Angélica 50 anos: o que aprender com a carreira longeva da apresentadora?
Ela começou com 4 anos a aparecer na TV e desde então já foi apresentadora, cantora, atriz e agora empresária. Quais lições pode trazer uma carreira de 50 anos marcada por mudanças e sucesso?
Repórter
Publicado em 29 de novembro de 2023 às 09h49.
Última atualização em 30 de novembro de 2023 às 12h55.
Angélica começou a fazer apresentações na TV com 4 anos de idade no programa “Buzina do Chacrinha”, na TV Bandeirantes, após passar por propagandas.
Chegou a ganhar o concurso da "criança mais bonita do Brasil" e aos 12 anos de idade teve a oportunidade de apresentar um programa infantil na Manchete, passando pelo SBT, até chegar na TV Globo.
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No dia 30 deste mês Angélica completará 50 anos de vida e quase o mesmo tempo de carreira, trazendo lições de uma trajetória longeva que ainda continua firme.
Para entender as lições que a carreira dessa artista pode trazer sobre o sucesso por tanto tempo, ouvimos três coaching. Elas destacaram sete pontos importantes para o desenvolvimento profissional e pessoal.
Tenha uma boa base emocional
Desde muito cedo Angélica presenciou os benefícios e os desafios de ser uma pessoa pública, mas em todo o seu percurso, os pais estavam muito presentes, afirma Roberta Rosenburg, CEO e co-fundadora F.Lead, consultoria de desenvolvimento de pessoas.
“De um ponto de vista técnico, Angélica desde criança se conectou com seu talento de cantar, mas o principal era o carisma e valores marcados com o papel da família sempre presente, como um alicerce emocional em sua trajetória.”
Além de ter um apoio familiar e talento para as câmeras, Angélica desenvolveu qualidades que a ajudaram a ter sucesso até agora:
“Quando escutamos falar da Angélica automaticamente conectamos com estabilidade, confiança e leveza. Características muito importantes para conexão e sucesso profissional,” diz Rosenburg.
Tais características não são tão fáceis de aparecer na classe artística, segundo a consultora, afinal é um meio que normalmente se promove por escândalos e acontecimentos marcantes.
“Lembro bem de uma fase na qual ela era adolescente e teve uma história de namoro um pouco desafiadora que, com certeza, por seus valores e suporte familiar, foi capaz de superar e redirecionar sua trajetória, alcançando uma carreira e um casamento bem-sucedido,” diz a consultora.
Tenha coragem para se desafiar
Em uma entrevista, Angélica conta que no começo de sua carreira como apresentadora, com apenas 12 anos, ela morria de medo de se apresentar e chegava até a tremer, mas conforme ela ia se apresentando, ela ia ficando à vontade no ambiente, ou seja, em frente das câmaras e do auditório, e aos poucos ela foi encontrando o seu lugar.
“É preciso ter coragem para enfrentar o mundo e vivenciar as mudanças constantes. É preciso ter coragem de errar e aprender com os erros. Está é uma competência fundamental, principalmente no mundo de hoje que muda muito rápido com a tecnologia,” diz Rosenburg.
Seja resiliente
Angélica conseguiu fazer algo que é difícil em um ambiente profissional: se manter relevante em uma indústria dinâmica por décadas. Com uma carreira que logo mais chegará aos 50 anos, ela traz diversos ensinamentos para o mundo corporativo, afirma Rafaela Correa, sócia da Odgers Berndtson e coaching do IBC (Instituto Brasileiro de Coaching), que reforça que a capacidade da Angélica de se adaptar e abraçar novos desafios é uma lição valiosa para profissionais de todas as áreas.
"A resiliência diante das mudanças é uma qualidade essencial para quem busca longevidade na carreira. Outro ponto é a diversificação de habilidades e a busca por reskilling e upskilling, (além de sua carreira na televisão, Angélica explorou outras áreas, incluindo atuação e a música)."
Essa diversificação de habilidades, segundo Correa, não apenas adicionou experiências à carreira da artista, mas também serviu como uma rede de segurança em tempos de transição. "A lição aqui é clara: desenvolver habilidades fora da sua inicial especialidade de carreira pode abrir portas inesperadas e fortalecer sua posição no mercado de trabalho."
É possível se reinventar e ter sucesso
Em seus quase 50 anos de carreira, Angélica teve que se reinventar como profissional. “Em geral, no mundo corporativo há dois movimentos que as pessoas só fazem quando precisam: networking e se reinventar”, afirma Milena Brentan, coaching executiva.
Se reinventar pode levar muito tempo, e esperar ter uma crise em sua carreira para fazer um planejamento de mudança é uma estratégia equivocada, afirma Brentan.
“Quanto mais a gente se apropriar como um empreendedor, vamos depender menos das mudanças externas. Para mim tudo mudou quando me chamei de Milena S.A., porque comecei a olhar para mim como dona da minha própria carreira.”
No caso da Angélica, ela aproveitou diferentes oportunidades por meio da sua primeira experiência como apresentadora, e além de muita coragem, ela se entregou para o novo, desenvolvendo novas habilidades, e assim foi agregando novas profissões em sua trajetória – algo que já é comum para as novas gerações, diz Bretan.
“Na geração dos boomers você entrava em uma empresa e ficava 40 anos, isso era motivo de orgulho e sinônimo de sucesso. Já na geração millennial as pessoas começaram a voar mais e a ter muitas carreiras.”
Falar sobre pluralidade de experiências é importante e a carreira da Angélica mostra esse movimento, afirma Brentan.
