O Brasil já acumula quase 173 mil vítimas fatais nessa pandemia (Eduardo Frazão/Exame)
André Martins
Publicado em 30 de novembro de 2020 às 16h57.
Passadas as eleições municipais, o Brasil volta agora suas atenções para a pandemia de coronavírus. Independentemente de estarmos diante de uma segunda onda ou de um forte repique da primeira onda de Covid-19, agora ficará mais claro como prefeitos e governadores irão lidar com as elevações nos números de casos e de óbitos por covid-19 na maior parte dos estados brasileiros.
O Brasil já acumula quase 173 mil vítimas fatais nessa pandemia. O país atingiu neste domingo uma média móvel de 34.763 novos casos diagnosticados por dia, o maior patamar desde 6 de setembro. Nos últimos 20 dias, a média diária de novos casos cresceu 101%. Já a média móvel de óbitos registrados por dia chegou a 522, uma elevação de 54% também ao longo dos últimos 20 dias.
O crescimento no número de casos e, principalmente, a elevação nos índices de ocupação das UTIs em grandes centros, como Rio de Janeiro e São Paulo, jogam luz sobre a necessidade de se adotar ou não medidas restritivas capazes de reduzir a circulação de pessoas e, portanto, frear a velocidade de contágio do coronavírus.
Dificilmente teremos de volta o chamado lockdown, com fechamento do comércio, restaurantes, bares e outros tipos de estabelecimentos, como ocorreu em várias partes do mundo, incluindo o Brasil, entre março e julho. Os impactos na economia foram grandes e prolongados, e a volta a um cenário de isolamento social poderia ser ainda mais danoso para a situação financeira dos indivíduos, das empresas e das três esferas de Estado — municipal, estadual e federal.
Mas, por outro lado, é difícil acreditarmos que nada precisa ser feito. O que temos vistos, em vários pontos do país, são bares cheios, praias lotadas e pessoas circulando sem máscara. Para piorar, estamos entrando na época das festas de fim de ano, em que amigos e familiares costumam se reunir para confraternizações. Em um mundo ainda sem vacina, esse é um prato cheio para o coronavírus.
Sem o peso das campanhas políticas municipais, o que se espera é que prefeitos e governadores encabecem uma forte reação à nova ameaça da Covid-19. O primeiro exemplo veio de São Bernardo do Campo, na Grande São Paulo. Reeleito no 1º turno, o prefeito Orlando Morando (PSDB) já anunciou que vai limitar o funcionamento de bares, restaurantes e academias, além de fechar cinemas e teatros.
Em muitas cidades, as equipes de transição dos prefeitos eleitos já começam a discutir cenários. O ideal, inclusive, é que os novos mandatários que assumirão em 1º de janeiro sejam mesmo chamados a opinar, até porque são eles que herdarão um sistema de saúde sobrecarregado e uma economia patinando, em meio ao forte aumento de casos e mortes por Covid-19.
No Rio de Janeiro, o prefeito eleito Eduardo Paes (DEM) tratou do assunto em seu discurso da vitória, ainda no domingo à noite. Prometeu forte combate à doença, que na capital fluminense, em proporção ao tamanho da população, só não matou mais do que em Brasília, a capital do país. Nesta segunda-feira, Paes voltou a falar em medidas, mas em princípio descartou a volta do lockdown.
Outro prefeito eleito que falou nesta segunda em combate à Covid-19 sem isolamento social foi Sebastião Melo (MDB), que assume a Prefeitura da Porto Alegre daqui a um mês. Mas desde esta segunda-feira, por decreto da atual administração, Porto Alegre voltou a restringir a realização de eventos sociais, como aniversários e casamentos. Curitiba adotou medidas semelhantes.
No sábado, o governo de Santa Catarina reuniu-se com prefeitos de vários municípios para discutir um novo plano de combate à Covid-19. Em Campo Grande, voltou a vigorar um toque de recolher até 11 de dezembro. Em São Paulo, a maior cidade do país, o horário de funcionamento de bares, restaurantes e estabelecimentos comerciais deve ser reduzido. A capital e boa parte do estado, que estavam na fase verde, devem regredir nos próximos dias para a fase amarela.
Mais uma vez, pipocam por todo o país medidas para combater o novo avanço do vírus. E, de novo, não há uma diretriz nacional capaz de orientar municípios e estados. Cada um dita as suas regras. Já vimos que isso não funcionou muito bem quando, durante quase três meses (do fim de maio ao fim de agosto), o coronavírus matou em média 1.000 pessoas por dia em todo o país. Se essa (falta de) estratégia for repetida, o cenário certamente não será muito diferente.
*Sócio-diretor do Instituto FSB Pesquisa
Siga Bússola nas redes: Instagram | Linkedin | Twitter | Facebook | Youtube
Mais da Bússola: