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A dívida começa na cabeça

Conheça as armadilhas mentais, inconscientes ou não, que podem atrapalhar seu planejamento financeiro e saiba como enfrentá-las

Homem endividado: percentual de entrevistados desorganizados que já entrou alguma vez no cheque especial é mais do que o dobro em relação à parcela de consumidores organizados (Getty Images)

Homem endividado: percentual de entrevistados desorganizados que já entrou alguma vez no cheque especial é mais do que o dobro em relação à parcela de consumidores organizados (Getty Images)

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Da Redação

Publicado em 13 de outubro de 2014 às 12h03.

São Paulo - A falta de planejamento financeiro ainda é um problema que afeta a maioria dos brasileiros. Para ter uma ideia, 63% das famílias tinham dívidas em julho deste ano.

Quatro em cada dez consumidores inadimplentes dizem que não vão pagar suas dívidas nos próximos três meses, de acordo com um levantamento do Serviço de Proteção ao Crédito. Um dos principais motivos, segundo 36% dos entrevistados, é a dificuldade de mudar o padrão de consumo. Como explicar esse descontrole com o dinheiro? 

Conforme mostram pesquisas da chamada psicologia econômica e de sua área afim, as finanças comportamentais, existem armadilhas cognitivas que influenciam nosso comportamento quando se trata de dinheiro.

“São mecanismos mentais rápidos, automáticos e, muitas vezes, inconscientes, que nos levam a tomar decisões inadequadas”, diz Adriana Rodopoulos, economista com formação em psicologia econômica e sócia-fundadora da Oficina de Escolhas, de São Paulo. É o caso de nossa tendência a empurrar eternamente a decisão de trocar de plano de telefonia ou de TV a cabo mesmo sabendo que o atual nos dá prejuízo.

Para driblar as armadilhas mentais que minam seu orçamento, o primeiro passo é tomar consciência delas. Depois, você pode estudar a melhor estratégia para se forçar, por exemplo, a economizar em vez de apenas gastar.

“Colocar lembretes para você mesmo, incluindo alarmes que alertem o dia de guardar dinheiro, pode ser uma opção para começar a se organizar”, afirma a psicanalista Vera Rita de Mello Ferreira, professora da Fipecafi e membro do Núcleo de Estudos Comportamentais da Comissão de Valores Mobiliários (CVM). Romper com o ciclo dos mecanismos automáticos que nos levam a decisões erradas pode ser a chave para conquistar uma vida financeira mais feliz.

Fuja destas ciladas

Confira os comportamentos que podem prejudicar suas finanças e quais são os truques para combatê-los:

1 Inércia

O que é: tendência de manter as coisas como estão, às vezes de maneira inconsciente.

Como prejudica as finanças: seus efeitos são, em geral, de longo prazo. Trocar de plano de saúde ou pesquisar novas opções para o pacote de TV a cabo dá trabalho, e acabamos deixando para depois. Essas pequenas economias, quando negligenciadas, comprometem o orçamento.

Como lidar com o problema: questione-se sobre a necessidade de determinados produtos ou serviços que você contrata. Se o gasto não valer a pena, elimine a despesa. Outra recomendação é estabelecer um prazo para fazer pesquisas e cortar alguns serviços.

2 Comportamento de manada

O que é: tendência inconsciente de seguir o comportamento de um grupo ou da maioria.

Como prejudica as finanças: se um grupo de amigos vive com a corda no pescoço, a probabilidade de você também se enforcar nas dívidas é grande, porque tende a achar isso normal.

Como lidar com o problema: analise como você age financeiramente quando está em grupo e procure não reproduzir, sem questionamentos, o comportamento da maioria. Por exemplo, se você vai a um restaurante com amigos e todos propõem dividir a conta, questione se, no seu caso, optar pela comanda individual poderia ser vantajoso.

3 Busca de confirmação

O que é: tendência de buscar, a todo custo, aspectos e informações que confirmem aquilo em que queremos acreditar — até quando estamos errados.

Como prejudica as finanças: insistir em investimentos errados, em vez de reagir rápido, nos faz perder mais dinheiro. É o caso do investidor da bolsa que se apega a qualquer informação positiva para alimentar sua confiança num fundo de ações que está se desvalorizando.

Como lidar com o problema: faça contrapontos em suas análises. Antes de escolher um investimento, compare-o com outros e busque os pontos negativos de cada um.

4 Contas mentais

O que é: segundo o psicólogo israelense Daniel Kahneman, ganhador do Nobel de Economia de 2002, nosso cérebro compartimentaliza as informações financeiras sem enxergar o patrimônio como um todo. “Usamos diferentes contas: temos dinheiro para os gastos, a poupança, um fundo de reserva para os filhos ou emergências médicas”, diz o especialista.

Como prejudica as finanças: é comum que pessoas endividadas mantenham investimentos porque consideram o dinheiro aplicado como algo separado do patrimônio.

Como lidar com o problema: liste todos os seus bens, aplicações e dívidas. Use um caderno ou uma planilha para anotar as prestações que vão cair a cada mês.

5 Aversão à perda

O que é: dificuldade de assumir seus erros e aceitar perdas.

Como prejudica as finanças: suponha que você tenha comprado um carro de 30 000 reais em 48 parcelas e, na metade do financiamento, não consiga mais pagá-lo. A situação racional é repassar o financiamento para outra pessoa. Mas o que acontece, na prática, é que nos apegamos ao que já foi pago, e a dívida só cresce simplesmente porque não conseguimos aceitar a perda do automóvel.

Como lidar com o problema: A regra básica é analisar os riscos embutidos na operação com antecedência. No caso de empréstimos ou financiamentos, observe o Custo Efetivo Total, valor que inclui taxa de juro e encargos financeiros. Lembre-se de pesquisar detalhes, como a taxa de administração cobrada pelos bancos.

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