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Líderes têm de ser sempre heróis? Seis dicas para deixar o seu time ativo

O líder deve estar atento aos sinais de sofrimento do liderado, mas sem se preocupar em ser o agente de cuidado

Melhores gestores são aqueles aptos a mudanças (LuckyBusiness/Thinkstock)
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Bússola

Publicado em 11 de julho de 2022 às 14h10.

Última atualização em 11 de julho de 2022 às 14h27.

Liderar pessoas nunca foi tão desafiador. Hoje, além de gerir as demandas, os cumprimentos de metas e as entregas, também é indispensável que o gestor cultive um ambiente mentalmente saudável, enquanto gerencia seus próprios desafios operacionais, mentais e emocionais. Tudo em um contexto no qual as relações e os acontecimentos pessoais, sociais e profissionais estão cada vez mais entrelaçados.

É por isso que as políticas de cuidados com a saúde e o bem-estar das pessoas têm passado por tantas transformações, principalmente nas organizações. Independentemente da origem de um sofrimento emocional, em geral, há impactos em diferentes áreas de sua vida, incluindo a satisfação, a produtividade e o engajamento no âmbito profissional. Não à toa, a saúde mental no ambiente de trabalho se tornou uma das três prioridades selecionadas pela Organização Mundial da Saúde em seu último relatório global sobre o tema.

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Em linhas gerais, essa nova realidade tem despertado nos empregadores a atenção para questões que eram pouco valorizadas. Se antes, por exemplo, o objetivo exclusivo eram metas e crescimento do negócio, hoje, entende-se que o ser humano é fundamental nas estratégias, por isso, faz parte dos objetivos laborais estimular o desenvolvimento e o cultivo das relações de trabalho e do bem-estar de quem integra o grupo. Isso, inclusive, em prol da atração e retenção de pessoas e também da queda de turnover (demissão-substituição) e de absenteísmo.

Líder não é agente de cuidado, mas tem um papel fundamental

Você, como líder, talvez esteja se perguntando como contribuir melhor com o time dentro desse cenário. Porém, antes de listar qualquer boa prática, acredito ser importante fazer um alerta: o líder deve estar atento aos sinais de sofrimento do liderado, mas sem se preocupar em ser o agente de cuidado. Dito isso, compartilho seis iniciativas para que possa contribuir com o bem-estar de seu time:

1. Escute com atenção

Esteja aberto e preparado para acolher, principalmente por meio da escuta ativa, que se caracteriza pela iniciativa de, com empatia e longe do julgamento, prestar total atenção à conversa, às necessidades do outro. É uma escuta que gera um vínculo genuíno. Tenha a tranquilidade de que nem sempre terá as respostas na hora e não deve se cobrar a mais por isso. Nesse momento, é fundamental ter o conhecimento da importância e da flexibilização possível na realidade e dos limites da empresa. Ao gestor não é possível tudo e o seu liderado precisa saber disso.

2. Crie um canal de comunicação

Como disse o psicanalista francês Jacques Lacan, “você pode saber o que disse mas nunca o que o outro escutou”. Então, estabeleça um canal de comunicação com o time e deixe ele aberto. Isso é importante porque os modelos operacionais das organizações não são estáticos — tudo está em desenvolvimento. É preciso investir na qualidade da comunicação para agregar fluidez aos processos e às transformações. E quando falamos de sofrimento emocional no ambiente de trabalho, uma das boas práticas é que as pessoas saibam quando e onde podem encontrar ajuda profissional, sendo que o líder pode ser a ponte para isso também.

3. Cultive um ambiente de bem-estar

Aqui refiro-me ao cuidado de gerenciar cargas de trabalho, alinhar expectativas de entregas e horários, estimular o autocuidado e inspirar o autogerenciamento, além de — pelo exemplo — combater hábitos nocivos, como longas jornadas de trabalho ou negligenciar períodos de descanso.

4. Estimule a colaboração

A rede construída no ambiente de trabalho também tem seu papel de prevenção em saúde mental. Junto aos canais de comunicação abertos com o seu time, essa rede se fortalece a partir do estímulo e apoio do líder. Isso facilita não somente a identificação de sinais de sofrimento emocional, mas também a procura por ajuda.

5. Seja honesto e confiável

Cuide para que as conversas com os liderados, principalmente as relacionadas a questões particulares dessas pessoas, não sejam permeadas por ironias, brincadeiras ou indiretas. Para questões mais delicadas, crie um espaço íntimo, leve e encorajador. Respeite o direito do outro de tomar suas próprias decisões, evite julgamentos e oriente. Mas não se prive de orientá-lo — sempre com respeito ao desejo do liderado — sobre as vias de cuidado, ou seja, ao serviço de saúde, quando julgar necessário.

6. Compartilhe a responsabilidade

Lembre-se que a responsabilidade sobre a saúde mental é compartilhada entre o indivíduo, a liderança, a organização e a sociedade. Nesse cenário, todos são convidados a se comprometer com iniciativas ou ajustes em prol de uma solução harmônica, pois um aspecto pode influenciar o outro tanto positiva quanto negativamente.

De nada valerão estas dicas se o líder não estiver atento ao próprio autocuidado. Olhar para si e reconhecer sua própria vulnerabilidade ao admitir que é uma pessoa como todas as outras, sujeita a sofrer e ser impactada pelos diversos fatores que influenciam a saúde mental é também poder servir de exemplo aos liderados. Por isso, procure prevenir, na medida do possível, estresse e sobrecarga, buscando um equilíbrio entre vida profissional e pessoal. Ao perceber em si sinais de sofrimento emocional, também procure ajuda.

Se parar para observar, verá que, hoje, dentro de uma empresa, muito gira em torno da relação das pessoas com elas mesmas, com o outro e com o mundo. Bons gestores são aqueles que, além das habilidades técnicas e comportamentais demandadas pelo cargo, entendem as peculiaridades dessa dinâmica e se dispõem a melhorá-la. Ele não é o herói, mas com certeza deve se posicionar como o grande defensor do time.

* Erica Siu é CEO da Caliandra, consultoria de cuidados com a saúde mental no trabalho

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