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LIVE: Pandemia aponta para novas práticas de cuidado com a saúde emocional

Em debate, especialistas discutiram as consequências na saúde emocional após quase 2 anos de crise sanitária e indicaram ações para proteger a mente

Busca por apoio profissional cresceu com o avanço da crise sanitária, aumentando também os relatos de estresse, ansiedade e burnout (ThitareeSarmkasat/Getty Images)
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Bússola

Publicado em 27 de janeiro de 2022 às 15h14.

A pandemia de covid-19 se mantém presente no mundo por quase dois anos, acumulando problemas em todas as áreas da vida cotidiana. Não bastasse a doença em si, outra consequência foi fortemente sentida: o agravo com as questões de saúde emocional. Por conta disso, a busca por apoio profissional cresceu com o avanço da crise sanitária, aumentando também os relatos de estresse, ansiedade e burnout — doença provocada pelo esgotamento de trabalho.

Assim como o corpo afeta a mente, a instabilidade emocional também é capaz de causar improdutividade no trabalho e nas relações interpessoais, provocando desequilíbrio na saúde e bem-estar. A medicina, em síntese, atua de forma setorizada, com cada especialidade cuidando de uma parte do corpo humano. Hoje, essa ideia já é revista por profissionais de saúde, partindo do entendimento de que todas as áreas devem caminhar juntas para atingir um cuidado integral.

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Sem tempo para se ajustar ao novo cotidiano, todos tiveram que se adaptar, de forma abrupta, a uma nova realidade, almejando uma saída para retomar a estabilidade perdida com a pandemia. Para 2022, acreditava-se que esta retomada era certa, mas a explosão de casos da nova variante ômicron trouxe novamente a incerteza. E o cuidado com a saúde emocional, diante de novas adversidades, se tornou urgente e necessário.

Estes foram alguns dos pontos discutidos durante a conversa de ontem na Live Bússola “Como proteger a saúde mental das dores emocionais da pandemia?”, com a participação de Clécio Branco, psicólogo e responsável pela Área Comportamental do Rituaali Clínica & Spa, Patricia Mello, médica e superintendente de Gestão de Saúde Populacional da SulAmérica, e Rui Brandão, médico, CEO e cofundador do Zenklub. A mediação foi do jornalista Rafael Lisbôa, diretor da Bússola.

Para Clécio Branco, psicólogo e responsável pela Área Comportamental do Rituaali Clínica & Spa, a perda de controle de situações que antes eram comuns e a velocidade em que foi preciso se adaptar à pandemia, contribuíram para os danos emocionais.

“O ser humano precisa territorializar os espaços para se sentir seguro. Quando acontece uma ruptura, nós deslocamos os espaços determinados e perdemos o controle sobre eles. O indivíduo sem seus territórios, têm uma ameaça de desordem e caos que resulta em angústia, estresse e, quando mais grave, no burnout”, declarou Branco.

O psicólogo ainda comentou sobre os principais diagnósticos que têm identificado no Rituaali Clínica & Spa. “O maior número de pessoas está com estresse fora de controle, logo a seguir vem a ansiedade alta, e em consequência disso tem uma busca por perda de peso que foi ocasionado pela falta de qualidade de vida e ansiedade. Neste último caso, nós proporcionamos o tratamento de forma saudável e equilibrada, entendendo que outros fatores podem influenciar no ganho de peso. E para finalizar, um novo grupo que vem surgindo é aqueles em busca de sentido na vida. A falta de crença na vida, diante da fragilidade causada pelo vírus, tem sido questionada”, disse Clécio.

A médica e superintendente de Gestão de Saúde Populacional da SulAmérica, Patricia Mello, revelou que a seguradora também identificou um aumento nos atendimentos psicológicos nos últimos dois anos. “Foram 479 mil teleatendimentos psicológicos em 2021, mais que o triplo do ano anterior. Além de quase quatro mil novos pacientes em nosso programa de saúde emocional apenas no ano passado. Entendemos que a crise sanitária potencializou a busca por este cuidado, que deve ser continuado mesmo quando os casos de Covid forem normalizados”, afirmou.

O cuidado com a saúde de forma integral é amplamente defendido pela SulAmérica, e causou consenso entre os especialistas. “Nós somos seres únicos e o cuidado não pode ser categorizado. Está tudo conectado. Os profissionais de saúde também têm percebido isso, então cada vez mais, temos médicos precisando de apoio psicológico, tanto para eles quanto para os pacientes, porque eles também foram afetados. Já é um movimento grande e que está crescendo cada vez mais”, declarou Patricia.

A modificação nos ambientes corporativos despertou um alerta para os casos de burnout. Diante do cenário desafiador, com uma ameaça constante à sobrevivência de empresas e empregos, o tema tem ganhado força. Recentemente, a síndrome se tornou uma doença de trabalho pela Organização Mundial de Saúde e ganhou os holofotes nos debates de saúde emocional.

Rui Brandão, médico, CEO e cofundador do Zenklub, falou sobre o desafio na promoção de um ambiente de trabalho saudável. “O maior desafio hoje é promover um espaço sem julgamento. Criar um espaço de diálogo aberto dentro das empresas. É um tabu falar sobre o tema”. A situação de calamidade causada pela pandemia não é discutível, mas ela também proporcionou uma nova lente para o futuro. “A pandemia afetou todo mundo, ao mesmo tempo, com desafios diferentes para cada indivíduo, mas nos fez reavaliar as coisas. Enxergar que momentos de superação e transição se fazem necessários atualmente”, disse.

O médico explicou o momento de buscar ajuda profissional: “É importante perceber quando as coisas do nosso dia a dia começam a ficar afetadas. Pode não ser desleixo da sua parte, pode ser exaustão”. Clécio complementou trazendo outros elementos que contribuem na percepção de adoecimento emocional. “É preciso buscar ajuda quando não tiver mais espaços para falar sobre isso. Não em um dia ou dois de sofrimento, mas perceber prazos longos de dificuldade em várias áreas sem ter onde falar”, afirmou o psicólogo.

O avanço da vacinação e os casos da segunda onda mostrando-se leves, comparado ao mesmo período no ano anterior, nos revela um cenário incerto, mas otimista. Os especialistas abordaram mudanças e práticas no cotidiano que podem preservar a saúde mental do adoecimento diante da crise que ainda se mantém.

Para Patricia, é necessário autoconhecimento para reconhecer períodos de instabilidade mental.  “Nós vivemos em ciclos e isso faz parte da natureza do ser humano. As vezes teremos uma noite ruim de sono que vai resultar em uma performance de improdutividade. Mas buscar autoconhecimento é um caminho para perceber quando algo está desajustado de fato. Além do autoconhecimento, apostar também no diálogo. Escutar as pessoas ao seu redor, o que elas podem te dizer sobre mudanças nos seu comportamento. O diálogo, tanto dentro do ambiente corporativo quanto no ambiente familiar, é fundamental”, disse a médica.

Brandão fez uma sugestão simples, mas importante: “Eu sugeriria agradecer e reconhecer mais. Gratidão é algo forte em que temos a oportunidade de valorizar e reconhecer vitórias”, enquanto Branco complementou sobre a necessidade de manter o controle de tudo: “O que eu não posso controlar, é necessário desistir de tentar. Enxergar o caos do lado de fora, não trazer para dentro da gente”, declarou o psicólogo.

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