Bionexo firma compromisso de ter 15% de pretos na empresa até 2024
Segundo o CEO, a Bionexo quer assumir uma responsabilidade de reparação social: "qualquer outro argumento econômico é um bônus”
Luísa Granato
Publicado em 18 de fevereiro de 2022 às 10h34.
Última atualização em 18 de fevereiro de 2022 às 12h38.
A Bionexo, empresa de soluções digitais para gestão em saúde, assumiu um compromisso para ter a representatividade de 15% de funcionários pretos até 2024.
Para isso, a companhia lançou um programa global de contratação de pessoas pretas no Brasil, Argentina, Colômbia e México.
As iniciativas vieram de um pedido feito por dois funcionários ao ver a movimentação do mercado para criar ações afirmativas que aceleram a contratação de diversidade.
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Luanna Teofillo, product manager, e Danilo Faria, head de vendas da filial da Colômbia, trouxeram suas ideias em novembro passado e, desde então, o time de pessoas e um grupo de funcionários passaram a discutir um plano de ação.
A troca culminou no foco da ação: olhar para o grupo com menos representatividade na empresa. E a healthtech possui cerca de 5% de funcionários pretos.
Atualmente, esse grupo representa 9,4% da população brasileira, conforme dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (Pnad) do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
Para o órgão, negro é o termo que considera a soma da população preta e parda. Parda é a pessoa com a pele menos retinta e preta é aquela com a pele mais retinta.
Um estudo da organização sem fins lucrativos Coqual em diversos países mostrou um recorte de como diferentes grupos étnicos sentem o preconceito e vieses no ambiente de trabalho.
No Brasil, os profissionais pretos foram os que sentiram mais o preconceito no dia a dia do trabalho: 19% dos entrevistados que se identificam como pretos disseram sentir esse tratamento. Ao mesmo tempo, 7% de pardos relataram o mesmo.
“É um ponto muito importante, existe toda a questão da pessoa se assumir como preta. Às vezes, é difícil a pessoa se assumir como preta e fala que é parda, pois um é muito mais ligado a situações mais pejorativas do que positivas”, diz Danilo Faria.
O olhar mais atento para o grupo servirá para trabalhar questões de sua identidade e criar ações mais assertivas para sua realidade.
Para Luanna Teofillo, ter uma porcentagem de pessoas autodeclaradas pretas contratadas pela empresa sendo maior do que na população do país será muito simbólico.
“Não só para o setor de saúde, mas para a comunidade no geral”, afirma.
Segundo Patrícia Piñeiro, diretora de gente e gestão da Bionexo, o programa ainda está em construção e todos estão abertos a críticas para melhorar sempre.
As vagas estarão disponíveis no site de carreira da empresa e vão abranger todas as áreas e níveis hierárquicos. Para os cargos de início de carreira, a empresa terá apoio e contratará os jovens da organização Educafro.
“A ideia não é ter vagas exclusivas, mas nós fizemos parceria com quatro instituições especializadas em recursos para pessoas pretas e todas as novas vagas serão oferecidas prioritariamente para pessoas dentro desse contexto. Temos outras iniciativas que estão amadurecendo, como mentoria e coach para que elas possam crescer dentro da organização e não fiquem nos mesmos cargos de entrada”, explica ela.
Rafael Barbosa, CEO da Bionexo, explica que a empresa de 20 anos foi uma healthtech antes mesmo de existir o termo, pois surgiu como uma solução baseada em nuvem para gerir toda a cadeia de compras para hospitais, como o planejamento, faturamento e rastreabilidade de pedidos.
Hoje com mais de 5,4 mil clientes, cerca de R$ 17 bilhões foram transacionados pela plataforma em 2021.
“Isso significa cerca de 25% a 30% de todo o material médico que o setor privado adquire no Brasil. Isso para dar uma dimensão da companhia e seu contexto como empresa de tecnologia. Temos de estar integrados nesse momento da sociedade”, afirma o CEO.
Para ele, o compromisso não representa um ganho de produtividade ou uma sinalização para o público consumidor da marca, mas um dever de fazer parte de uma reparação histórica pelo racismo estrutural.
“Sempre se fala que a diversidade traz mais riqueza, inovação e tudo, mas não estamos contando com isso. Não é esse o ponto. A companhia quer assumir uma responsabilidade de reparação social, qualquer outro argumento econômico é um bônus ”, diz.
A iniciativa vai entrar dentro da agenda de diversidade e inclusão já em construção pelos últimos anos. A criação de uma meta ajuda a acompanhar os resultados.
No pilar de gênero, a empresa já conseguiu alcançar uma representatividade feminina de 45% na equipe e de 38% nos cargos de liderança.
Um fator que eles acreditam que ajudará a manter esse impulso por diversidade é a adoção do modelo “anywhere office”, com contratações remotas e maior possibilidade de flexibilidade.
“Aumenta nossa capacidade de atração de talentos. Hoje temos 94 cidades diferentes com colaboradores. Estamos aumentando nossa capilaridade e levando recursos financeiros para outros locais”, diz a diretora de gente e gestão.
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