Otimismo para a safra 2025 de M&As no Brasil
Cenário é promissor, mas ainda depende de movimentos econômicos globais. Confira o artigo de sócio e diretor de M&A da Auddas
Plataforma de conteúdo
Publicado em 3 de dezembro de 2024 às 17h00.
Por Marco França e Fernando Pereira*
O mercado de M&As no Brasil experimenta um cenário de recuperação após o esfriamento em 2023. O volume de operações diminuiu 33% até o terceiro trimestre de 2024, mas a perspectiva para 2025 é otimista, principalmente para setores como tecnologia e saúde.
Queda nas operações de M&As
Muito distante da efervescência vivida em 2021, quando as empresas experimentavam globalmente uma aceleração nos processos de transformação digital , atraindo a atenção de fundos de private equity e investidores, o mercado de M&As no Brasil parecia estar congelado no início de 2024. O adormecimento dos processos de fusões e aquisições, que se cristalizou em 2023, tomou conta do cenário em 2024. Porém, no terceiro trimestre, o jogo virou.
Essa mudança no cenário acompanha uma tendência global, abrindo janelas no Brasil para um 2025 muito diferente dos dois anos anteriores, em que o volume de transações sofreu quedas vertiginosas. O apetite contido dos investidores está diretamente ligado ao ambiente macroeconômico, em que a alta das taxas de juros coloca a renda fixa no papel de protagonista das carteiras.
No Brasil, até o terceiro trimestre de 2024, houve uma redução de 33% no número de operações de M&As, na comparação ao mesmo período de 2023. Quando falamos em valores movimentados, a queda foi em torno de 8%. Esse retrato foi resultado da combinação de juros em ascensão, pressão inflacionária e risco fiscal. Esta combinação minou a confiança do mercado e fundos gringos e reduziu a captação de fundos locais de private equity e venture capital, deixando a liderança para os compradores estratégicos.
Setores com maior apelo: tecnologia e saúde
O caminho dos investimentos focou negócios com mais potencial para geração de fluxo de caixa e, consequentemente, menor risco. No Brasil, a participação dos investidores estrangeiros passou de 31% no primeiro semestre de 2023 para 16% no mesmo período deste ano.
No entanto, a primeira quinzena de outubro veio como um sopro de primavera para os desalentados dos M&As no mercado brasileiro, ainda impactados pela queda das operações nos últimos dois anos. Essa retração, reflexo do desinteresse dos investidores estrangeiros no mercado brasileiro, não deve se repetir em 2025.
Com o início do movimento de queda das taxas de juros nos Estados Unidos, as perspectivas de recuperação dos patamares de M&As experimentados em 2021 e 2022 no Brasil são mais animadoras. Espera-se que 2025 apresente volumes de operações bem mais elevados que os registrados em 2023 e 2024. Um dos focos dos investidores globais continua sendo o mercado de tecnologia, que reúne telecomunicações, indústria de software e tecnologia da informação (TI).
No mercado brasileiro, somente no primeiro semestre de 2024, o segmento de empresas de internet, software e serviços de TI dominou as transações de M&As. Foram 224 operações oriundas da indústria de tecnologia, em um total de 344. Os demais setores que despertaram o interesse dos investidores e compradores foram: imobiliário, com 73 operações, e serviços profissionais, com 47.
Investimentos internacionais
Se olharmos para a distribuição geográfica dos investimentos "cross-border", os Estados Unidos são a principal fonte de recursos de M&A no Brasil. Este ano, 109 transações apresentaram capital com origem no mercado dos EUA. Na sequência, aparecem Reino Unido, com 23 transações, e Cingapura, com 12 transações.
Para além do setor de tecnologia, observamos que a vertical saúde vem atraindo cada vez mais interesse dos fundos de private equity e compradores estratégicos. São alvos de consolidação clínicas de reprodução humana, hospitais gerais e veterinários. O segmento de saúde mental também está valorizado, recebendo investimentos de fundos de venture capital.
Ainda no setor de saúde, clínicas dermatológicas especializadas em serviços estéticos também estão no foco de teses de consolidação. Chama atenção dos investidores o fato de o Brasil ser um dos maiores mercados consumidores de serviços de estética do mundo.
A ascensão do agronegócio
Outra tendência que se destaca nas operações de M&As no mercado de saúde é a “desospitalização”, ou seja, consolidação de clínicas com especialidades cirúrgicas ambulatoriais, um movimento que já ocorreu nos EUA e Europa e está em desenvolvimento no Brasil - por exemplo, nas teses de consolidação de clínicas de oftalmologia e ortopedia.
No agronegócio, as perspectivas para operações em 2025 são férteis. Vemos o interesse de grandes grupos em adquirir concorrentes de menor porte. Já as teses dos fundos de private equity estão baseadas na oportunidade de profissionalizar e melhorar a eficiência operacional de empresas que até então eram familiares.
O melhorar a gestão e ganhar escala. As oportunidades estão semeadas nos segmentos de produção e distribuição de bioinsumos agrícolas, beneficiamento de sementes e revendas agropecuárias.
Há ainda boas chances de negócios na área financeira, desde corretoras de seguros, passando por fintechs , gestoras e empresas de investimento. No varejo, observamos que as teses dos fundos estão focadas nas redes de supermercados, incluindo atacarejos e mercados com atuação regionalizada.
Diante de um cenário internacional de condições macroeconômicas mais favoráveis e, dependendo de um movimento de estabilização fiscal e política no Brasil, podemos assistir à retomada sustentável das operações de M&As em 2025. Por outro lado, as empresas também precisam fazer o dever de casa, dedicando mais investimento e foco no planejamento estratégico para manter o crescimento e a capacidade contínua de geração de fluxo de caixa.
*Marco França e Fernando Pereira são sócio e diretor de M&A da Auddas, respectivamente.
Siga a Bússola nas redes: Instagram | Linkedin | Twitter | Facebook | Youtube