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As rainhas da Ambev

Das 150 revendas da cervejaria no Brasil, cinco são comandadas por mulheres. Juntas, elas atendem mais de 300 cidades. Conheça o perfil dessas executivas

Maria E. Pedroza, Graziela Solera, Adriana Neves, Mariela Baptista e Cássia Abrantes, mulheres no comando de revendas da Ambev (Marcelo Spatafora e Marcelo Calenda / VOCÊ S/A)
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Da Redação

Publicado em 4 de abril de 2013 às 14h48.

São Paulo - Que as mulheres estão ganhando espaço no mundo empresarial todo mundo já sabe. Mesmo assim, é surpreendente que elas avancem em terrenos fortemente dominados pelos homens. É o caso do setor de distribuição de bebidas, mais especificamente dos distribuidores dos produtos da Ambev .

Das 150 revendas parceiras da cervejaria no país, apenas cinco são comandadas por mulheres. Muito bem comandadas. Todas possuem resultados expressivos. A média de market share dessas operações ultrapassa os 70% nos mais de 300 municípios atendidos por esse quinteto.

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Uma delas, a goiana Graziela Solera, ajudou a transformar a empresa na maior operação terceirizada da Ambev durante as duas décadas de dedicação ao negócio. À frente da distribuidora de Gurupi, em Tocantins, Maria Eugênia Pedroza conquistou o prêmio de melhor operação de refrigerantes no país, resultado da sua obsessão por qualidade.

A mineira Mariela Baptista aceitou o convite para trabalhar na Cervantes, de Belo Horizonte, colocou ordem na área de transporte e expandiu os negócios, fundando uma nova operação em Montes Claros, região norte do estado de Minas. Outra mineira, Cássia Abrantes, aceitou o desafio da Ambev, largou a carreira promissora na área bancária e assumiu a distribuição da cervejaria na Zona da Mata pernambucana, na cidade de Carpina.

Hoje, coleciona quatro prêmios de melhor operação no Nordeste . A paulista Adriana Neves chegou à Conebel, revenda de São José do Rio Preto, interior de São Paulo, fundada pelo pai em 1967, aos 14 anos. Aproveitou o período de férias escolares para “brincar de escritório”. Atualmente, cuida da área administrativa e financeira de uma das maiores distribuidoras de cervejas e refrigerantes do país.

“As mulheres têm uma visão mais periférica do negócio do que os homens e uma sensibilidade maior para tomar decisões de forma ponderada”, diz Hamilton Picolloti, presidente da Confederação Nacional das Revendas Ambev e da Empresas de Logística da Distribuição (Confenar), que representa todas as revendedoras dos produtos da cervejaria.


O que chama atenção nesse núcleo feminino, que participa com destaque num setor que movimenta 12,2 bilhões de reais por ano, é o modelo de gestão, focado na valorização de pessoas e resultados duradouros e ascendentes.

Além disso, essas cinco mulheres têm muito em comum: estão na casa dos 40 anos, possuem formação acadêmica consistente, fazem atividades físicas com muita disciplina e prazer e, é claro, são profissionais extremamente dedicadas ao trabalho. Conheça o perfil dessas cinco executivas.

O segredo é a disciplina

No ramo há duas décadas, a administradora de empresas Graziela Solera, de 41 anos, é responsável pela criação do primeiro departamento de recursos humanos em revendas de bebidas no país. O foco da área é o treinamento dos 1 245 funcionários, com especial atenção à equipe de vendas, formada por 180 pessoas.

“Eu digo ao meu pessoal que eles não vendem só cerveja e refrigerante, mas ideias para impulsionar os negócios”, diz Graziela. Para passar essas ideias adiante, nada mais importante, segundo ela, do que a visita ao ponto de venda. Cada vendedor visita mais de 30 clientes por dia e tudo é fiscalizado da sede da empresa.

Os vendedores são monitorados por meio de palm tops com sistema de GPS embutido no aparelho. “O segredo do nosso sucesso está em garantir a distribuição no mercado, que envolve visita, oferta e entrega”, ensina a campeã de vendas da cervejaria Ambev.

Ao ver todo o empenho de Graziela na companhia, é de se imaginar que a família fique em segundo plano. Nada disso. “Sou supermãe, a família é minha prioridade”, diz. Daquelas de olhar as tarefas dos filhos Bruna, de 12 anos, e João Pedro, de 9, todos os dias, almoçar em casa e levar as crianças para a escola.

