As armadilhas da recolocação
É muito fácil contratar um serviço de recrutamento, mas é difícil saber até que ponto ele realmente ajuda o profissional a levar uma vaga
Da Redação
Publicado em 9 de outubro de 2008 às 09h34.
Os profissionais que atualmente buscam recolocação no mercado de trabalho vivem um dilema: a quem pedir orientação? Qual o melhor serviço, qual o preço justo e quem é de fato sério nessa atividade? Com ferramentas como a internet e uma boa dose de informação, qualquer candidato tem à sua frente uma quantidade de ofertas antes inimaginável. Os maiores sites de RH online disputam minuto a minuto o volume de vagas disponíveis em seus endereços. Somente dois deles, a Catho e a Manager, somados, têm diariamente quase 200 000 vagas para oferecer. Como não acreditar que uma delas pode ser perfeita para você? Essa corrida pelo emprego, no entanto, pode custar caro e ser frustrante, levando o candidato a crer que, de fato, seu currículo não é tão bom assim. "Afinal, você paga pelo serviço e quase nunca é convocada para uma entrevista", diz Fabíola Barrela, profissional de marketing, que contratou algumas empresas desde outubro do ano passado e ainda não conseguiu nada de concreto. "O difícil é saber quem é sério mesmo", completa Alessandro Besen Barbosa, um engenheiro mecânico que tentou sites e empresas de consultoria por quatro meses até conseguir se recolocar por conta própria (veja mais nos quadros das páginas 63 e 64).
Os serviços disponíveis na internet, em geral, funcionam de forma semelhante. As empresas com maior volume de ofertas não cobram das companhias que têm as vagas para oferecer. Elas alimentam o banco de emprego desses sites gratuitamente, invertendo uma realidade conhecida do mercado de trabalho: o excesso de profissionais e a falta de espaço para todos. A correlação entre vagas e currículos disponíveis na Catho, em meados de março, era de 1,36 vaga para cada candidato. A empresa tinha, então, 109 241 vagas para 80 406 currículos disponíveis. Já a Manager mantinha em seu banco 98 448 vagas para 38432 currículos, garantindo abrir cerca de 3 000 novas vagas por dia. Thomas Case, fundador da Catho, admite que as vagas anunciadas num site podem estar repetidas nos outros. Isso, para ele, não é o motivo do insucesso de muitos candidatos. "Temos dados que nos garantem que mais de 65% dos nossos assinantes conseguem entrevistas e 23% conseguem emprego", diz. Leandro Idesis, diretor executivo da Manager online, também admite a duplicidade de vagas. "Mas não são todas", ressalta.
Nos Estados Unidos, as organizações pagam para disponibilizar seus dados e quem procura emprego tem acesso livre. Lá, a relação entre oferta e procura é inversa à situação por aqui: há sempre mais candidatos inscritos do que vagas. No Brasil, há sites que permitem a consulta gratuita de vagas, mas bloqueiam as informações que dariam acesso às empresas que estão contratando. Há quem cobre de ambas as partes, da empresa e do candidato. A grande maioria oferece serviços agregados e passa a receber por eles. As mensalidades vão de 35 a 100 reais. Há pacotes para assinantes por três, seis e 12 meses e alguns descontos para recém-formados. O que há de certo mesmo é que o preço não se negocia. "Não há como negociar", diz Case, "recebemos 1200 currículos por dia e é impossível analisar caso a caso."
Mil e uma utilidades
O que essas empresas vêm buscando ultimamente é aperfeiçoar seu trabalho. Elas estão agregando novas ferramentas ao banco de informações para permitir que os perfis profissionais sejam identificados por palavras-chave e habilidades. Isso facilita o cruzamento de dados para ambas as partes. A Jobshopping, serviço de RH eletrônico de Curitiba, por exemplo, permite consulta grátis tanto para o profissional e para as empresas, mas na hora da indicação para o cargo dá preferência a quem se associou pagando pela oportunidade. "Esse tipo de serviço é como uma vitrine. Ninguém precisa pagar para ver um produto na loja", justifica Alessandro Cordeiro, diretor de negócios da empresa. O que garante a manutenção do site são contratos com empresas, universidades e pacotes de um ano de duração. "O assinante sênior paga antecipado. Se faz isso, é porque confia no meu serviço", diz Cordeiro. Segundo ele, empresas que tiverem processos de seleção e resultados mais apurados conquistarão maior credibilidade no mercado. "Por isso investimos no diagnóstico de competências", diz. O que, em algumas empresas como a Catho, está sendo chamado de busca conceitual: o cruzamento de palavras-chave para apurar os currículos apropriados.
Um consenso entre as empresas é que o acesso de quem quer a vaga a quem a está oferecendo deve ser facilitado. E, para isso, o meio eletrônico é fundamental. O processo de entrevistas e seleção fica por conta das organizações contratantes. "Não garanto emprego a ninguém. Cinqüenta por cento do trabalho é meu papel e os outros 50% dependem do candidato", admite Cordeiro. "Na Manager", diz Leandro Idesis, "nosso objetivo é gerar entrevistas: 75% dos candidatos conseguem ao menos uma e 25% levam a vaga. Monitoramos o processo, mas não participamos da fase final." Nesse negócio, outro consenso é a qualidade dos currículos. "Em geral, os profissionais supervalorizam seus currículos, o que acaba gerando desencontros", afirma Idesis. Para Thomas Case, a falta de retorno para os candidatos se deve a fatores como "péssimo serviço de confecção de currículo" e certa "falta de habilidade para usar o site". Moral da história: serviço pronto não cai do céu. Você deve escolher uma empresa que tenha tradição no mercado de recolocação e deixar claro o tipo de vaga que procura e o tipo de habilidade que tem a oferecer. Mas deve ficar ciente também que a tarefa deles é abrir caminhos. Se o contato com a empresa contratante acontecer, a bola é passada para você.