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No mercado financeiro, inteligência artificial apoia, mas não substitui pessoas

Para cofundador da Melver, Raony Rossetti, ferramentas como o ChatGTP ajudam a refinar as tomadas de decisão

Raony Rossetti, cofundador da Melver (Melver/Divulgação)
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Publicado em 16 de junho de 2023 às 18h00.

Por Ana Busch

Não tem volta. A inteligência artificial chegou ao mercado financeiro. Mas não espere encontrar um robô dando conselhos sobre para os investidores. Mesmo com todo o apoio da tecnologia, o assessor de investimentos ainda deve continuar sendo uma figura importante no mercado. "Pessoas precisam de pessoas", diz o engenheiro Raony Rossetti, cofundador da Melver, uma edtech que forma e prepara pessoas interessadas no mercado financeiro, tanto aquelas que querem investir, como as que pretendem trabalhar na área.

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Fundada em 2021, por Raony, Nasser Said e Jaqueline Bourscheidt, a Melver tem mais de 37 mil alunos ativos na plataforma e 59% do market share na Ancord (Associação Nacional das Corretoras de Valores), com base nos números de dezembro de 22. E esse sucesso se deve também em parte à inteligência artificial

"Nosso principal produto e serviço é a formação de mão de obra para o mercado financeiro. O resultado vem de ter bons alunos, que sejam contratados pelo mercado. Precisamos que os alunos aprendam e evoluam. Temos que entender como cada aluno funciona e para entregar o que ele precisa, da melhor forma", diz Raony. Segundo ele, isso só é possível com inteligência artificial aplicada a uma tecnologia própria para que, a partir de dados, seja possível abordar cada aluno de uma forma individualizada.

A Bússola conversou com Raony sobre o uso da tecnologia na Melver e no mercado financeiro e sobre os desafios enfrentados para que a inteligência artificial passe a ser cada vez mais decisiva no apoio aos investimentos.

Bússola: Como é possível usar a inteligência artificial generativa, como o chat CPT,  por exemplo, no mercado financeiro?

Raony Rossetti: O mercado financeiro é um mundo cheio de distrações. O dia todo, recebemos relatórios, notícias, mensagens. A pessoa que não aprender a utilizar o chatGPT e outras aplicações afins provavelmente vai absorver muita pouca coisa. Acredito na inteligência artificial para reduzir as distrações e filtrar o que o investidor precisa ouvir e entender.

Bússola: Mas o chatGPT tem um banco de dados desatualizado. Com isso parece difícil usar a ferramenta para antever oportunidades de negócio. Como, na prática, podemos usar a solução para refinar uma visão de mercado?

Raony Rossetti: O chatGPT popularizou o tema da inteligência artificial. Mas outras empresas levantaram a mão. Imagina uma empresa como a Bloomberg, com os dados riquíssimos que tem, oferecendo isso de uma forma mais acessível para o mercado. Seria muito difícil uma equipe de análise quanti ou qualitativa competir com uma solução como essa.

Mas a cabeça não é de competir. É sobre como utilizar essa solução para o refinamento da tomada de decisão.

Bússola: Hoje na Melver, vocês preparam os alunos para entenderem as principais ferramentas de inteligência artificial do mercado, para que eles possam fazer essas varreduras e formar uma inteligência crítica sobre o mercado?

Raony Rossetti: São duas coisas. Primeiro, nosso uso de inteligência artificial está dentro de casa para ajudar o aluno a performar mais.

Com base no entendimento do comportamento dele e nos interesses dele, eu reajo ao aluno de uma forma muito personalizada no recebimento de conteúdo, na forma que ele recebe, na frequência etc.

Dentro da formação, trazemos conteúdo para o assessor ou futuro assessor sobre ele pode se beneficiar da inteligência artificial como profissional do mercado. E aí desde coisas muito simples, para beneficiar o relacionamento dele com seus clientes, como na hora de escrever um e-mail, por exemplo, até obter sugestões de investimento para determinados perfis de clientes. É impressionante como o ChatGPT traz insights legais. E a gente ensina o aluno sobre como recorrer à ferramenta com esse intuito.

