Onde estão os caminhos da aviação civil sustentável
O ano de 2022 foi marcado por poucos, porém relevantes, avanços na área ambiental quanto aos transportes
Bússola
Publicado em 30 de janeiro de 2023 às 17h00.
Última atualização em 31 de janeiro de 2023 às 18h52.
O “decreto do mercado de carbono”, como ficou conhecido, veio como um passo importante para o Brasil dar continuidade ao que foi discutido na 26ª Conferência do Clima da Organização das Nações Unidas (COP26), em Glasgow, onde houve o início da regulamentação do artigo 6º do Acordo de Paris, que prevê diretrizes para a criação de um mercado de carbono.
Apesar da ausência de ainda não terem sido implementadas muitas das previsões do decreto, sua promulgação representa grande avanço para a criação de um mercado de carbono voluntário nacional devidamente regulado, que certamente irá gerar grandes frutos para o país, atraindo olhares de investidores internacionais e de nações emissoras, que visam compensar as emissões de carbono.
Apesar da discussão de tal assunto durante a COP26, oportunidade em que as nações assumiram importantes compromissos ambientais, colocando em pauta alguns assuntos relevantes como o combate ao aquecimento global, regras para o mercado de carbono e a eliminação do uso de combustíveis fósseis, durante a COP27, realizada na cidade de Sharm El Sheikh no Egito, em novembro último, a situação foi diferente. Não houve grande evolução na pauta inicialmente levantada na Conferência anterior e tais assuntos sequer foram abordados no texto final elaborado durante a COP27, situação que pode impactar negativamente nos efetivos avanços no cumprimento daquelas metas impostas.
Durante a Conferência egípcia, o principal avanço foi a criação do Fundo de Perdas e Danos para os países vulneráveis à mudança climática, que consiste em ajudar financeiramente os países mais vulneráveis a se recuperarem, tendo em vista os impactos climáticos causados, incluindo problemas com elevação do nível do mar, fortes tempestades ou qualquer outro evento causador de destruição repentina e irreparável. Em que pese a relutância de algumas nações para aprovarem o fundo, a União Europeia manifestou-se pela criação deste, desde que os países vulneráveis e em desenvolvimento, bem como os países emergentes, contribuíssem para tanto.
Um ponto de destaque para o Brasil durante a COP27 foi a presença de representantes do governo eleito durante a Conferência. Apesar de ter ocorrido durante a vigência do governo de Jair Bolsonaro, o protagonismo do Brasil na COP27 foi marcado pela presença de comitiva capitaneada pelo novo presidente da República eleito, Luiz Inácio Lula da Silva, que participou de encontros para discutir sobre o mercado de carbono, trazendo um destaque positivo ao país no cenário ambiental, e manifestando interesse em sediar a COP30, no ano de 2025, em um estado amazônico.
A presença do futuro presidente, inclusive, gerou comentários positivos sobre a possível volta do Brasil ao protagonismo de discussões de questões ambientais no âmbito internacional, o que pode auxiliar a evolução do país para cumprimento das metas de diminuição da pegada de carbono, bem como a preservação e reflorestamento das florestas brasileiras.
Ainda em 2022, houve a assinatura de acordo de cooperação entre a Associação Latino-Americana e do Caribe de Transporte Aéreo (Alta) e o Instituto Interamericano de Cooperação para a Agricultura (IICA), para auxiliar o desenvolvimento da indústria de produção e distribuição de Sustainable Aviation Fuel (SAF), iniciativa que deve ser de extrema importância para o setor aéreo.
Neste sentido, a Agência Nacional de Aviação Civil (Anac), apesar de não contar com grandes alterações em sua agenda regulatória para o próximo biênio, possui em análise o Tema 17 que prevê a compensação de CO2de voos internacionais e a redução das emissões pelo uso de combustíveis elegíveis ao Plano Corsia, e, com a retomada do protagonismo do Brasil na questão ambiental, o Tema deverá ser analisado ao longo dos próximos dois anos e pode representar grande progresso para o setor.
Existe forte empenho nacional e internacional para cumprir as metas estabelecidas nos encontros e conferências sobre meio ambiente, de modo que o Brasil, por meio de seus representantes, demonstra disposição para reduzir a poluição ambiental, proteger a fauna e a flora nativa e permanece envolvido em diversos projetos e metas ambientais a serem cumpridas, e, às vésperas da posse do novo governo, que antigamente possuía grande protagonismo no assunto, a expectativa de evolução do tema é elevada.
Quanto ao próximo aguarda-se, no âmbito internacional a retomada da discussão quanto à mudança da matriz energética, tendo em vista a crise de preços e fornecimento que atinge a área, sobretudo na Europa, bem como a mitigação quanto às emissões de gases de efeito estufa.
Já quanto ao Brasil, os órgãos técnicos relacionados à aviação e transportes parecem contar com apontamentos auspiciosos do governo eleito, que promete uma atenção especial à questão ambiental.
* Renan Melo, Júlia Bigélli e Giovanna Gongora são advogados especialistas em aviação pelo /asbz
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