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PLAY: a grandeza de Golda Meir com a morte à sua volta

Esta semana, Danilo Vicente fala sobre a cinebiografia da ex-primeira-ministra de Israel, que vale assistir por Helen Mirren, pela história da líder e pela lição do ser humano em momentos crises agudas

Pôster do filme Golda – A Mulher de Uma Nação (Diamond Films/Divulgação)

Pôster do filme Golda – A Mulher de Uma Nação (Diamond Films/Divulgação)

Danilo Vicente
Danilo Vicente

Sócio e diretor-geral da Loures Consultoria - Colunista Bússola

Publicado em 30 de setembro de 2023 às 07h00.

Vale pela história, vale pela interpretação, vale pela lição. Uma líder pega de surpresa em ataques vindos de duas frentes. Um povo inteiro colocado em risco. Golda – A Mulher de Uma Nação, em cartaz nos cinemas, é uma edificante cinebiografia de Golda Meir, fundadora e ex-primeira-ministra de Israel.

Golda não é, nem foi, unanimidade. Teve de deixar de ser primeira-ministra em 1974 (dando lugar a Yitzhak Rabin), quatro anos antes de morrer. Mas este filme, dirigido pelo israelense Guy Nattiv e impecavelmente protagonizado pela inglesa Helen Mirren, traz uma dose de mitificação. Pudera: em meio a um tratamento secreto contra câncer e em um mundo cheio de homens no comando, esteve à frente do país “recém-nascido” na Guerra do Yom Kippur, em 1973, quando Israel foi simultaneamente invadido pela Síria e pelo Egito. 

É este trecho que o filme foca. A morte aparece em diferentes formas, nunca com cenas de soldados no front. É um filme de guerra centrado na política e nas decisões da alta cúpula. A morte surge nas anotações da primeira-ministra em seu caderninho sobre quantos soldados vão perdendo a vida, nas imagens dela atravessando de maca um corredor de mortos para realizar seu tratamento de radioterapia, no desespero (em áudio original, em hebraico) de soldados sendo assassinados e no olhar triste de uma mãe, secretária na sede do governo de Golda, sem notícias de seu filho soldado.

Essa última porção traz a mais emocionante cena do filme, quando a secretária está diante de sua máquina de escrever e Golda à porta da sala.

O som do filme colabora para sua grandeza. É eloquente quanto necessário, silencioso quando “obrigatório”. Mas nada é mais importante do que a interpretação de Helen Mirren. Contestada por não ser judia, a atriz suscitou críticas e um debate tolo nas redes sociais, com gente querendo uma judia no papel. Besteira. Helen engrandeça a figura de Golda.

Irreconhecível sob camadas de próteses e maquiagem, com bochechas caídas e rugas profundas, a inglesa traz uma Golda sempre com um cigarro em mãos – sempre mesmo –, uma líder humana: contida, inteligente, séria e até insegura. 

Golda não era perfeita, e sabia disso. Reconhecia ser melhor política do que estrategista em guerra, mas mostrou ser humilde. E, em um momento de crise aguda, confiou em sua maior qualidade profissional, a estratégia entre seus pares políticos.

São excelentes os diálogos entre Golda e o então secretário de Estado dos Estados Unidos, Henry Kissinger (Liev Schreiber). Da mesma forma acontece, ao fim do filme, quando a Golda real conversa com o então presidente do Egito, Anwar Sadat. Sim, em algumas cenas surge a Golda Meir verdadeira, com imagens recuperadas.

Cinco anos depois do fim do conflito, israelenses e árabes discutiram um acordo de paz. O Egito reconheceu a existência do Estado de Israel e retomou as relações diplomáticas com os israelenses. O país foi a primeira nação árabe a realizar tal reconhecimento e iniciar uma relação amistosa com o antigo inimigo.

Fica a vontade de assistir a uma biografia de Golda sobre toda a sua vida, não apenas durante a Guerra do Yom Kippur. Mérito de Golda – A Mulher de Uma Nação.

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