Readequação da mobilidade urbana: coletividade e energias renováveis
Números deixam claro que há necessidade de readequação do espaço público, com maior centralização nas pessoas e investimentos em economia
Bússola
Publicado em 10 de junho de 2022 às 14h55.
Última atualização em 10 de junho de 2022 às 15h44.
A poluição do meio ambiente e seus múltiplos agentes causadores têm sido motivo de grande preocupação ao longo das últimas décadas.
Cada vez mais, os indicadores demonstram que a inquietação tem embasamento: somente na cidade de São Paulo, a poluição do ar ficou acima do recomendado pela Organização Mundial da Saúde nos últimos 22 anos.
Segundo estudo do Instituto de Energia e Meio Ambiente (Iema), as concentrações de material particulado, ozônio e dióxido de nitrogênio estão além dos valores limítrofes estabelecidos pela OMS, com indicadores até quatro vezes maiores em algumas regiões da cidade.
É fato que o aumento das emissões de poluentes está diretamente relacionado ao trânsito veicular, portanto, a readequação da mobilidade urbana é fundamental para reverter o cenário. Investir em coletividade e energias renováveis pode ser peça-chave para o movimento.
Dados do Inventário de Emissões Atmosféricas do Transporte Rodoviário de Passageiros no Município de São Paulo, também desenvolvido pelo Iema, apontam que, em São Paulo, os carros e automóveis individuais fazem apenas 30% das viagens urbanas, mas são responsáveis por 72,6% das emissões de gases de efeito estufa do setor de transporte. Em paralelo, as cidades ainda são estruturadas tendo os carros particulares como enfoque. De acordo com a pesquisa Viver SP 2020, da Rede Nossa São Paulo, enquanto os carros ocupam 88% dos espaços das vias, os ônibus — que transportam cerca de 29% das pessoas — detém apenas 3%.
Os números deixam claro que há uma necessidade de readequação do espaço público, com maior centralização nas pessoas e investimentos em economia compartilhada e intermodalidade sustentável, ou seja, na integração das diversas formas de transporte nas cidades.
É fundamental revisarmos o espaço que os carros particulares ocupam no ecossistema, com a premissa de reduzir impactos econômico-ambientais, além de colocarmos em pauta a discussão sobre a mobilidade do futuro, que é, acima de tudo, sobre a conexão entre diversas opções de transporte que tornam a jornada das pessoas mais fácil e conveniente.
A priorização dos meios de transporte coletivos, da mobilidade ativa e do desenvolvimento de frotas elétricas, por exemplo, são caminhos fundamentais para promover maior sustentabilidade, mas, para que o cenário se concretize, é preciso fazer com que mais pessoas enxerguem benefícios claros em deixar o carro e que outros não sonhem em abandonar o transporte coletivo. Para isso, temos de oferecer opções de transporte qualificadas e acessíveis a todos.
Trabalhar pela qualificação da experiência no transporte público é trazer dignidade para o dia a dia de quem usa o transporte, é atrair mais pessoas para tomarem decisões mais sustentáveis, mas é, acima de tudo, fazer da opção mais fácil para o indivíduo a melhor alternativa também para a sociedade. Nisso, a tecnologia tem um papel importante.
A tecnologia já permitiu a abertura do mercado de serviços de mobilidade, ampliando as opções de deslocamento e a acessibilidade das pessoas. No entanto, é necessário integrar esses mesmos recursos — informações em tempo real, pagamentos digitalizados, compartilhamento de informações — ao sistema de transporte público.
Dessa forma, para atingir a eficiência das cidades do futuro, é essencial que o poder público esteja atento às oportunidades que se desenvolvem em parceria com o setor privado. Ambos os setores podem trabalhar de forma integrada e complementar, abrindo espaço para surjam novas ideias e projetos com o potencial de transformar o segmento. Precisamos superar a ideia de que deve existir apenas um protagonista. A colaboração é a chave para melhorar a experiência para o usuário do transporte público, gerando novos produtos e serviços e contribuindo para o progresso da mobilidade urbana no país.
*Luísa Peixoto, especialista em políticas públicas da Quicko
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