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Renato Krausz: Joe Biden num enrosco difícil de sair

Guerra na Ucrânia e rasteiras ambientais no Congresso e na Suprema Corte colocam o presidente americano em maus lençóis — e o planeta numa caldeira

#ESG Guerra na Ucrânia e rasteiras ambientais no Congresso e na Suprema Corte colocam o presidente americano em maus lençóis — e o planeta numa caldeira, escreve Renato Krausz na coluna ESG na Bússola (Bloomberg/Getty Images)
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Bússola

Publicado em 14 de abril de 2022 às 12h00.

Última atualização em 18 de abril de 2022 às 15h48.

Por Renato Krausz*

A vitória de Joe Biden no final de 2020 foi um alento para qualquer pessoa que tenha um pingo de consciência do drama climático que castiga o planeta. Desde então, o discurso evoluiu muito e também houve avanços práticos, mas no frigir dos ovos as coisas não estão fluindo como se esperava. Embora tudo o que o atual presidente dos Estados Unidos faça ou diga represente um avanço em relação ao lamentável ato de apenas existir do seu antecessor, ele hoje se encontra numa encruzilhada lascada.

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Para resumir num parágrafo, o Senado pode reduzir a pó o seu plano de guinada verde na economia, a Suprema Corte talvez vete sua tentativa de regular com mais rigor tanto a produção de energia poluente quanto o abastecimento da frota veicular do país, e a guerra na Ucrânia está fazendo com que Biden se veja obrigado a incentivar como nunca a produção de petróleo dentro dos Estados Unidos.

Como eles dizem lá, holy shit, my friend!

Biden começou o mandato borrifando uma certa dose de esperança para a salvação mundial na questão climática e corre o risco de terminá-lo sem nem sequer deixar pavimentado o caminho para os EUA cumprirem a meta assumida pelo eleito de reduzir à metade as emissões de gases de efeito estufa do país até 2030.

O especialista em política climática da Universidade da Califórnia David Victor disse à premiada jornalista ambiental do NYT Coral Davenport: “Cinquenta por cento até 2030 sempre foi uma meta exagerada. Nunca pensei que fosse viável. Certamente isso não vai acontecer agora”.

A principal carta na manga do presidente sempre foi uma ampla proposta de lei que passou na Câmara e travou no Senado, prevendo investimentos de US$ 2,2 trilhões em projetos socioambientais, incluindo cerca de US$ 300 bilhões em incentivos fiscais para energia eólica e veículos elétricos. De acordo com especialistas ouvidos pelo NYT, se promulgada, a proposta de Biden poderá reduzir as emissões do país em cerca de 25% até 2030, ou seja, metade do que ele prometeu.

Mas os senadores republicanos tapam os ouvidos para a ciência e torcem o nariz para a proposta. E pior: não são só eles. O senador democrata Joe Manchin, cujo voto é primordial para a lei ser aprovada, já deixou claro que será contra.

Não bastasse o dissabor com o Congresso, Biden corre o risco de ver a Suprema Corte vetar regulamentações em curso que impõem limites à poluição gerada pela produção de energia por térmicas a carvão e obrigam a indústria automotiva a migrar mais rapidamente para os veículos elétricos.

Que dureza. Mas pensa que acabou? Nada. Nesse mar já difícil e cheio de revezes dentro de casa para o presidente americano, na Europa a aberração política que comanda ditatorialmente o maior país do mundo decidiu destruir a Ucrânia, dando início ao mais explosivo e perigoso cenário bélico no continente desde a 2ª Guerra Mundial. Além da tragédia humana que toda guerra carrega a reboque, essa em particular bagunçou de vez o mercado de petróleo no mundo.

Então, Biden teve que liberar a produção interna de óleo em quantidades inéditas. No último dia de março, autorizou a extração de 1 milhão de barris por dia das reservas estratégicas, por um período de seis meses. A conta é simples, são 180 milhões de barris.

Enquanto assinava a liberação, Biden ainda tentava chamar atenção, como quem berra no deserto, da importância para o futuro do país — e da humanidade — da sua proposta travada no Senado. Os republicanos, por sua vez, provavelmente rindo às gargalhadas, seguiam exigindo liberdade para perfurar ainda mais poços. E o maníaco russo presumivelmente apertava outro botão para despejar mais alguns mísseis sobre civis ucranianos.

Eita mundinho difícil esse nosso. Assim não há ESG que resolva.

*Renato Krauszé sócio-diretor da Loures Comunicação

Este é um conteúdo da Bússola, parceria entre a FSB Comunicação e a Exame. O texto não reflete necessariamente a opinião da Exame.

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