“Felizmente, consigo conduzir a maternidade e o trabalho de forma tranquila”, diz Graziela. O segredo para tudo isso, afirma a executiva, é a disciplina. “Ter uma boa rotina é melhor que viver aos sobressaltos.” Acredita que ainda sobra tempo para a academia? Sim, ela nada e faz musculação alternadamente todos os dias. Graziela já definiu os planos para 2011.


Quer fazer um curso de gestão em Harvard, viajar com os filhos para a Grécia e dobrar o faturamento da empresa. E tudo isso sem um gole de cerveja. “Não gosto de beber, gosto de vender.”

Tudo começou como uma brincadeira

A vida profissional da administradora de empresas paulista Adriana Neves começou cedo, aos 14 anos. Sem ter o que fazer nas férias de julho, ela pediu ao pai para trabalhar na distribuidora da família, a Conebel, de São José do Rio Preto, interior de São Paulo. Ficou o mês todo lá, “brincando de escritório”.

Tomou gosto pela coisa e aos 23 anos já era gerente da revenda. Entrar num negócio dominado por homens não foi problema para ela. Afinal, cresceu entre garrafas de cerveja e refrigerante — a Conebel nasceu praticamente junto com em ela, em 1967. Resistência mesmo ela sentiu dentro da própria família, durante o processo de sucessão do pai, falecido em um acidente de carro.

Os primos, todos mais velhos, que disputavam o comando da companhia tiveram de se render ao seu talento. E ela não decepcionou. Administradora de empresas e advogada, Adriana transformou a distribuidora numa das maiores do país. Hoje, a Conebel conta com 260 funcionários, uma frota de 46 caminhões e atende a 37 municípios da região.

A executiva atribui o sucesso da operação ao estilo participativo de gestão, focado principalmente na qualidade do atendimento ao cliente. “Gosto de treinar pessoas, lidar com gente”, diz ela. E de trabalhar também. Doze dias após o parto do filho Henrique, hoje com 12 anos, ela já estava de volta ao escritório.

Nem por isso deixou de cumprir as obrigações de mãe — amamentou o filho durante seis meses. Adriana, de 42 anos, também arruma tempo para exercer seu lado atleta, quando se junta a seu grupo de ciclistas para treinar três vezes por semana e pedalar até 60 quilômetros nos fins de semana.

A arte de saber ouvir

A advogada goiana Maria Eugênia Pedroza, de 44 anos, não pensou duas vezes antes de deixar sua cidade natal, Goiânia, e partir com o marido para Gurupi, em Tocantins. A missão era assumir a segunda revenda de bebidas da família, a Cemar, ao lado do marido Cesar Oliveira, de 50 anos.


Começou vendendo a marca Skol e logo de cara conquistou 25% do mercado. Hoje, após 20 anos, com mais uma operação instalada há quatro anos em Dianópolis, no sudeste do estado, e com o portfólio completo de produtos da Ambev, a Cemar detém 73% do market share nos 29 municípios que atende.

Seu principal desafio, além de ficar longe dos amigos e da família, foi o de arrumar mão de obra que se encaixasse no rigoroso programa de excelência da Ambev. A solução foi investir no treinamento da equipe, hoje com 125 funcionários, a maioria homens.

“Sou firme quando se trata da qualidade do serviço e do atendimento, mas também sou boa ouvinte”, diz. Ouvir foi a tática usada com os clientes de bares, restaurantes e supermercados.

Maria Eugênia da Skol, como é conhecida em Tocantins, aprendeu ter frieza para mostrar seu valor e o da marca que representa “sem salto alto”. Mãe de dois filhos, ela pratica kickboxing e faz caminhadas para relaxar. Para 2011, sua meta é aumentar as vendas na unidade de Dianópolis, elevando sua participação de mercado de 60% para 70%.

A desbravadora da zona da mata pernambucana

Aos 45 anos de idade, a contadora Cássia Abrantes leva a vida que pediu a Deus. Mora na praia de Boa Viagem, em Recife, com o marido Eduardo Abrantes, de 55. Caminha três vezes por semana, faz pilates e massagem e vive rodeada de amigos.