Bússola: Existe uma discussão corrente sobre segurança de dados durante o uso do chat GPT. Que orientação você daria para quem vai usar a ferramenta na hora de fazer investimento, uma área tão sensível, ao fazer input de dados para consultas?

Raony Rossetti: A gente trabalha com uma teoria que eu desenvolvi chamada Teoria do Mosaico. O mosaico é formado por várias pecinhas. Quando a gente olha de longe, são imagens lindas que resplandecem à luz. Quando a gente vê de perto, são vários azulejos pequenos, quebradinhos. Até feios de forma isolada.

Quando trazemos várias informações relevantes de forma isolada, elas não dizem muita coisa. Mas quando reunidas, elas podem trazer bons insights. É assim que a gente trabalha na empresa.

O ChatGPT ajuda a trazer algumas dessas peças, não o mosaico inteiro. É aí que vem o conhecimento técnico e o conhecimento mercadológico. Ninguém espera que a inteligência artificial vá trazer o contexto totalmente pronto.

Bússola: Como você vê a questão da ética em relação à inteligência artificial?

Raony Rossetti: É impossível parar o desenvolvimento científico. Agora que começou, é como as criptomoedas: vamos ver o que acontece. Essas coisas acabam se acomodando com o tempo.

O que me incomoda na inteligência artificial é que ao mesmo tempo que ela me ajuda, ela me incomoda. Por exemplo, nós na Melver produzimos muito conteúdo público, que vai acabar sendo utilizado pela inteligência artificial. Só que eles não dão os créditos.

Eu vou investir em inbound marketing ou vou investir em SEO. Aí o ChatGPT consome. E não me dá os créditos. Mas se o conteúdo não for consumido, a inteligência artificial perde relevância.

Falta então ter as referências sobre de onde aquelas informações vieram. A partir do momento que essas referências começarem a ser dadas, as questões de fake news e informações fraudulentas tendem a diminuir.

Bússola: Você acredita, então, que não se deve frear o desenvolvimento. Mas você imagina que deva haver alguma espécie de regulamentação?

Raony Rossetti: Acho que você pode até tentar fazer, mas acho muito difícil. Vai ser associado a censura. São aquelas tecnologias que vêm para dar uma chacoalhada, e é muito difícil segurar.

As empresas vão acabar criando suas próprias regras. Mas algo de cima, governamental, acho difícil.

Bússola: Você aposta, então, em algo como uma automoderação do mercado?

Raony Rossetti: Eu acho que é isso.

Bússola: Quando houver uma inteligência artificial preparada para o mercado financeiro, que possa a dar recomendações muito assertivas, qual vai ser o papel dos profissionais do mercado financeiro?

Raony Rossetti: Pessoas precisam de pessoas.

Eu mesmo sou investidor profissional já há muitos anos e, para algumas tomadas de decisão, eu gosto de conversar com alguém. Eu gosto de entender o que outra pessoa está pensando.

Se isso vai ser totalmente transferido para uma tecnologia? Acho que em curto prazo, não. Há uma questão emocional das trocas entre as pessoas, algo que ainda não acontece com a máquina.

Eu não vejo um pai desabafando com um robô preocupado com a situação patrimonial dele. O que o robô acha daquilo? Ele vai resolver isso no café com o assessor em quem ele confia.

Mas o alinhamento de tecnologias para tomada de decisão, pode ser incrível. O assessor vai usar a tecnologia para avaliar em conjunto. É uma ferramenta para agregar, não para substituir.

Bússola: Para finalizar, qual seria seu recado para os alunos e seus futuros alunos, que queiram se preparar para esse novo mercado e para todas as mudanças que a inteligência artificial traz?

Raony Rossetti: Nunca tenham medo da tecnologia. Usem a tecnologia a seu favor. Algumas vão ficar receosas. Essas vão sair do mercado. Mas aqueles que souberem utilizar a tecnologia a seu favor vão colher excelentes, excelentes frutos.

A tecnologia não veio pra espantar ninguém. Ela pode ser uma aliada.

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