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LIVE — Novo Ensino Médio impactará do ensino fundamental ao superior

Webinar da Bússola discute indefinição sobre formato no Enem, que dificulta estabelecimento das matrizes curriculares

Novo Ensino Médio deve provocar transformações em todo o sistema educacional. (Rafael Henrique/SOPA Images/Getty Images)

Novo Ensino Médio deve provocar transformações em todo o sistema educacional. (Rafael Henrique/SOPA Images/Getty Images)

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Publicado em 17 de março de 2022 às 15h45.

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Implementado a partir desse ano, em escolas públicas e particulares de todo o Brasil, o Novo Ensino Médio deve provocar transformações em todo o sistema educacional. O novo modelo, criado pela Lei nº 13.415, de 2017, propõe uma jornada integrada de ensino, que combina conhecimentos acadêmicos, aspectos socioemocionais, vivências cotidianas e aspirações profissionais dos estudantes, trabalhando a teoria e a prática de maneira indissociável.

Com a mudança, espera-se tornar a última etapa do ensino básico mais atraente e, assim, reduzir os altos índices de evasão e melhorar os resultados dos alunos desse segmento no IDEB — o Índice de Desenvolvimento da Educação Básica.

Para tal, a nova organização curricular passou a contemplar a Base Nacional Comum Curricular (BNCC) e os conteúdos foram divididos por áreas do conhecimento, assim como acontece no Exame Nacional do Ensino Médio (Enem). A nova grade inclui ainda o chamado “Projeto de Vida”, para ajudar os jovens na busca de seu caminho pessoal e profissional no futuro.

A transição para o novo modelo acontece por etapas, começando com as turmas do primeiro ano em 2022 e chegando às demais séries, de forma gradual, até 2024. Contudo, alguns entraves e lacunas ainda precisam ser esclarecidos e definidos para que a nova matriz curricular beneficie os estudantes e melhore os sistemas de ensino, como comentam especialistas que participaram da live nesta quarta-feira, 16.

“O novo Ensino Médio traz uma proposta que muda a estrutura e isso vai mexer em algo fundamental que é a formação do professor. Esse é um dos grandes desafios que a gente tem, porque grande parte dos professores tem na Universidade um tipo de aula e eles reproduzem quando vão dar aula”, afirma Pedro de Moraes, superintendente pedagógico da Secretaria de Estado de Educação do Rio de Janeiro.

Para Marcelo Xavier, diretor de Ensino da Inspira Rede de Educadores, esse movimento é natural e inevitável. “Nós estamos mudando o Ensino Médio com professores que não foram preparados para o Novo Ensino Médio. Mas essa mudança só iria acontecer nessa sequência, pois se a gente tivesse que esperar o Ensino Superior mudar para depois mudar o Ensino Médio, isso não aconteceria. Essa pressão tinha que vir das bases, que são os alunos evadindo das escolas”, afirma.

Preparar os docentes para usar os recursos tecnológicos e fomentar as metodologias ativas também requer mudanças no preparo do docente. O gestor público sinaliza que uma das saídas encontradas para se adequar foi investir na qualificação continuada desses profissionais. “A secretaria tem investido muito em capacitação, quer dizer, em dar mais capacidade de outras habilidades e competências que a gente vem falando muito e que é um norte também do Novo Ensino Médio para sair do ensino mais conteudista”, diz.

Mesmo com a necessidade de reformas no ensino superior e adequação dos profissionais, a nova proposta teve boa aceitação entre os estudantes. Isso é o que mostra pesquisa do Sesi/Senai, realizada no ano passado com dois mil alunos desse segmento. Dos estudantes que estavam cursando o novo Ensino Médio 61% avaliaram como positivo o novo modelo e mais de 80% de todos os entrevistados disseram que as mudanças fortalecerão o protagonismo dos alunos e elevarão a qualidade da educação no país.

A flexibilidade do currículo e a proposta de combinação de conhecimentos acadêmicos que provoquem nos alunos a curiosidade é comemorada pelos participantes da Live. “A gente acredita muito que o percurso precisa ser significativo e que precisa ser prazeroso. Aprender tem que ser um prazer, só assim a gente vai evoluir como nação mesmo, para formar gerações mais sabidas, mais interessadas e mais potentes”, afirma Diana Tatit, Head de Conteúdo da Camino Education.

“Alunos tem ansiedade em saber para o que serve aquelas ferramentas que eles estão aprendendo em aula. Essa proposta do novo ensino médio que desamarra um pouco esse currículo dá essa oportunidade ímpar [de dar sentido ao que é aprendido em sala de aula]. Com isso esperamos que os itinerários formativos não sejam apenas aulas mais aprofundadas de matemática, mas que sejam aulas que expliquem porque a gente aprende matemática”, declara Xavier.