Nada veio de graça. Até chegar lá, deu duro para conquistar a confiança dos comerciantes dos 54 municípios que são abastecidos pela sua revenda Feliz, localizada na cidade de Carpina, na Zona da Mata pernambucana, a 60 quilômetros da capital. “Quando viemos para cá, os comerciantes só dirigiam a palavra ao meu marido”, lembra Cássia.

Mal sabiam eles que 17 anos atrás ela havia largado uma carreira promissora na área bancária, em Belo Horizonte, sua cidade natal, a convite do marido, que a chamou para ajudá-lo a tocar a distribuidora que tinha na capital mineira. Na época, ela era gerente-geral de uma agência do Unibanco.

“Tenho facilidade de mudar de rumo quando vejo que um negócio tem potencial”, diz Cássia. Decisão acertada, após dois anos, a distribuidora mineira ganhou o prêmio de terceira melhor revenda Brahma. Foi quando a Ambev a chamou para assumir uma distribuição maior, em Pernambuco.


E ela não vacilou. “Disse ao Eduardo para irmos embora”, conta. De uma estrutura com 35 funcionários e sete caminhões em Belo Horizonte, passou a contar com 140 colaboradores e uma frota de 30 veículos no município de Carpina, na Zona da Mata pernambucana. Penou para contratar mão de obra e treinar a equipe.

Para ter uma ideia, muitos motoristas da revenda vieram da colheita da cana-de-açúcar, com pouca ou nenhuma escolaridade. Investiu pesado em treinamento, implantou programas de bônus e premiações e formou líderes para a operação. Encarou a pressão da Ambev por resultados com firmeza, repassando os desafios a seus funcionários.

“Pressão leva a gente a abrir os olhos para o que não está indo bem”, diz Cássia. Agora, ela se sente em casa em solo pernambucano. Nesses anos, colecionou premiações. Uma delas veio em 2010, quando sua distribuidora foi eleita a melhor do país em venda de refrigerantes. Este ano, quer elevar o faturamento em 20%. “Quando não estou trabalhando, gosto é de tomar cerveja com os amigos.”

O passeio que virou profissão

Aos 24 anos, a administradora de empresas mineira Mariela Baptista ganhou do pai uma viagem para os Estados Unidos. Certa de que iria apenas passear, recebeu uma tarefa: trazer na bagagem um relatório de duas distribuidoras americanas de cerveja que iria visitar. “Pensei que seria só oba-oba”, diz.

A viagem, na verdade, tratava-se de um curso de sucessão promovido pela cervejaria Brahma, na época. Mariela fez parte da primeira turma. “Me encantei com o setor. Tinha preconceito, achava que era um negócio só para homens”, diz. Na volta ao Brasil, foi direto para a Cervantes, distribuidora da família, em Belo Horizonte, recém-fundada pelo pai.

Sua primeira tarefa foi arrumar a área de transporte, o departamento mais problemático da revenda, com baixa produtividade, muito desperdício e alto índice de devolução de mercadoria. Ela criou programas motivacionais para motoristas e ajudantes, indicadores de controle da operação e premiação por resultados. “Gosto de gente, não desisto das pessoas”, diz. Mas ela é exigente. “Sou firme e justa.”

Depois de dois anos e meio ao lado do pai, Mariela decidiu fundar junto com o marido, Jaime, em 1993, uma nova operação em Montes Claros, a 440 quilômetros da capital mineira. Dos 26 funcionários à época, a unidade de Montes Claros conta hoje com 176 empregados e uma frota de 30 veículos, que distribuem os produtos da Ambev em 30 municípios.

Mariela colhe a recompensa de ter investido na formação de seus funcionários. “Quando retorno das férias, a empresa está melhor do que quando saí”, afirma. A executiva faz parte da terceira geração de distribuidores brahmeiros da família, ofício que começou com o avô. Casada há 17 anos, Mariela é mãe de dois filhos. “Para equilibrar o lado pessoal e profissional, ensinei aos meus filhos a valorizar a qualidade do tempo”, diz.

Além da família e do trabalho, Mariela arruma tempo para fazer academia três vezes por semana e assumir o ofício de catequista numa igreja da cidade. Como ninguém é de ferro, para relaxar, Mariela gosta de sair para dançar.

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