Loyalty é a estratégia para mudar a relação das empresas com seus clientes
Apenas 14% dos profissionais de marketing observam que a centralização no cliente é uma estratégia praticada por suas empresas, aponta pesquisa
Bússola
Publicado em 15 de agosto de 2021 às 13h00.
Última atualização em 16 de agosto de 2021 às 05h23.
Por Christiano Ranoya*
Muito se fala sobre o cliente ser o centro das estratégias das empresas, mas o que realmente é colocado em prática para isso acontecer? Uma pesquisa liderada pelo CMO Council, citada pelo artigo “6 Ways to Build a Customer-Centric Culture” da Harvard Business Review em 2018, identificou que somente 14% dos profissionais de marketing acreditam que a centralização no cliente é uma estratégia praticada por suas empresas. Esse resultado não é surpreendente e o cenário possivelmente permanece sem grandes alterações, afinal uma mudança desse porte pode demorar décadas para acontecer, pois geralmente demanda mudanças radicais nas estruturas organizacionais e culturais das empresas.
No livro “Strategy from the Outside-In”, George S. Day e Christine Moorman identificam dois tipos de estratégias para atingir o objetivo geral, que é criar valor para o acionista. A maioria das empresas nasceu e foi construída sob a perspectiva inside out, com apego a sua história, produtos e serviços. É estabelecida a ideia de que as forças e capacidades internas da organização farão com que a empresa, seus produtos e serviços prevaleçam quando aparece qualquer tomada de decisão.
Em outra direção, a estratégia que prioriza o cliente é conhecida como outside in, em português “de fora pra dentro”, e se baseia na criação de valor ao cliente, focando na otimização da experiência e relacionamento. Todas as decisões da empresa, sejam sobre a criação de produtos ou de reestruturação de processos, por exemplo, são orientadas por essa estratégia. Nesse caso, toda a cultura organizacional é baseada no cliente e no mercado.
Esse movimento tem uma razão de ser: o novo papel do cliente, resultado de mais consciência nas relações de consumo com a era digital e de maior engajamento via multiplataformas em tempo real. A transformação digital, inclusive, moldou um novo tipo de cliente.
O cliente ESG, mais engajado com questões ambientais, sociais e de governança corporativa, como diz a sigla em inglês, também passou a considerar com mais entusiasmo pontos como propósito e transparência por parte das empresas. Evoluir a experiência e torná-la mais relevante é o que efetivamente gera crescimento e sustentabilidade nos negócios.
Por isso, é necessário pensar e agir de forma mais holística quando o assunto é a lealdade dos clientes, para fortalecer os laços racionais e emocionais. A combinação desses fatores é determinante para o sucesso de uma marca. E é nesse tema que encontramos uma lacuna gigantesca entre a teoria e a prática da fidelização.
É preciso repensar o papel do loyalty como valor compartilhado e considerar sua real capacidade para coordenar todas as ações com o cliente. Loyalty geralmente é tratado de maneira isolada pelas empresas. Resume-se, normalmente, a programas baseados em pontos, descontos, cashbacks ou outras recompensas financeiras, que são benefícios transacionais que buscam impulsionar a compra recorrente, aumentando a frequência e o ticket médio. Porém, isso acaba levando ao esquecimento de que loyalty também é, sobretudo, conexão emocional, de pertencimento e de propósito.
A partir do momento que essa nova cultura é estabelecida, um programa de fidelização torna-se um centro que consolida dados, percepções do cliente e gera insights que devem ser amplamente utilizados por toda a empresa. O loyalty deixa de ter uma visão apenas externa (de relacionamento com o usuário) para se tornar uma ferramenta de melhorias para as empresas.
O bom desempenho das companhias, vale lembrar, está diretamente ligado à satisfação de seus clientes e à capacidade de evolução contínua das organizações — com base em feedbacks, gestão data-driven e estreitamento do relacionamento entre as marcas e seus clientes a partir das iniciativas de loyalty.
Empresas que não investem em Customer Experience e Loyalty já estão perdendo competitividade. Por isso, questione-se: qual o valor que você está entregando ao seu cliente? E mais importante: o cliente percebe esse valor?
*Christiano Ranoya é CEO da Indico
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