São Paulo: paradigma para o agro no enfrentamento da segurança alimentar
Produtores e atores dos sistemas agroalimentares estão na liderança da pauta das exportações paulistas para países envolvidos em conflitos
Bússola
Publicado em 26 de julho de 2022 às 14h20.
Não há setor da cadeia global de alimentos que não tenha visto os preços subirem depois da invasão da Rússia à Ucrânia. Essa situação atual da geopolítica internacional alerta para o aumento da insegurança alimentar e para a necessidade de explorar novos potenciais na produção de alimentos.
A ameaça à segurança alimentar não é consequência apenas do conflito no leste europeu. Estamos em um momento crucial para a agricultura e expostos a uma sobreposição de crises, que coloca o setor no topo da agenda global. Nossos produtores e outros atores relevantes dos sistemas agroalimentares estão na linha de frente e enfrentam riscos crescentes, entre os mais importantes os associados às mudanças climáticas, dos quais ninguém no planeta pode ignorar.
Mesmo com todos esses desafios, São Paulo é o estado brasileiro que mais exporta tanto à Rússia quanto à Ucrânia, por exemplo. O setor agropecuário ocupa posição de fundamental liderança na pauta das exportações paulistas – e, portanto, brasileiras – aos países diretamente envolvidos no conflito.
Em 2021, os produtos e insumos agropecuários representaram cerca de 75% dos U$ 403 milhões exportados por São Paulo à Rússia. O amendoim paulista, cuja compra russa ao longo do ano passado chegou a U$130 milhões, foi o principal produto negociado nestas transações.
Também no comércio bilateral com a Ucrânia, o amendoim, acompanhado de outros produtos como o açúcar de cana, o café e insumos agrícolas, encabeçou a lista das exportações. O agro paulista, se considerada a exportação de bens agropecuários, maquinário agrícola e outros insumos agroindustriais, foi responsável por mais de 20% do valor total das exportações brasileiras à Ucrânia e cerca de 18% do valor exportado pelo Brasil à Rússia.
O Brasil é capaz de conviver e superar os atuais desafios, com sustentabilidade e tecnologia, e de aumentar e expandir a sua produção e também a exportação dos seus produtos agropecuários, e o Estado de São Paulo é um exemplo claro disso. Dados do IEA, Instituto de Economia Agrícola, mostram que o saldo da Balança Comercial Paulista no ano de 2021 foi de US$ 14,36 bilhões, 9,1% superior a 2020.
Ainda com números do IEA, a Secretaria da Agricultura (SAA) mostra que o agronegócio paulista aumentou em 9,5% suas exportações em 2021 em relação a 2020, exportando um total de US$ 18,97 bilhões no ano. As importações também aumentaram em 10,6%, no valor de US$ 4,58 bilhões. O saldo da Balança Comercial Paulista no período, de acordo com o Instituto, foi de US$ 14,39 bilhões, 9,1% superior a 2020.
Os cinco principais grupos na exportação do agronegócio estadual foram complexo sucroalcooleiro (US$ 6,53 bilhões), complexo soja (US$ 2,57 bilhões), grupo de carnes (US$ 2,53 bilhões), produtos florestais (US$ 1,68 bilhão) e grupo de sucos (US$ 1,59 bilhão).
São evidentes também o empenho e a tecnologia desenvolvida pelo agronegócio paulista, cuja qualidade dos produtos é reconhecida em boa parte do mundo.
Prova disso é o aumento expressivo de investimentos em pesquisa realizado pela SAA. Só nos últimos 12 meses foram investidos R$ 102 milhões, através da Agência Paulista de Tecnologia dos Agronegócios (APTA) em seus institutos.
Embora a força produtiva do estado de São Paulo possa ser um farol para outras regiões não só do Brasil, como da América Latina e Caribe, é inegável a vocação agropecuária de todo hemisfério e seu papel relevante na segurança alimentar mundial. As condições globais atuais aumentaram a tomada de consciência sobre a fragilidade da segurança alimentar e nutricional no âmbito global, bem como sobre a necessidade de uma maior produtividade agrícola sustentável.
Um exemplo sustentável foi mostrado durante a Agrishow 2022, pela Secretaria de Agricultura e Abastecimento do Estado de São Paulo, Através do Instituto de Zootecnia (IZ-APTA), foi lançado o primeiro Centro de Pesquisa de Pecuária Sustentável do Brasil, em São José do Rio Preto (SP), visando à produção intensiva de bovinos de corte com sustentabilidade.
Por isso, precisamos aumentar os esforços para intensificar as ações necessárias para promover a inovação, a tecnologia, o financiamento climático e o investimento do setor privado como elementos positivos que reforcem mudanças e considerem, principalmente, os pequenos agricultores.
E para isso, é essencial reiterar a importância da cooperação entre estados e entre as nações especialmente à luz dos impactos na produção, do processamento e do comércio de alimentos e produtos agropecuários.
"Fome zero e agricultura sustentável" é o Objetivo de Desenvolvimento Sustentável 2 da Agenda 2030, e pode ser traduzida como a garantia da segurança alimentar. É fundamental que o Brasil tenha prioridade nessa agenda.
O Estado de São Paulo tem trabalhado para cumprir o seu papel dentro do desafio, apresentando soluções no que tangem a disponibilidade, estabilidade, acesso e consumo, elementos essenciais para fornecer e distribuir alimentos a todas as pessoas ao redor do mundo.
O Governador do Estado de São Paulo Rodrigo Garcia tem participação ativa na agenda da agricultura paulista. No mês de maio, a cidade de Ribeirão Preto, no interior de São Paulo, bateu recorde de público na Agrishow, maior feira do agronegócio da América Latina, que contou com o apoio do governo e com a participação do Governador. A Agrishow promove a inovação do campo e permite uma troca comercial dos produtores paulistas com o mundo, oferecendo oportunidade de investimentos, empregos e o mais importante, fornecendo alimentos para o mundo.
Sem agricultura e sem agricultores não há segurança alimentar. São muitas as oportunidades de sinergia, sempre de mãos dadas com a ciência, para aumentar a produtividade de forma sustentável, reduzir a intensidade das emissões de gases de efeito estufa e, assim, melhorar a resiliência. Portanto, as ações ganha-ganha são a prioridade nos próximos tempos para a agricultura.
*Julio Serson é secretário de Relações Internacionais, Francisco Matturro é secretário de Agricultura e Abastecimento e Manuel Otero diretor-geral do Instituto Interamericano de Cooperação para a Agricultura
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