“A principal lição que a carreira da artista traz é que sim, as pessoas terão muitas carreiras e isso será cada vez mais normal. No mundo corporativo, por exemplo, em muitas empresas não se falam mais em descrição de cargo e sim nível de senioridade, de tanto que a pessoa migra dentro de uma empresa, em diferentes funções.”
Mesmo estando no mundo artístico Angélica decidiu empreender, e ao entrar para o mundo dos negócios ela mostrou, assim como a cantora e empresária Anitta, que é possível causar uma disrupção no mercado com seus diferentes talentos e funções.
“Anitta não se olha só como cantora, mas também como empreendedora. Taylor Swift está abrindo portas para reinventar o show business. Na mesma direção, Angélica segue há quase cinco décadas testando cargos que a ajudaram a chegar com saúde, fama e estabilidade aos 50 anos.”
O tempo não necessariamente se relaciona com o sucesso
Angélica encontrou muito cedo o seu ambiente de trabalho, tanto que em entrevistas ela já comentou que não conseguia se dedicar aos estudos.
"Ela e outras artistas infantis mostraram que quanto mais cedo você começa uma carreira, mais cedo você poderá alcançar o sucesso profissional, afinal, você está focado, se preparando para atingir um objetivo e se tornando conhecido no ramo - mas isso não acontece com todos os profissionais, sejam eles famosos ou anônimos, e com as mudanças rápidas do mundo atual, boa parte das profissões de amanhã ainda não existem hoje, por isso garantir sucesso em algo atualmente é ainda mais desafiador", diz Rosenburg.
Com essa incerteza sobre o futuro das profissões, é muito importante se conectar com o seu diferencial, com o seu propósito e com o que gosta de fazer, afirma Rosenburg. “A própria carreira da Angélica teve várias mudanças no caminho. Ela começou como cantora e hoje é uma apresentadora e empresária. É fundamental apostar no que te motiva ser melhor e seguir se aprimorando.”
Brentan também acredita que o sucesso não está atrelado ao tempo de carreira, mas sim você estar preparado no momento certo.
“Não é sorte você estar preparado no momento certo. É investimento, é porque você correu atrás e percebeu a oportunidade. Todas as oportunidades que agarramos e não agarramos é uma decisão que a gente faz.”
Longevidade e trabalho é uma realidade
A longevidade e o trabalho é uma realidade hoje, e a Angélica exemplifica muito esse cenário, afirma Brentan. “Antes as pessoas trabalhavam, aposentavam e assim ficavam. Hoje você não tem distinção entre trabalho e vida pessoal, principalmente após a flexibilidade de poder trabalhar de qualquer lugar.”
Existe um processo produtivo importante em cada fase de vida, segundo Brentan.
- Na fase dos 21 a 28 anos: existe um processo produtivo, em que estou me provando para o mundo;
- Na fase dos 28 aos 35 anos: momento de crise de identidade e de colheita de todo o processo de desenvolvimento;
- Na fase dos 35 anos aos 42 anos: fase de maior autenticidade;
- Na fase dos 42 anos aos 49 anos: é o momento de experimentar o meu “eu” mais autêntico;
- Na fase dos 49 aos 56 anos: me conecto cada vez mais ao que é importante para mim, busco viver o meu legado;
- Fase dos mais de 56 anos: potencial criativo relacionado na maior autenticidade. Os sentidos físicos começam se fechar lentamente e passamos a ter mais aguçado uma visão para nós mesmo, para o nosso interior.
Encontre o seu propósito
No auge dos seus 50 anos, Angélica exemplifica bem essa fase da criatividade e da intuição, diz Brentan. “Dos 50 anos em diante, a pessoa chega à fase da criatividade, da intuição, do olhar mais global, porque você não está mais preocupado de provar nada para os outros. Nesta fase de vida ela coloca tudo o que sabe em uma causa que é importante.”
A fase dos 49+ marca o início de um período criativo, e grandes obras mostram que isso é real, afirma Brentan.
O arquiteto brasileiro Oscar Niemeyer, por exemplo, trabalhou quase até o final da sua vida com 104 anos, projetando edifícios icônicos - como foi o caso do Museu de Arte Contemporânea de Niterói; assim como o pintor francês Claude Monet que fez a obra “Nenúfares” quando estava entre os 70 e 80 anos de idade.
“A pessoa neste período já se provou tecnicamente, ela sabe do que ela é capaz. Nessa fase da vida é muito forte a pessoa querer agregar algo para o mundo, compartilhar o que sabe e viver de acordo com um legado,” afirma Bretan.
No mundo corporativo, é comum que profissionais 50+, especialmente aqueles que alcançaram sucesso e estabilidade financeira, busquem um propósito mais profundo em suas atividades. Isso muitas vezes acontece em fases mais maduras da carreira, quando as prioridades pessoais e profissionais estão mais claras. Essa busca por um propósito mais profundo pode levar a decisões como dedicar mais tempo a projetos significativos, assumir papéis de liderança em iniciativas sociais ou até mesmo empreender em áreas alinhadas a valores pessoais, afirma Correa.
"Essa transição é normal e saudável, porque reflete uma evolução natural das prioridades ao longo da vida. Profissionais que buscam deixar um legado muitas vezes encontram uma satisfação mais profunda e duradoura em seu trabalho, contribuindo não apenas para seu próprio sucesso, mas também para o bem-estar da sociedade e das gerações futuras. Lembrando que a construção de legado começa nos dias atuais, construindo sua carreira à partir dos desafios de hoje."