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Restaurar ecossistemas pode gerar até 2,5 milhões de empregos no Brasil até 2030

Estudo inédito mostra que, se o país cumprir a meta de restaurar 12 milhões de hectares até 2030, poderá gerar 0,42 emprego por hectare

Projeto pode gerar de 1 milhão a 2,5 milhões de postos de trabalho (Martin Ruegner/Getty Images)
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Bússola

Publicado em 25 de julho de 2022 às 11h00.

Última atualização em 25 de julho de 2022 às 12h03.

Estamos na Década das Nações Unidas da Restauração de Ecossistemas e um dos compromissos climáticos assumidos mundialmente pelo Brasil, por meio da Política Nacional para Recuperação da Vegetação Nativa, foi o de restaurar 12 milhões de hectares de áreas degradadas até 2030.

Além dos ganhos ambientais, essa reversão da degradação ambiental pode trazer múltiplos benefícios sociais e econômicos como a geração de emprego e renda por meio da cadeia da restauração. É o que mostra o estudo inédito realizado pela Sociedade Brasileira de Restauração Ecológica (Sobre), Pacto pela Restauração da Mata Atlântica (Pacto), Aliança Pela Restauração na Amazônia e Coalizão Brasil, Clima, Floresta e Agricultura, com apoio de importantes instituições da agenda de restauração do Brasil, como a The Nature Conservancy (TNC) Brasil e World Resources Institute (WRI) Brasil.

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Coordenado pelos pesquisadores Pedro Brancalion, professor da USP, e Rafael Chaves, especialista ambiental da Secretaria de Infraestrutura e Meio Ambiente do Estado de São Paulo, e publicado pela revista People and Nature, o estudo mostra que, no Brasil, a restauração florestal ativa tem capacidade de gerar 0,42 emprego por hectare. O que significa dizer que é gerado um emprego a cada dois hectares restaurados (que equivale a dois campos de futebol). Levando-se em consideração os cenários do Plano Nacional de Recuperação da Vegetação Nativa (Planaveg), de ter entre 20% e 50% de restauração ativa, com plantio de mudas e sementes, é possível gerar de 1 milhão a 2,5 milhões de postos de trabalho.

Segundo Chaves, a restauração de ecossistemas beneficia a sociedade em múltiplas esferas e, embora os ganhos ambientais sejam normalmente mais difundidos, este estudo ressalta benefícios sociais e econômicos contribuindo com a melhoria da qualidade de vida das pessoas. “Diferentemente dos resultados de longo prazo, os empregos são gerados desde o início do processo de restauração, que abrange da coleta de sementes e produção de mudas até o plantio, manutenção e monitoramento, de modo descentralizado no território e beneficiando populações vulneráveis”, declara o ex-presidente da Sobre.

Regionalidades

O levantamento também mostrou que, atualmente, os trabalhos de restauração estão concentrados na Região Sudeste (61%), sendo um terço no estado de São Paulo. Da mesma forma, a maioria dos empregos existentes envolvem total ou parcialmente a Mata Atlântica (85%), pioneira em atividades de restauração no Brasil.

Esses dados evidenciam a necessidade de se desenvolver a cadeia da restauração florestal em outras regiões e biomas. Para Brancalion, o estudo identifica as possibilidades para dar escala à restauração, ressaltando as oportunidades para formulação de políticas públicas que incentivem e transformem a restauração em uma atividade econômica de larga escala benéfica para toda a sociedade, além do seu impacto na mitigação das mudanças climáticas ao nível global.

“Os resultados positivos que podem advir das atividades econômicas da cadeia da restauração dependem de compromissos de financiamento de longo prazo, que estejam equitativamente distribuídos entre regiões e biomas brasileiros. Além disso, vale destacar que a restauração de ecossistemas é uma atividade econômica emergente com potencial de geração de empregos e renda, principalmente em organizações locais”, afirma o engenheiro-agrônomo.

A opinião é compartilhada pelos especialistas em restauração da TNC Brasil que contribuíram com a coleta de dados e análise de resultados. Um destes especialistas, Julio Tymus, lembra que as oportunidades de trabalho podem alavancar investimentos adicionais para a implementação da restauração e apoiar a sua manutenção a longo prazo.

“Investir na restauração de ecossistemas traz inúmeros benefícios ambientais, econômicos e sociais, mas para garantir o êxito das ações é preciso planejamento, com o desenvolvimento de estratégias de curto, médio e longo prazos, além de políticas públicas e de incentivos que permitam tanto a restauração ativa, quanto a regeneração natural em projetos com aplicabilidade em escala”, afirma Tymus.

O estudo traz ainda levantamento inédito sobre o impacto da pandemia de covid-19 na cadeia da restauração. De acordo com os dados, em 2019 foram reportados 4.713 empregos temporários e 3.510 permanentes por meio da restauração, sendo que cerca de 60% foram gerados por organizações especializadas em restauração, principalmente das organizações sem fins lucrativos (48%) e setor privado (37%). No entanto, quase 20% deste total foi perdido durante a pandemia em 2020. Os investimentos e políticas públicas e de incentivo à restauração de ecossistemas são oportunidades de reverter esse quadro com a criação de milhares de postos de trabalho no curto prazo.

A pesquisa foi realizada em 2020, de forma online, com 356 instituições da cadeia da restauração distribuídas em 25 unidades da federação, com o objetivo de mapear a estrutura e a distribuição de postos de trabalho no Brasil. Este levantamento também deu origem à Vitrine da Restauração, portal que reúne as organizações que trabalham com restauração ecológica no Brasil e facilita o contato com interessados em restaurar. A Vitrine da Restauração está disponível para acesso público no website da Sobre.

Na mesma página, pode ser encontrado o Sumário para Políticas Públicas que apresenta, em português, os principais destaques do estudo aplicáveis no contexto nacional, documento intitulado Potencial da Restauração de Ecossistemas para a Criação de Empregos no Brasil.

Organizações

Como estratégia para superar barreiras e ganhar escala na restauração, as organizações têm criado movimentos de restauração que endereçam lacunas e possibilitam a troca de experiências. É o caso do Pacto pela Restauração da Mata Atlântica, movimento multissetorial com meta de restaurar 15 milhões de hectares até 2050, que conta com mais de 300 membros.

Para a coordenadora nacional do Pacto e coautora do estudo, Ludmila Pugliese, integrar e articular os esforços de diferentes organizações é fundamental para o ganho de escala da restauração e atingir as metas nacionais. “O estudo mostra que a restauração é uma oportunidade para geração de emprego e renda, trazendo benefícios sociais, ambientais e econômicos para o Brasil”.

Além do Pacto, outras iniciativas regionais têm surgido no Brasil com o intuito de articular atores e ganhar escala na restauração de ecossistemas, como no caso da Aliança pela Restauração da Amazônia, Articulação pela Restauração do Cerrado (Araticum), Rede Sul de Restauração Ecológica e Rede Trinacional de Restauração da Mata Atlântica, em sinergia com a Sociedade Brasileira de Restauração Ecológica (Sobre) na esfera nacional.

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