Modelos educacionais inovadores: o que a Finlândia pode ensinar ao Brasil
Especialista analisa o exemplo do sistema de ensino finlandês, referência mundial no treinamento de professores
Mariana Martucci
Publicado em 1 de fevereiro de 2021 às 14h58.
Última atualização em 2 de fevereiro de 2021 às 23h08.
Como aumentar a qualidade da educação? É impossível pensar nesse questionamento sem reconhecer que as pessoas no centro desse processo são os professores. Sabendo da importância fundamental desses agentes, fui buscar o lugar com o melhor treinamento de professores do mundo, a Finlândia, para entender quais estratégias eles utilizam que resultam em índices educacionais tão altos.
Estive na Finlândia por três dias, em 2018, focada em entender como o treinamento de professores acontece e como poderíamos replicá-lo no Brasil. No primeiro dia dessa jornada, tive um encontro com Pekka Saalvalainen, o CEO da Finland University, um consórcio formado pelas quatro principais universidades finlandesas: Tampere University, University of Eastern Finland, University of Turku e Åbo Akademi University.
Com Pekka, pude aprender muito sobre o histórico do sistema educacional finlandês. Ao vermos um sucesso tão grande no setor educacional, podemos imaginar que o país sempre foi assim. Porém, essa melhora é recente e teve início nos anos 70, com a reforma do currículo e treinamento de professores. Até então, a Finlândia não era destaque em educação, mas essas mudanças surtiram um efeito imenso. Desde que o Programa Internacional de Avaliação de Alunos (PISA) se iniciou, a Finlândia teve uma ascensão constante e ocupa o topo do ranking desde então.
Lá, também me reuni com a diretora da Teacher Training School of UTA (a faculdade de treinamento de professores da Finlândia). É ela quem acompanha a eficácia do sistema e é responsável por parcerias internacionais. Entendi como o modelo finlandês é extremamente focado na prática: os estudantes de pedagogia vão para as escolas acompanhar determinado professor titular e observar como sua aula funciona, um sistema de "mentor e aprendiz".
O professor fica responsável pelo desenvolvimento das habilidades práticas dos estudantes de pedagogia, como gestão de sala de aula, gestão de conflitos entre alunos, planejamento dia a dia do trimestre, entre outras atividades constantes no desafio da licenciatura. Uma das chaves do sucesso para essa metodologia é o feedback imediato e constante atrelado ao ambiente seguro para tomar risco. O futuro professor tem oportunidade de liderar trechos do dia, por exemplo, dando aula de matemática. Assim que a aula termina, o professor titular compartilha seu feedback, sempre que possível durante a própria atividade, mostrando maneiras de melhorar a prática no aqui e agora.
Com todas essas experiências, pude refletir muito sobre como melhorar a formação de professores no Brasil. Estes são alguns pontos que acredito que possam ser implementados:
- Reestruturar o curso de pedagogia no Brasil, para que ele seja centrado no professor, preparando-o para o dia seguinte da formatura. Isso significa aumentar a quantidade de aprendizado prático durante a faculdade, por meio de estágios, na própria sala de aula, com feedback e pequenos grupos de professores ajudando uns aos outros e sempre muito associados com a teoria sendo aprendida;
- Inovar no currículo para implementação de habilidades do século 21 e do cotidiano, além da promoção de espaços para desenvolver a independência, por meio de atividades como aulas de gestão, culinária e empreendedorismo.
Esses são apenas alguns pontos que acredito que poderiam ser melhorados, tomando como base um país que se especializou tanto nessa metodologia e é uma grande referência em educação. Por isso, é tão importante a criação de plataformas, como a Education Journey, que reúne as melhores referências do mundo em busca de solucionar os problemas da educação.
Isso não significa copiar o sistema de ensino finlandês, pois entendemos as limitações de uma solução simplista frente um país tão grande quanto o Brasil, mas sim adotar uma abordagem multidirecional, olhando para diversos países-referência e adaptando pontos que funcionam para o contexto educacional brasileiro. É preciso reconhecer a importância da humildade de querer sempre aprender, mas com muita ambição de buscar sempre o melhor.
*Iona Szkurnik é fundadora da Education Journey, plataforma focada em desenvolver o ecossistema de inovação na educação, e presidente do Conselho da Brazil at Silicon Valley
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