa jornada.
Para aqueles que buscam avaliar seu progresso, Guarnieri também recomenda ferramentas como a metodologia Nine Box, usada por empresas para medir técnica e comportamento.
“O ideal é estar no quadrante de alto potencial: comportamento excelente aliado a resultados consistentes,” afirma. “Vale lembrar que quem mais deve se importar com a sua carreira é você mesmo e não a empresa.”