PLAY: A ingratidão de Tom Cruise e da Academia com o streaming
Durante a pandemia, plataformas como Netflix sustentaram a indústria cinematográfica; agora, são novamente alvo de ataques
Bússola
Publicado em 21 de maio de 2022 às 16h34.
Por Danilo Vicente*
Nesta semana, dois fatos colocaram o streaming de filmes novamente na berlinda. A Academia de Artes de Ciências Cinematográficas reinstituiu para o Oscar 2023 a exigência de que os concorrentes tenham estreado em cinemas. E o ator Tom Cruise aproveitou a première de Top Gun: Maverick, no festival de Cannes, na França, para afirmar que jamais lançaria o longa diretamente em streaming.
São duas solapadas na Netflix e companhia, que já têm sofrido nos últimos tempos. Maior do mundo no setor, a Netflix precisou demitir 150 funcionários após perder 200 mil assinantes no primeiro trimestre de 2022. A previsão é de perda ainda maior de assinantes. Isso, em meio a uma confusão com funcionários que reclamam da escolha de conteúdo de baixa qualidade, que a empresa respondeu com um sonoro “em caso de insatisfação, peça demissão”.
As declarações da Academia e de Tom Cruise aparecem depois de o streaming sustentar a indústria cinematográfica na pandemia da Covid-19. Nos dois últimos anos foram aceitas no Oscar produções que estrearam exclusivamente nas plataformas, pois os cinemas estavam fechados. Além disso, é notório que muitos artistas entraram na jogada e fecharam contratos vultosos com Amazon Prime Video, Disney +, Apple TV e, especialmente, Netflix.
É estranho que, agora com o mundo voltando à normalidade, ambos releguem o streaming a um segundo plano. Muito se assemelha à reclamação dos taxistas quando o Uber surgiu. Em seguida, a massa de taxistas aderiu a aplicativos, mas há sempre os que ainda reclamam.
Academia e Tom Cruise deveriam pensar em quem mais importa, o consumidor. Se a pessoa prefere o cinema, como eu, que vá assistir na sala escura ao seu filme predileto. Mas, se não quer ou não pode, é justo que tenha outras formas para assistir aos lançamentos. Opções essas que, queiram ou não, vieram para ficar. Talvez não um monopólio, como se caracterizava o mercado alguns anos atrás, mas, melhor, com diferentes alternativas de consumo.
É claro que qualquer pessoa no planeta quer manter as salas de cinema vivas – jamais conheci alguém que odeie assistir a um filme na telona. Porém, é preciso criar formas de atração que se adequem à chegada da tecnologia e ao mundo contemporâneo. O boicote, pura e simplesmente, nunca funciona. Os hábitos mudaram, os tempos são outros. Brigar com o futuro é impossível.
* Danilo Vicente é sócio-diretor da Loures Comunicação
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