Inteligência emocional (Klaus Vedfelt/Getty Images)
Sofia Esteves
Publicado em 31 de agosto de 2020 às 15h00.
Última atualização em 31 de agosto de 2020 às 15h31.
Precisamos de conexão. Somos seres coletivos e estar em contato com outros seres humanos é o que nos move. Para muitos, isso ficou ainda mais em evidência com o isolamento social, não é mesmo?
Boa parte de nossa vida gira em torno das relações e isso envolve estar exposto. No entanto, fomos criados em uma sociedade que definiu “padrões” de sucesso e de beleza.
Crianças, jovens e adultos, pouco a pouco, deixam de perceber o próprio potencial por não se encaixarem nesses “modelos de perfeição”. Com a chegada das redes sociais e a facilidade de manipular fotos e informações, esse desafio tornou-se ainda maior.
Sendo assim, ao longo de nossa vida, para proteger nossas “fragilidades”, desenvolvemos mecanismos emocionais, máscaras que camuflam nossos verdadeiros sentimentos e emoções.
Em alguns casos, a mulher guerreira e batalhadora, considerada um exemplo de garra, na verdade, está exausta. O presidente bem-sucedido, apenas queria poder passar mais tempo com os filhos. A profissional produtiva e workaholic, se esconde atrás do trabalho por medo de se dedicar ao que realmente gosta e não ser aceita pela família.
O medo da rejeição, do que é considerado fracasso e de não ser bom o suficiente tem nos sufocado há décadas. Tudo em busca da “tal perfeição”.
No entanto, quando fugimos de sentir verdadeiramente nossas emoções, também nos fechamos para a aceitação, a criatividade e o fluxo natural dos nossos talentos. Perdemos a oportunidade de sermos originais, nos tornando meras cópias.
Por isso, as pessoas que se defendem a todo custo do erro e do fracasso acabam se frustrando e se distanciando das experiências marcantes que dão significado à vida. Não à toa, os casos de depressão têm crescido tanto, especialmente no Brasil.
Agora, gradualmente, as empresas estão voltando a funcionar. Mesmo com as medidas de isolamento necessárias, o retorno nos convida a conviver novamente uns com os outros sem a proteção de uma tela de computador.
E se, dessa vez, você se permitir fazer diferente e descobrir como a vulnerabilidade pode transformar sua vida e suas relações, inclusive profissionais? Para isso, você terá de ser vulnerável!
Após 20 anos de pesquisas sobre medo, vergonha, vulnerabilidade e coragem, Brené Brown, autora do livro A Coragem de Ser Imperfeito, revelou importantes insights sobre a vulnerabilidade e seus mitos. Confira quais são eles:
1. Vulnerabilidade é sinônimo de fraqueza: vulnerabilidade é ter a coragem de se expor, mesmo sem poder controlar o resultado. Ou seja, por mais que esse mito seja amplamente difundido, ele não faz sentido algum. Apenas os corajosos e dotados de inteligência emocional é que têm a ousadia de se revelarem como são.
Vale lembrar que inteligência emocional é a habilidade de gerenciar as próprias emoções. Isso não quer dizer ser feliz e otimista o tempo todo. Todos nós passamos por desafios e dias ruins e temos o direito de não estar bem a todo o momento. Assumir nossa vulnerabilidade, nos torna mais fortes.
2. Vulnerabilidade não combina comigo: não expor suas emoções, como citado acima, não é sinônimo de força, mas de repressão. Ser vulnerável não é apenas uma escolha, mas uma condição inerente a todos os seres humanos. Mesmo que você não expresse suas emoções, você as sente. É vulnerável a si mesmo. Então, que tal aceitar e aprender a lidar com isso de uma forma mais saudável?
3. Vulnerabilidade é fazer da minha vida um livro aberto: aqui chegamos a um ponto bem importante. Até agora, falei da importância de se expor, mas isso não quer dizer que você deva fazer isso para qualquer pessoa, ou situação.
A vulnerabilidade é fundamentada na reciprocidade e exige limites e confiança. Ser vulnerável é compartilhar suas experiências e sentimentos com pessoas que conquistaram o direito de conhecê-los. Porém, muitas vezes confiar e ser vulnerável antes de ter certeza sobre a reciprocidade, é justamente o que cria conexão entre as partes. Confie na sua intuição e no seu discernimento para saber como agir em cada situação.
4. Eu dou conta de tudo sozinho, não preciso me expor: e se eu te contar que isso é um traço de personalidades orgulhosas? Não, você não precisa provar sua força a ninguém e sua jornada pode ser muito mais confortável. Todos precisam de apoio. Além disso, a coragem de enfrentar a vulnerabilidade encoraja outras pessoas que estão próximas de você a fazer o mesmo.
Ser vulnerável é um processo de autodesenvolvimento sem fim e, sim, exige dedicação para construir novos hábitos. Por experiência própria, foi a melhor coisa que fiz por mim.
Há quatro anos, quando tentei ser uma supermulher, querida por todos, tive um Burnout. Não desejo que você tenha de passar pela dor que passei para aprender a baixar a guarda e, enfim, ser vulnerável e pedir ajuda.
E veja só que incrível. Quando solicitei meus amigos, familiares e até clientes, relatando o meu momento, sabe o que aconteceu?
Fui tão acolhida, que a admiração, o respeito e carinho das pessoas por mim só aumentou e, muitas, sentiram-se à vontade para compartilhar seus sentimentos comigo também — o que ampliou a confiança mútua.
Espero que minhas palavras, inspiradas nos conhecimentos da Brene Brown e em minhas experiências tenham te tocado e que você utilize essas dicas com sabedoria.
Boa jornada!