Homem estudando: estilo do Cespe desestimula "chutes" nas provas (Getty Images)
Camila Pati
Publicado em 27 de julho de 2014 às 06h00.
São Paulo - Desvendar o estilo da banca examinadora é um dos passos fundamentais na trajetória rumo à aprovação em um concurso público.
E essa máxima é ainda mais crucial quando o concurso é organizado pelo Centro de Seleção e de Promoção de Eventos (Cespe), pertencente à Fundação Universidade de Brasília.
Com fama de ser a banca mais temida pelos concurseiros, o Cespe organiza concursos da Polícia Federal, Abin, Banco Central, agências reguladoras, entre outros. Seu estilo é peculiar, segundo especialistas consultados por Exame.com. Veja alguns fatos sobre o perfil da banca citados por eles:
1. Modelo certo e errado pede atenção redobrada
“As provas objetivas não são de múltipla escolha”, diz Paulo Estrella, diretor pedagógico da Academia do Concurso.
O Cespe aposta em questões em que é preciso assinalar certo e errado nos enunciados. “Isso pede atenção redobrada dos candidatos”, diz a professora Letícia Debom, do site Gabarita Português.
“Precisa ter conhecimento, demanda interpretação de texto e não é possível responder por eliminação de alternativas”, lembra Estrella. De acordo com ele, embora seja temida, a banca favorece quem estuda e tem domínio da matéria.
2. Questões pedem entendimento muito além da “decoreba”
Decorar conteúdo pode não ser uma boa estratégia. Na opinião de Alexandre Prado, diretor do site Concurso Virtual, o modelo de prova privilegia uso de contextualização e interdisciplinaridade.
“O candidato não deve desprezar o conhecimento adquirido por meio de memorização, mas deve buscar um entendimento mais aprofundado dos temas”, diz Prado.
Isso acontece porque muitas questões são elaboradas a partir de simulações de casos concretos. “É uma banca que cobra, na parte de Direito, muito além do texto das leis, exigindo conhecimentos de interpretação dessas normas”, afirma o diretor do site Concurso Virtual.
3. Erros anulam acertos
Em provas do Cespe, candidatos não só deixam de ganhar como perdem pontos com erros. “Estatisticamente o concurseiro tem 50% de chance de acertar e 50% de chance de errar, neste modelo certo e errado. Por esse raciocínio, uma pessoa que chuta poderia acertar metade da prova e errar a outra metade. Mas se fizer isso toma zero, porque quando erra perde ponto”, explica o diretor pedagógico da Academia do Concurso.
4. Quem deixa em branco não ganha nem perde ponto
As provas objetivas do Cespe permitem três tipos de resposta : certo, errado e em branco. “Quando o candidato não sabe a resposta, pode ser melhor deixar em branco, porque ele não vai ganhar nem perder pontos”, diz Estrella.
5. É possível treinar com provas de concursos para cargos de mesmo nível
Por ser uma banca tradicional e responsável pela organização de muitos concursos, o volume de questões de concursos anteriores é enorme.
Segundo Paulo Estrella, concurseiros não devem se ater à resolução de questões apenas de concursos anteriores específicos para o cargo que desejam.
“Questões de concursos de nível superior do Cespe têm o mesmo nível de complexidade. Um candidato à vaga na Polícia Federal pode treinar resolução de questões de disciplinas que também são cobradas em outros concursos de nível superior”, diz Estrella.Assim, de acordo com o especialista, as chances de encontrar no dia da prova uma questão parecida aumentam bastante.
Disciplinas como Direito Constitucional, Direito Administrativo, Português e Informática são frequentes em editais de diferentes concursos, lembra Estrella.
6. É mais difícil ter noção do desempenho logo depois da prova
Além de cansativas, as provas do Cespe, no modelo como são estruturadas, não permitem que o candidato tenha percepção clara do seu desempenho assim que sai da sala de prova.
“É normal, candidato achar que foi muito bem e ter ido mal, ou achar que foi muito mal e ter conseguido um bom desempenho”, diz Estrella.