Atletas paralímpicos não precisam ser “super-humanos”. (Kiyoshi Ota / Correspondente/Getty Images)
Bússola
Publicado em 4 de setembro de 2021 às 13h32.
Por Danilo Vicente*
A Paralimpíada de Tóquio termina neste domingo, 5. Espera-se ter tido a maior audiência da história. No Brasil, a Sportv, que transmitiu disputas ao vivo, divulgou bons índices de audiência – e sua narradora Natália Lara viralizou ao usar técnicas “para cego ver” na transmissão do Goalball (um incrível esporte disputado por deficientes visuais). E vem da mídia o maior exemplo de como a sociedade pode evoluir em relação às pessoas com deficiência.
O inglês Channel 4, que desde 2012 dá um show de transmissão do evento, na edição dos Jogos de Tóquio deu um show de compreensão. Em 2012, a emissora comprou apenas os direitos da Paralimpíada de Londres, não da Olimpíada. E lançou uma campanha então marcante: “depois do aperitivo da Olimpíada, os britânicos veriam os “Super Humanos”. Levou multidões às competições paralímpicas e atingiu 69% da população.
Em 2016, uma leve mudança. Com “We are the superhumans”, a campanha do Channel 4 martelou na cabeça das pessoas o slogan “Yes, I can”, mostrando a superação de quem deseja chegar ao auge olímpico. Ou seja, humanos que superam dificuldades e viram atletas.
Agora, para Tóquio, a evolução continuou. O Channel 4 não teve medo: “Para ser um paralímpico, deve haver algo de errado com você”. Polêmico? Não, corajoso. O “errado” não é a deficiência; é o lado humano. As pessoas com deficiência são humanas e, assim, desafiam conselhos médicos, perdem aniversário das crianças, são ansiosas, se machucam... Como acontece com qualquer atleta, com deficiência ou não.
Fica o recado: os exemplos super-humanos são ótimos, ainda mais em uma paralimpíada, mas as pessoas com deficiência são simplesmente humanas, iguais a qualquer pessoa. E assim devem ser observadas e analisadas.
Em Tóquio, o Comitê Paraolímpico Internacional lançou o #Wethe15, maior movimento do planeta para acabar com a discriminação contra pessoas com deficiência. O objetivo é transformar a vida de 1,2 bilhão de pessoas que têm impedimentos de longo prazo de natureza física, mental, intelectual ou sensorial e representam 15% da população global.
Na empresa em que você trabalha a pessoa com deficiência é discriminada ou tratada como super-humana? Os dois casos estão errados. Ela é profissional e apenas desta maneira deve ser avaliada.
Andrew Parsons, o brasileiro presidente do Comitê Paraolímpico Internacional, já afirmou que o Channel 4 define o padrão “de como todas as outras emissoras ao redor do mundo cobrem os Jogos Paraolímpicos”. Que o exemplo extrapole a TV.
*Danilo Vicente é sócio-diretor da Loures Comunicação
Este é um conteúdo da Bússola, parceria entre a FSB Comunicação e a Exame. O texto não reflete necessariamente a opinião da Exame.
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