Após COP30, ficou claro a importância da sustentabilidade no luxo (d3sign/Getty Images)
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Publicado em 4 de dezembro de 2025 às 10h00.
Por Suelen Joner*
A COP30 reforçou, de maneira incontornável, que um futuro colaborativo e sustentável não é mais projeção — é uma exigência real e imediata.
O debate na conferência deixou claro que, no setor da moda, não se trata apenas de produzir roupas, calçados e acessórios com menor impacto ambiental.
O setor, com seu alcance cultural e econômico, tem a capacidade de liderar e propor novas soluções, enraizadas na diversidade do Brasil, capazes de transformar hábitos de consumo e cadeias produtivas.
Segundo a Coherent Market Insights, o mercado global de moda sustentável deve chegar a US$ 33 bilhões até 2030, mostrando que práticas conscientes também se consolidam como motor econômico.
Para as empresas, a verdadeira virada está em entender que sustentabilidade não é custo, nem tendência passageira, mas sim o novo eixo de competitividade e inovação da indústria.
Nesse cenário, desponta a rastreabilidade, tema que passa a ser a base de uma moda mais consciente e ética, pois permite mensurar os impactos de cada material e o seu efeito no futuro do planeta.
Tecnologias como blockchain possibilitam rastrear, do campo à fábrica, da peça ao consumidor, cada etapa da jornada de uma roupa ou de um calçado, garantindo que matérias-primas não estejam ligadas ao desmatamento ou a violações trabalhistas.
Além disso, o relatório The State of Fashion 2025, da McKinsey e do Business of Fashion, destaca que o tema é uma prioridade estratégica para a sustentabilidade no setor.
Embora seja considerada uma das iniciativas mais desafiadoras devido à fragmentação e à complexidade da cadeia de produção, a rastreabilidade tem se mostrado um diferencial competitivo, capaz de gerar eficiência operacional e reduzir riscos socioambientais, refletindo uma mudança estrutural na forma como o setor adota práticas mais sustentáveis.
A circularidade, por sua vez, vai muito além de uma tendência e ajuda a redefinir o que entendemos por inovação.
Fios e tecidos que antes seriam descartados voltam para a produção; softwares de modelagem e inteligência artificial reduzem sobras e emissões; peças são recuperadas, transformadas ou doadas, criando impacto social positivo.
Não é exagero dizer que a circularidade é a chave para reinventar a moda, porque acompanha ciclos do início ao fim e abre novas possibilidades de criar valor sem destruir valor.
O grande ponto, no entanto, é que nada disso se sustenta de forma isolada. A moda só será regenerativa quando a colaboração tecer o elo entre todas as práticas.
É justamente nesse tecido coletivo, que envolve empresas, governos, comunidades e consumidores, que surgem as soluções mais transformadoras.
Ao integrar dados, transparência, inovação tecnológica e engajamento social, nasce o que eu chamo de “novo luxo”.
Não é mais somente sobre a exclusividade pelo preço; agora, o luxo está em consumir com consciência, preservar florestas, valorizar a mão de obra e gerar impacto positivo, transformando vidas, culturas e territórios.
Esse é o legado que a moda pode — e deve — deixar. À luz do que foi discutido na COP30, fica claro que agir de forma integrada e responsável não é apenas uma escolha individual, mas uma necessidade coletiva.
Agora é o momento para a moda liderar mudanças concretas, mostrando que sustentabilidade é um compromisso global em prol de um amanhã mais justo e regenerativo.
*Suelen Joner é Head de Sustentabilidade do Azzas 2154.