Live — O turismo está em risco com imposto sobre remessas ao exterior?
Webinar da Bússola debateu o impacto da alíquota de 25% do imposto de renda retido na fonte para viajantes e para as agências de viagens brasileiras
Bússola
Publicado em 17 de fevereiro de 2022 às 12h44.
Última atualização em 17 de fevereiro de 2022 às 13h56.
Viajar para fora do Brasil está mais caro, e o câmbio não é o único responsável. Além da forte desvalorização do real frente ao dólar e ao euro, um custo adicional vem pesando no bolso dos viajantes e afetando negativamente o setor turístico desde 2020. Há dois anos, a alíquota do imposto de renda retido na fonte (IRRF) sobre remessas ao exterior destinadas à cobertura de gastos pessoais de brasileiros em viagens de turismo subiu de 6% para 25%.
Na prática, com o aumento da tributação, as operações internacionais intermediadas por agências brasileiras, como reserva de hotéis e contratação de passeios, têm um acréscimo de cerca de 33% no valor final, se forem pagas adiantadas em reais aqui no país.
Na live realizada pela Bússola na quarta-feira, 16, representantes do setor alertaram para as perdas bilionárias se o IR se mantiver em 25%. O webinar reuniu Gustavo Dias (diretor do Expedia Group na América Latina e coordenador do Comitê TravelTech da Câmara Brasileira da Economia Digital), Mariana Aldrigui (professora de turismo da USP – Universidade de São Paulo e presidente do conselho de turismo da FecomercioSP – Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo do Estado de São Paulo) e Carlos Augusto Daniel Neto (sócio do escritório Daniel & Diniz Advocacia Tributária), mediada por Rafael Lisbôa, diretor da plataforma.
De acordo com Gustavo Dias, o real impacto ainda está por vir e é de extrema importância que o governo federal reveja o imposto de 25%. “Esta alíquota precisa ser revista para estarmos preparados para quando o movimento de turismo internacional de fato retornar. Importante frisar que este imposto incide em toda e qualquer remessa para o exterior para qualquer brasileiro que vá para o exterior e precisa ser revisto. O impacto é difuso, é para todos. Há uma cadeia grande que engloba centenas de milhares de empregos em todo o Brasil. O turismo é um ecossistema muito complexo, para que várias pontes se conectem”, disse o executivo.
O advogado tributarista Carlos Augusto Daniel Neto não enxerga tal questão como um problema de política tributária, mas sim um descuido tributário. “É um problema que não deveria existir, é um erro de Legislação. Para fomentar a atividade econômica, o ideal seria até uma alíquota inferior a 6%, para manter uma relação de neutralidade e paridade com o IOF de 6,38%. Medidas como essa precisam ser revistas com urgência, para que o setor de turismo e viagem volte de fato a decolar”, afirmou Carlos Augusto.
Para Mariana Aldrigui, existe um grande desconhecimento geral de como o turismo funciona no país e quais são os elos e representatividades do setor. “Infelizmente, existe ainda uma total ignorância dos efeitos de uma alíquota tão alta, em todas as camadas e todo o sistema envolvido. É um total desconhecimento dos efeitos, por isso falta a profissionalização da estratégia dos negócios ligados ao turismo no Brasil”.
Para ter uma ideia, uma pesquisa da GO Associados para a Câmara Brasileira da Economia Digital estima por ano um impacto negativo de R$ 5,2 bilhões na cadeia produtiva do turismo no país e uma retração de R$ 17 bilhões na economia brasileira, caso o IR se mantiver em 25%.
Para os debatedores, é importante ressaltar que a alíquota não é um benefício fiscal, mas sim uma correção de uma lei antiga. “O mecanismo de legislação deve ser corrigido desde a raiz. Além da redução da alíquota de 25% para 6%, deveria alterar toda a legislação sobre as remessas ao exterior”, disse Gustavo Dias, do grupo Expedia e Comitê TravelTech.
Os especialistas mostraram-se preocupados com o futuro da pauta e lembraram da importância do tema ser resolvido o quanto antes. “Estamos em ano eleitoral, tudo fica maior, principalmente em um país em que existem tantas questões sociais prioritárias. Este é um assunto sensível, mas há de se encontrar um equilíbrio para uma sobrevida de diversas atividades econômicas vinculadas ao turismo no Brasil. O debate político deve ser pautado também pelo ponto de vista econômico”, declarou Mariana Aldrigui.
“É necessário um ambiente amigável de negociação, não desestimulando o investimento no Brasil. Sou otimista: se tem vida, tem viagem. As coisas vão se reestruturar, mesmo com todas as dificuldades. Mas as dificuldades intransponíveis, como esta da alíquota, precisam ser resolvidas”, disse Gustavo Dias.
O advogado Carlos Augusto Daniel Neto foi categórico, afirmando que o Brasil precisa revisar seu contexto de tributação. “Estamos discutindo algo que não deveria nem ser um problema, é sem sentido tecnicamente falando, é fruto de uma má estruturação de política. Deveria ser prioridade do governo corrigir isto”, afirmou o especialista.
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