Carreira

Assédio no trabalho: quase metade dos profissionais não denunciam por medo de demissão

Levantamento com 3 mil profissionais aponta subnotificação, impactos na saúde mental e falta de confiança nos canais internos das empresas

Pesquisa feita pelo do LinkedIn e Think Eva destaca urgência de políticas claras e cultura de proteção (Kieferpix/Thinkstock)

Pesquisa feita pelo do LinkedIn e Think Eva destaca urgência de políticas claras e cultura de proteção (Kieferpix/Thinkstock)

Publicado em 2 de dezembro de 2025 às 07h52.

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O assédio segue sendo uma das maiores feridas abertas no mercado de trabalho brasileiro — e continua, em grande parte, invisível. A nova edição da pesquisa Trabalho Sem Assédio 2025, conduzida pela Think Eva em parceria com o LinkedIn, revela que 48,5% dos profissionais que sofreram assédio moral não denunciam por medo de retaliação ou demissão. O dado expõe um cenário de insegurança psicológica que impede vítimas de buscarem ajuda e mantém a violência em curso dentro das empresas.

Apesar de avanços na discussão pública, o assédio moral ainda é a violência mais frequente nos ambientes profissionais. Quase metade dos trabalhadores afirma já ter vivenciado esse tipo de situação ao longo da carreira. Mas a falta de confiança nos canais internos e o receio de perda do emprego criam uma barreira quase intransponível para que os casos sejam formalmente reportados.

“A subnotificação não é apenas um problema operacional — ela revela estruturas que falham em garantir segurança e confiança. As empresas precisam agir com políticas claras e ações consistentes”, afirma Ana Plihal, executiva de Soluções de Talento do LinkedIn no Brasil.

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Assédio sexual continua presente — e ainda mais subnotificado

O levantamento também mostra que mais de um terço das mulheres afirma já ter sofrido assédio sexual no trabalho, enquanto 57% dos profissionais já presenciaram algum episódio desse tipo, mesmo sem serem diretamente afetados. Em 75% dos casos relatados, a agressão é percebida pelo menos uma vez por mês.

Mesmo assim, apenas 10% das mulheres que sofreram assédio sexual recorreram aos canais formais de denúncia das empresas. Entre os principais motivos estão o medo da exposição, da impunidade e do julgamento por colegas ou lideranças. Apenas 35% dos casos chegam ao conhecimento das empresas, segundo a pesquisa.

“Garantir ambientes seguros exige coragem institucional. As empresas precisam fortalecer protocolos, treinar lideranças e construir confiança nos canais de denúncia”, afirma Maíra Liguori, cofundadora da Think Eva.

Saúde mental e carreira: o impacto direto da violência

Os efeitos do assédio na saúde mental são imediatos. Entre quem sofreu assédio moral, os sintomas mais relatados são:

  • Desânimo (43%)
  • Ansiedade e depressão (34%)
  • Queda na autoconfiança (33%)

No campo profissional, 1 em cada 6 profissionais pediu demissão após vivenciar assédio, e 1 em cada 3 reavaliou sua trajetória de carreira. No caso do assédio sexual, 15,6% das mulheres deixaram seus empregos como consequência direta da violência.

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Assédio digital já faz parte da rotina

O ambiente online — hoje tão central quanto o escritório — também se transformou em palco para comportamentos abusivos.
A pesquisa revela que:

  • 27% dos profissionais já receberam abordagens sexuais inadequadas em plataformas digitais
  • 29% já sofreram assédio moral online, como exposição indevida ou comentários ofensivos

O dado reforça a necessidade de políticas que incluam não só o espaço físico, mas também interações digitais, mensagens, grupos e plataformas profissionais.

Mesmo entre funcionários de empresas obrigadas pela Lei Emprega + Mulheres (Lei 14.457/22) a implementarem ações de prevenção ao assédio, 83% afirmam desconhecer a legislação ou suas obrigações. O número evidencia um gargalo sério nas estratégias de comunicação interna e nos treinamentos oferecidos pelas companhias.

Um problema de cultura — não de exceções

Os dados mostram que o assédio ainda está longe de ser um episódio isolado: ele é sistêmico. A mudança, afirmam especialistas, depende de cultura organizacional, lideranças preparadas, protocolos fortes, transparência, e sobretudo, segurança psicológica.

A edição 2025 da pesquisa ouviu 3.128 profissionais em todo o Brasil, com margem de erro de 1,7 ponto percentual e nível de confiança de 95%.

Veja também: Assédio moral e sexual no trabalho: veja como identificar e agir

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