“A gente observa que o aluno de forma geral gosta da escola, mas ele gosta da escola para o dia que tem a olimpíada esportiva, para quando tem o curso de teatro, para o dia que tem a feira de música, mas quando você coloca todo mundo dentro da sala de aula”, lembra Morais retomando a importância entre gerar um currículo atrativo que equilibre conteúdo com as atividades sociais importantes para a formação integral do estudante.

Enem

Principal porta de entrada para o Ensino Superior, o Enem — o Exame Nacional do Ensino Médio também passará por reforma curricular. Esta semana o Conselho Nacional de Educação aprovou parecer que define o novo formato da avaliação a partir de 2024, adequando-o ao novo Ensino Médio. Segundo o parecer, os candidatos farão uma prova de formação básica geral, alinhada ao conteúdo da BNCC, e uma segunda etapa para avaliar os itinerários formativos.

A ideia é que esta última fase esteja de acordo com o itinerário formativo que o estudante teve acesso no Ensino Médio e com a área do curso de Ensino Superior que ele almeja. Agora caberá ao Inep (Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais) construir as matrizes de referência das duas etapas da prova, para que as questões sejam elaboradas. O Ministério da Educação defende que parte das questões seja discursiva.

Sem definições claras de como a prova realmente será, os especialistas ainda estão temerosos sobre como estruturar os currículos para que os alunos alcancem bons resultados no exame. Para o gestor público o parecer venho a tempo de ajustes pontuais, mas reforça a importância em concluir o formato. “É importante que as redes planejem seus itinerários espelhando um pouco em como será na prova [do Enem], porque na legislação você tem um itinerário que pode ser colocado, mas quando vai para a prova do Enem, ele tem uma combinação de itinerários”, afirma Moraes.

“Então essa coerência entre o currículo e a avaliação e o que a gente faz nesse percurso, que é o ensino para poder garantir as aprendizagens, é onde a gente precisa chegar”, pontua Tatit. Ela, assim como os demais especialistas, defende a adoção de questões discursivas para que os estudantes exponham a combinação de conhecimentos adquiridos.

“Uma das definições de competência é exatamente isso, você ser capaz de aplicar o conhecimento num outro contexto. Então, você maneja esse conhecimento com tanta destreza que você consegue interligar com outras coisas. A resposta dissertativa abre esse espaço para que outras reflexões possam vir a partir daquela mesma pergunta”, diz a educadora.

Xavier alerta que a definição da proposta é crucial para que o exame não retroceda. “Evidente que o Enem tem que se posicionar o mais rápido possível e que toda a engrenagem fica esperando a resposta final para que a gente tenha aí esse horizonte. Mas dependendo dessa resposta pode ser que os itinerários formativos se transformem em aprofundamentos de matemática, de física, de química, de história e que a gente perca a verdadeira revolução”.

Impactos para o futuro

Para os educadores, o principal legado será a formação de seres humanos melhores e que vejam propósito na aprendizagem.

Pedro Moraes destaca que educação é preparar para a vida. “É importante que seja uma aprendizagem significativa para quem quiser fazer a prova [do Enem], ou seja, que ele seja uma esteira para prepará-lo para aquilo, mas que o novo ensino médio também prepare melhor para a vida. Porque é uma aprendizagem que a gente também observa que muitas vezes não traz uma aprendizagem significativa para a vida do estudante. A grande mudança de paradigma não é sair dos componentes curriculares e de dar mais possibilidade por área, é realmente fazer essa educação integral que a gente tanto fala, mas que não se concretiza”, discorre.

Diana Tatit concorda com o otimismo, mas numa visão mais realista acredita que será necessária uma mobilização conjunta de vários setores para a evolução do sistema educacional. “Não é uma mudança que promove uma transformação. Ela precisa vir acompanhada de uma série de outras medidas, políticas, formação, avanço, pesquisas acadêmicas. Acho que hoje a gente tem no brasil uma coisa muito apartada sobre o que hoje se produz de conhecimento na academia, com o que se constroem nas redes e o que os órgãos propõem.”

Já para Marcelo Xavier, o “Projeto de Vida” deve ser o grande norteador para os jovens construírem o novo papel de protagonistas. “Eu acredito que toda essa proposta do Novo Ensino Médio possa desaguar em pessoas mais qualificadas e não necessariamente em quesitos técnicos, mas como pessoas capazes em defender argumento, aceitar seus erros, capazes de corrigi-los, capazes de se posicionar diante da sociedade, disposto a falar e ouvir”, afirma.

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